Roberto Rillo Bíscaro
As 2 curtas temporadas iniciais do Celtic Noir Shetland
foram baseadas nos livros de Ann Cleeves. Pra terceira, a BBC escocesa
anunciara alterações: as personagens são inspiradas nos livros policiais da
escritora, mas seria uma trama original de 6 capítulos. Segundo o ator Douglas
Henshall, Cleeves abençoou a utilização de suas criações em história escrita
por outrem, durante as leituras dramáticas pelo elenco. Sábia Ann, porque a
meia dúzia de episódios, que terminaram dia 4 de março, foi a melhor até agora.
Uma mocinha presencia altercação entre um senhor barbudo
e um jovem na balsa que cruza da Escócia pra Lerwick, principal porto das Ilhas
Shetland (tô virando experto!). Logo depois, os 2 jovens começam a flertar e
beber juntos. Na manhã seguinte, ela não o encontra pra desembarcar e começa a
procura por Robbie Morton. Na mesma manhã, um garotinho brincando na praia
encontra o que parecem ser gominhas coloridas. Ele as come e vai parar na UTI
com o fígado (ou seria rim?) detonado, porque as bolotinhas eram Ecstasy
turbinado com qualquer outra porcaria veneno-alucinógena. O senhor que brigara
com Robbie está na ilha e é muito misterioso e hostil, qual será a dele? E essa
mocinha não tá interessada demais pelo que aconteceu com um cara que afinal nem
conhecia? Esse é apenas o começo duma história que levará o Detetive-Inspetor
Jimmy Perez e sua reduzida equipe a percorrer as lindas paisagens soturnas,
frias e úmidas das Shetland, mas também da escocesa Glasgow.
DI Perez não tem os dilacerantes problemas pessoais e de
saúde como o DI Tom Mathias, de Hinterland ou a Síndrome de Asperger como Saga Norén ou mesmo as alucinações de DI River, mas como bom policial noir tem cara e jeito de falar de quem
precisava ter Rivotril na caixa d’água; amo demais. Douglas Henshall é
irretocável no papel; todo mundo está ótimo. Ele tem mais motivo pra depressão
porque a filhota saiu pra faculdade. Pros brasileiros, fica a efeméride de uma
personagem tupiniquim que aparece por uns 2 minutos. Edson Arantes, não, não é
do Nascimento, é Carvalho diz que nossa economia está bombando, mais até do que
a escocesa. A maior falha do roteiro.
Mais Nordic Noir que nunca, essa terceira temporada tem
reviravolta final duma simplicidade pragmática formidável e durante os 6
episódios, embora quietos e de pouca ação, sentem-se tensão e perigo no ar.
Nada que ver com Morse Meets Norse como brincou resenhista inglês. Nesses shows
britânicos tipo whodunnit “clássico” inexiste essa fricção depressiva que torna
o Nordic ou Celtic Noir tão fascinantes. Em Inspector Morse & Cia, a ênfase está no
cérebro idealizadamente privilegiado dum comissário; em Shetland há um conjunto
de fatores - trilha sonora, céus cinzentos, personagens que não sorriem e estão
embrulhados pelo frio – que hipnotizam e nos levam pra dentro daquele clima
casmurro.
A BBC ainda não se
pronunciou sobre possível 4ª temporada, embora a audiência tenha sido boa.
Tomara que role, porque Shetland já está na minha lista de melhores do ano.
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