Roberto Rillo Bíscaro
Há poucos dias, um amigo enviou-me link, dizendo que me
atentasse ao último parágrafo do texto, do qual gostaria. Tratava-se de alguém
discorrendo sobre o inglês Michael Moorcock. No final, a parte geradora desta
postagem: mencionava-se uma série de novelas, romances e contos protagonizados
por um príncipe albino feiticeiro, Elric.
Desconhecedor da existência do autor ainda vivo de
literatura fantástica, pesquisei por alguns minutos e decidi ver qual é a desse
Elric, afinal, vivemos nos queixando da raridade de protagonistas albinos;
quando aparece um em uma saga, melhor dar uma sacada. Li Elric of Melniboné
(1972), no Brasil lançado em 2015, pela editora Generale, sob o título Elric de
Melniboné – A Traição ao Imperador, V.1. De se ler em uma sentada praticamente,
a novela apresenta um mundo onde reinos fantásticos começam a entrar em
decadência devido à ascensão dos Reinos Jovens, a saber, os humanos. Tendo como
inspiração uma Idade Média fantasiada, Elric of Melniboné tem realmente jeitão
de livro e não de roteiro, como Game of Thrones, que certamente se inspirou em
Moorcock.
Elric é o imperador que vive filosofando e por ter lido
demais não se encaixa nos costumes da decadente, mas ainda respeitável
Melniboné. Orgulhosos e cruéis, os melnibonenses não se intimidam em satisfazer
seus desejos, especialmente os mais violentos. Se a narrativa assegura que se
vive a ascensão dos humanos e Freud diz que a civilização foi construída sobre
a repressão dos desejos, leitura psicanalítica assegurada! Foi a falta até
mesmo dessa pseudo-profundidade que me repeliu do paparicado Game of Thrones.
A indecisão e “bondade” do imperador Elric acarretam-lhe
problemas, porque seu primo cobiça o trono e arma um golpe, que além de tudo
almeja terminar na cama da própria irmã. Elric parte pra aventura em terras
misteriosas na tentativa de virar o jogo a seu favor. Com alguma filosofice, a
narrativa nunca se torna chata, porque Moorcock tem algumas ideias brilhantes,
como o espelho aprisionador de milhares de memórias que, quando partido, causa
um tsunami delas, que terá consequências avassaladoras. Grande cena. Não que
não haja mal feitos: de onde, como e porque a Princesa Cymoril reaparece do
nada, após meses raptada? Sem contar que se seu sequestrador queria comê-la,
por que não o fez com tão farta oportunidade que teve?
O albinismo do imperador Elric é usado como mais um
elemento pra marcar sua fraqueza e alheamento em relação aos demais. Sua
brancura e olhos vermelhos – que em nada afetam seu desempenho lutando ou
caminhando por terras distantes, cadê o protetor solar, meu filho? – fazem-no
ser confundido com demônios. Mas, no atacado é bom ter uma personagem tão
famosa descrita como albina.
Cheio de escaramuças e feitiços e com um forte sentido de
luta entre o Caos e a Ordem, Destino e Vontade, Elric of Melniboné é prazerosa
leitura sobre um herói nada apolíneo e que, pertencente a uma raça decadente,
está fadado à destruição.
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