Roberto Rillo Bíscaro
À medida que as gerações que cresceram sob a influência
maciça da “cultura de massa” adentram os programas de pós-graduação das universidades,
aumentam os trabalhos sobre séries de TV, quadrinhos, rock e outras popices.
Foi-se o tempo que tais obras eram consideradas “alienadas”,
afinal, podem fazer parte da indústria cultural, mas se desenvolvem em
ambientes sociais, nos quais esses discursos têm de fazer sentido e refletir a
situação social. Esse é o mote da dissertação Rock Progressivo e Punk Rock: uma análise sociológica da mudança na
vanguarda estética do campo do rock, defendida em 2011, por Vinícius
Delangelo Martins Gatto, na Universidade Federal de Brasília.
Usando ferramentas teóricas do materialismo cultural
como Escola de Frankfurt, Fredric Jameson, Raymond Williams e Pierre Bordieu, o
autor entende música como parte semiautônoma das relações sociais de poder,
sendo assim o prog e o punk estão representando alguma coisa.
O rock cria grupos identitários jovens, que, por
estarem de certo modo alijados do mundo adulto e da produção - devido a um
desenvolvimento histórico – podem contestá-lo. Talvez prog e punk sejam formas
distintas de rebeldia e questionamento do mundo da produção, porque suas
condições de possibilidade foram distintas.
O rock representa e cria grupos identitários, mas
nasceu dependente da estrutura de divulgação e produção do capitalismo, quando
a diversão passou a ser mais valorizada e mercantilizada. Então, há contradição
entre uma sociedade Modernista, fordista que prioriza o trabalho para a produção
(inclusive de discos) e da liberação dos desejos para que o indivíduo consuma. Desse
modo, o rock pode ser entendido como resolução simbólica dessa contradição,
porque permite uma “loucura controlada”, ao mesmo tempo que estimula consumo de
certos produtos e serviços.
Gatto usa a controversa dicotomia Modernismo x Pós
Modernismo para contrapor os dois estilos musicais. Encaixa o rock progressivo no
primeiro, quando ainda se cria numa grande narrativa coerente e deslumbrada com
a afluência do capitalismo pós-guerra e a tecnologia. O prog nasceu em período
abastado do capitalismo, nos otimistas anos 60, quando se acreditava em
revolução, num futuro melhor. É o rock refletindo as contradições do
Modernismo, porque se quer arte séria “autônoma”, mas está dependente dos meios
massificados de produção, divulgação e recepção como qualquer músico. Na
tentativa de esnobar tal massificação, muitas bandas voltam-se
para um passado medieval idealizado ou refugiam-se em paisagens
de ficção-científica, projetando um futuro utópico ou não, mas pelo menos
futuro, diferentemente do No Future
cínico dos punks. Esse seria fruto do fragmentado Pós Modernismo, descrente de
grandes narrativas coerentes e desencantado com a derrocada econômica dos 70’s,
mas também insistente nas múltiplas identidades, daí a incrível pulverização em
sub-sub-gêneros ocorrida depois que o punk se tornou hegemônico e logo cooptado
pela indústria cultural.
Você pode baixar a dissertação a partir do link:
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