sexta-feira, 18 de março de 2016

PAPIRO VIRTUAL 104 (ALBINO)

Elric de Melniboné - A Traição ao Imperador - Livro 1
Roberto Rillo Bíscaro

Há poucos dias, um amigo enviou-me link, dizendo que me atentasse ao último parágrafo do texto, do qual gostaria. Tratava-se de alguém discorrendo sobre o inglês Michael Moorcock. No final, a parte geradora desta postagem: mencionava-se uma série de novelas, romances e contos protagonizados por um príncipe albino feiticeiro, Elric.
Desconhecedor da existência do autor ainda vivo de literatura fantástica, pesquisei por alguns minutos e decidi ver qual é a desse Elric, afinal, vivemos nos queixando da raridade de protagonistas albinos; quando aparece um em uma saga, melhor dar uma sacada. Li Elric of Melniboné (1972), no Brasil lançado em 2015, pela editora Generale, sob o título Elric de Melniboné – A Traição ao Imperador, V.1. De se ler em uma sentada praticamente, a novela apresenta um mundo onde reinos fantásticos começam a entrar em decadência devido à ascensão dos Reinos Jovens, a saber, os humanos. Tendo como inspiração uma Idade Média fantasiada, Elric of Melniboné tem realmente jeitão de livro e não de roteiro, como Game of Thrones, que certamente se inspirou em Moorcock.
Elric é o imperador que vive filosofando e por ter lido demais não se encaixa nos costumes da decadente, mas ainda respeitável Melniboné. Orgulhosos e cruéis, os melnibonenses não se intimidam em satisfazer seus desejos, especialmente os mais violentos. Se a narrativa assegura que se vive a ascensão dos humanos e Freud diz que a civilização foi construída sobre a repressão dos desejos, leitura psicanalítica assegurada! Foi a falta até mesmo dessa pseudo-profundidade que me repeliu do paparicado Game of Thrones.
A indecisão e “bondade” do imperador Elric acarretam-lhe problemas, porque seu primo cobiça o trono e arma um golpe, que além de tudo almeja terminar na cama da própria irmã. Elric parte pra aventura em terras misteriosas na tentativa de virar o jogo a seu favor. Com alguma filosofice, a narrativa nunca se torna chata, porque Moorcock tem algumas ideias brilhantes, como o espelho aprisionador de milhares de memórias que, quando partido, causa um tsunami delas, que terá consequências avassaladoras. Grande cena. Não que não haja mal feitos: de onde, como e porque a Princesa Cymoril reaparece do nada, após meses raptada? Sem contar que se seu sequestrador queria comê-la, por que não o fez com tão farta oportunidade que teve?
O albinismo do imperador Elric é usado como mais um elemento pra marcar sua fraqueza e alheamento em relação aos demais. Sua brancura e olhos vermelhos – que em nada afetam seu desempenho lutando ou caminhando por terras distantes, cadê o protetor solar, meu filho? – fazem-no ser confundido com demônios. Mas, no atacado é bom ter uma personagem tão famosa descrita como albina. 
Cheio de escaramuças e feitiços e com um forte sentido de luta entre o Caos e a Ordem, Destino e Vontade, Elric of Melniboné é prazerosa leitura sobre um herói nada apolíneo e que, pertencente a uma raça decadente, está fadado à destruição. 

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