quinta-feira, 10 de março de 2016

TELONA QUENTE 149


Roberto Rillo Bíscaro

A luta por respeito/igualdade/direitos dos grupos subalternos seria mais fácil com mais coalizões, mas muitas vezes isso não ocorre devido à velha praga do preconceito. Quantos movimentos sociais não esnoba(ra)m o movimento LGBT e dentro desse, por sua vez, quantas queixas de preconceito por parte de bissexuais, transgêneros e lésbicas? Contato entre grupos é uma das melhores formas de promover alianças, afinal, pode-se perceber os pontos comuns de opressão e também que o grupo X, afinal, não é tão ruim assim, “a gente é que não os conhecia direito”.
Exemplo de ajuntamento de pessoas que a princípio pareciam diametralmente opostas aconteceu na Inglaterra nos 80’s, durante os anos de ferro da neoliberal Margaret Thatcher. Sua sistemática destruição do estado de bem-estar social levou os mineiros de carvão a gigantesca greve em 1984. Denominados de inimigos internos pelo governo Tory, os grevistas passaram a receber doações pra que as famílias pudessem ser alimentadas. E quem diria que um dos grupos que mais arrecadou dinheiro foi o Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM), encabeçado pelo irlandês radicado em Londres, Mark Ashton? Mas, se você consultar o longo artigo da Wikipedia sobre o movimento, que tem até a lista de shows beneficentes, não encontrará referência alguma ao LGSM ou ao show organizado por eles, cuja atração principal foi o Bronski Beat. E vivemos em tempos “inclusivos”, heim?
Essa colaboração entre mineiros e ativistas LGBT – muito importante, inclusive, pra tornar a agenda do Partido Trabalhista britânico mais progressista – foi eternizada no filme Pride (2014), no Brasil lançado em DVD como Orgulho e Esperança. Com elenco afiado, Pride é daqueles produtos motivacionais; nos emocionamos, rimos, aprendemos e nos incentivamos a fazer algo, porque a “mensagem” é típica também: juntos somos mais fortes e felizes e mesmo que a guerra seja perdida no atacado; no varejo sempre se consegue algo de avanço. No caso, imagine um grupo de mineiros desfilando com os gays na Parada do Orgulho gay londrina de 1985.
Pride mostra com humor e emoção o primeiro contato entre os gays visitantes de Londres - veganos com cabelos espetados (Ashton era filiado ao Partido Comunista, mas o roteiro preferiu esquecer isso) – e os ressabiados mineiros; a dança lacrante dum ativista com uma esposa de mineiro, os preconceitos velados ou não dum grupo pra com o outro; a indignação dalguns gays com o envio de grana pra mineiros, quando a AIDS fazia estrago entre eles, também “inimigos internos”; tudo com sabedoria narrativa. Sabemos que o objetivo do filme é transmitir uma “moral”, mas o roteiro jamais esquece que estamos nos entretendo, não frequentando aula de catecismo ou História. A trilha sonora reproduz o tema da coexistência pacífica entre diferentes: tem Phil Collins, Smiths, Dead or Alive.
Ao final, letreiros explicam destinos pessoais e desdobramentos da então inusitada aliança. Um deles foi a citada entrada de temas LGBT pra agenda Labour. Mas também há que destacar que a executiva nacional do partido foi contra na época. Tem gente que não aprende mesmo!
Ao invés de ilustrar a postagem com o trailer, preferi o documentário All Out! Dancing in Dulais, feito pelo próprio LGSM em 1986. Foi muito lindo ver as personagens reais da história e perceber como os produtores se esforçaram até no sentido de colocar atores parecidos nas telonas.

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