terça-feira, 22 de março de 2016

TELINHA QUENTE 204

Roberto Rillo Bíscaro

As 2 curtas temporadas iniciais do Celtic Noir Shetland foram baseadas nos livros de Ann Cleeves. Pra terceira, a BBC escocesa anunciara alterações: as personagens são inspiradas nos livros policiais da escritora, mas seria uma trama original de 6 capítulos. Segundo o ator Douglas Henshall, Cleeves abençoou a utilização de suas criações em história escrita por outrem, durante as leituras dramáticas pelo elenco. Sábia Ann, porque a meia dúzia de episódios, que terminaram dia 4 de março, foi a melhor até agora.
Uma mocinha presencia altercação entre um senhor barbudo e um jovem na balsa que cruza da Escócia pra Lerwick, principal porto das Ilhas Shetland (tô virando experto!). Logo depois, os 2 jovens começam a flertar e beber juntos. Na manhã seguinte, ela não o encontra pra desembarcar e começa a procura por Robbie Morton. Na mesma manhã, um garotinho brincando na praia encontra o que parecem ser gominhas coloridas. Ele as come e vai parar na UTI com o fígado (ou seria rim?) detonado, porque as bolotinhas eram Ecstasy turbinado com qualquer outra porcaria veneno-alucinógena. O senhor que brigara com Robbie está na ilha e é muito misterioso e hostil, qual será a dele? E essa mocinha não tá interessada demais pelo que aconteceu com um cara que afinal nem conhecia? Esse é apenas o começo duma história que levará o Detetive-Inspetor Jimmy Perez e sua reduzida equipe a percorrer as lindas paisagens soturnas, frias e úmidas das Shetland, mas também da escocesa Glasgow.
DI Perez não tem os dilacerantes problemas pessoais e de saúde como o DI Tom Mathias, de Hinterland ou a Síndrome de Asperger como Saga Norén ou mesmo as alucinações de DI River, mas como bom policial noir tem cara e jeito de falar de quem precisava ter Rivotril na caixa d’água; amo demais. Douglas Henshall é irretocável no papel; todo mundo está ótimo. Ele tem mais motivo pra depressão porque a filhota saiu pra faculdade. Pros brasileiros, fica a efeméride de uma personagem tupiniquim que aparece por uns 2 minutos. Edson Arantes, não, não é do Nascimento, é Carvalho diz que nossa economia está bombando, mais até do que a escocesa. A maior falha do roteiro.
Mais Nordic Noir que nunca, essa terceira temporada tem reviravolta final duma simplicidade pragmática formidável e durante os 6 episódios, embora quietos e de pouca ação, sentem-se tensão e perigo no ar. Nada que ver com Morse Meets Norse como brincou resenhista inglês. Nesses shows britânicos tipo whodunnit “clássico” inexiste essa fricção depressiva que torna o Nordic ou Celtic Noir tão fascinantes. Em Inspector Morse & Cia, a ênfase está no cérebro idealizadamente privilegiado dum comissário; em Shetland há um conjunto de fatores - trilha sonora, céus cinzentos, personagens que não sorriem e estão embrulhados pelo frio – que hipnotizam e nos levam pra dentro daquele clima casmurro.   
A BBC ainda não se pronunciou sobre possível 4ª temporada, embora a audiência tenha sido boa. Tomara que role, porque Shetland já está na minha lista de melhores do ano.

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