Roberto Rillo Bíscaro
A luta por
respeito/igualdade/direitos dos grupos subalternos seria mais fácil com mais
coalizões, mas muitas vezes isso não ocorre devido à velha praga do
preconceito. Quantos movimentos sociais não esnoba(ra)m o movimento LGBT e
dentro desse, por sua vez, quantas queixas de preconceito por parte de
bissexuais, transgêneros e lésbicas? Contato entre grupos é uma das melhores
formas de promover alianças, afinal, pode-se perceber os pontos comuns de
opressão e também que o grupo X, afinal, não é tão ruim assim, “a gente é que
não os conhecia direito”.
Exemplo de ajuntamento de
pessoas que a princípio pareciam diametralmente opostas aconteceu na Inglaterra
nos 80’s, durante os anos de ferro da neoliberal Margaret Thatcher. Sua
sistemática destruição do estado de bem-estar social levou os mineiros de
carvão a gigantesca greve em 1984. Denominados de inimigos internos pelo
governo Tory, os grevistas passaram a receber doações pra que as famílias
pudessem ser alimentadas. E quem diria que um dos grupos que mais arrecadou
dinheiro foi o Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM), encabeçado pelo
irlandês radicado em Londres, Mark Ashton? Mas, se você consultar o longo
artigo da Wikipedia sobre o movimento, que tem até a lista de shows
beneficentes, não encontrará referência alguma ao LGSM ou ao show organizado
por eles, cuja atração principal foi o Bronski Beat. E vivemos em tempos
“inclusivos”, heim?
Essa colaboração entre
mineiros e ativistas LGBT – muito importante, inclusive, pra tornar a agenda do
Partido Trabalhista britânico mais progressista – foi eternizada no filme Pride
(2014), no Brasil lançado em DVD como Orgulho e Esperança. Com elenco afiado,
Pride é daqueles produtos motivacionais; nos emocionamos, rimos, aprendemos e
nos incentivamos a fazer algo, porque a “mensagem” é típica também: juntos
somos mais fortes e felizes e mesmo que a guerra seja perdida no atacado; no
varejo sempre se consegue algo de avanço. No caso, imagine um grupo de mineiros
desfilando com os gays na Parada do Orgulho gay londrina de 1985.
Pride mostra com humor e
emoção o primeiro contato entre os gays visitantes de Londres - veganos com
cabelos espetados (Ashton era filiado ao Partido Comunista, mas o roteiro
preferiu esquecer isso) – e os ressabiados mineiros; a dança lacrante dum
ativista com uma esposa de mineiro, os preconceitos velados ou não dum grupo
pra com o outro; a indignação dalguns gays com o envio de grana pra mineiros,
quando a AIDS fazia estrago entre eles, também “inimigos internos”; tudo com
sabedoria narrativa. Sabemos que o objetivo do filme é transmitir uma “moral”,
mas o roteiro jamais esquece que estamos nos entretendo, não frequentando aula
de catecismo ou História. A trilha sonora reproduz o tema da coexistência
pacífica entre diferentes: tem Phil Collins, Smiths, Dead or Alive.
Ao final, letreiros explicam
destinos pessoais e desdobramentos da então inusitada aliança. Um deles foi a
citada entrada de temas LGBT pra agenda Labour. Mas também há que destacar que
a executiva nacional do partido foi contra na época. Tem gente que não aprende
mesmo!
Ao invés de ilustrar a
postagem com o trailer, preferi o documentário All Out! Dancing in Dulais,
feito pelo próprio LGSM em 1986. Foi muito lindo ver as personagens reais da
história e perceber como os produtores se esforçaram até no sentido de colocar
atores parecidos nas telonas.
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