Roberto Rillo Bíscaro
A produtora Asylum é notória pelas produções baratas e de
baixa qualidade que se tornam cult
instantâneos. Uma das táticas é aproveitar algum tema da moda cinéfila e
improvisar película lotada de truques de computação gráfica baratos e alguma
(sub-)celebridade de B pra baixo e faturar em cima da tendência. Por isso, seu
catálogo está cheio de filmes de zumbis, contos de fada e muita coisa de
animais monstruosos, preferentemente tubarões, aranhas, piranhas, crocodilos e
polvos. Esses filmes geralmente são lançados diretamente em DVD e/ou encontram
escoamento através do canal SyFy, paraíso trash.
Felizmente, o Hall of Shame parece não ter limites.
Imagine produtoras piores que a Asylum despejando tolice trás tolice no mercado,
especialmente no SyFy. Há várias nesse mundão globalizado e uma canadense
perpetrou Avalanche Sharks (2013), que, claro, passou no SyFy Channel! A ideia
de tubarões nadando ameaçadoramente na neve não é tão original assim, sinto
desapontar o caro leitor que não conhece Sand Sharks (2011), ode os peixões
aterrorizavam na areia.
O sucesso de Sharknado (clássico da Asylum; imperdível)
motivou essa tonteira, inicialmente pensada como Sharkalanche, que seria bem
mais legal.
Trata-se duma montanha amaldiçoada pelos espíritos de
deuses indígenas vingando-se do massacre dos americanos-nativos durante a
Corrida do Ouro. Essas divindades coincidentemente têm forma de tubarão e
durante o recesso escolar de primavera que os estudantes ianques têm, as feras
aprontam na montanha cheia de meninas de biquíni, porque, afinal, pouca roupa é
essencial numa região fria! Os peixes nadam em neve tão espessa que até eu
enxergava pedras e arbustos encrustados; sem contar que atacam até em banheiras
de hidromassagem – acho que nem era, porque não tinham grana pra isso, mas não
verei novamente pra confirmar – sem considerar que elas deveriam ter um piso. E
também sem se preocupar que as garotas nela aparecem do mesmo jeito em 2 dias
diferentes. Enfim, é pataquada do começo ao fim.
Enquanto a Asylum usava a B
Tara Reid em seu Sharknado, Avalanche Sharks (a avalanche dura 3 segundos...)
traz o poder estelar lá de baixo do alfabeto da modelo Kate Nauta, cujo ponto
alto na carreira até agora é papel secundário num filme de ação coescrito por
Luc Besson.
Avalanche Sharks não é original. Nem é o fundo do poço e
nem a produtora, pior que a Asylum, é a pior. Pasmem: em 2011, Snow Shark:
Ancient Snow Beast já aprofundara com louvor a fossa. Numa montanha,
remanescentes pré-históricos duma espécie de tubarão hibernam na neve rasa
demais até prum peixinho dourado, mas de vez em quando acordam pra lanchar os
habitantes locais e turistas (que jamais vemos, porque a produção é
paupérrima).
A impressão é de que um grupo de porre resolveu fazer um
filme, pais e amigos deram uma força, tudo foi gravado no celular e algum
amador usou software gratuito num
notebook defasado pra editar efeitos especiais. E nem sei se descrevo
apropriadamente a precariedade de tudo. Snow Shark faz Avalanche Sharks parecer
Spielberg merecedor de Emmy por efeitos especiais e direção.
Mambembice é charme em
produções trash; na verdade, um dos
quesitos que fazem delas trash e com que as amemos. Mas isso deve vir num
pacote embalado por humor, que é melhor quando involuntário. Snow Shark tem
quase tudo de que uma película necessita pra virar cult, exceto o humor. É tudo
muito desinteressante, daquele desinteresse de você usar o Whatsapp sem
interromper o filme.
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