quinta-feira, 17 de março de 2016

TELONA QUENTE 150

Roberto Rillo Bíscaro

Parte do planeta aguarda ansiosamente o confronto entre Batman e Super-Homem, dia 24 deste mês. Por minha iniciativa e gosto, não farei esforço pra ver, porque produções contemporâneas de super-heróis não me interessam. Mas, pra não dizer que não fui parte positiva do zeitgeist, vi os 15 capítulos do serial Batman (1943), primeira aparição do Homem-Morcego fora dos quadrinhos. Mesmo que tenha definido um par de coisas na mitologia do herói e sirva como documento de como a indústria cultural pode ser explicitamente política, boa parte da produção é meio morna.
A Segunda Guerra rugia e Alemanha e Japão eram inimigos mortais do Tio Sam. Então, a primeira aparição de Batman em telas é pra lutar contra o Dr. Daka, espião-cientista nipônico infiltrado nos EUA, que transformava inocentes em zumbis e queria desenvolver um raio desintegrador. Os 15 capítulos consistem no vilão e seus asseclas achando que mataram Batman, mas percebendo no capítulo seguinte que falharam.
Detalhes da trama são tão desnecessários que a narração do começo de cada capítulo apenas comenta o sucedido no imediatamente anterior. Como isso era exibido em cinemas e sujeito às vezes não via todos os episódios ou não prestava atenção aos que via; o que importa mesmo é o panorama: há um malvado, há um bonzinho e há socos e pontapés até que o bombom vença o maumau.
O que interessava mesmo, além de manter a plateia entretida/entorpecida, era provar que os japas eram monstros selvagens, que montavam armadilhas com crocodilos comedores de gente norte-americana. E é claro que se você quer dar alguém de comer aos animais, tem que ser dentro de um caixote, afinal, facilitar pra quê? Uma das diversões de ver serial é pegar os absurdos e descontinuidades.
Termos racistas e generalizações contra todos os orientais abundam, desde o formato dos olhos, até o tom da pele. Nada fica implícito, Daka está literalmente a serviço do imperador Hiroito e é interpretado por ator ocidental, de modo efeminadamente afetado. Estudiosos de representação gay nas telonas e linhas, atentai-vos!
A pobreza orçamentária faz com que o cinto de utilidades esteja no uniforme, mas não seja usado. Batman e Robin quase não têm equipamentos. São basicamente dois caras com roupas esquisitas correndo e dando socos. Sequer possuem Batmóvel. Aliás, quer maneira mais eficaz de preservar identidade secreta se o mordomo de Bruce Wayne dirige o carrão tanto pro milionário playboy quanto pros heróis mascarados? Por falar em Alfred, o visual de senhor magro com sotaque anglicizado de bigodes foi definido nesse serial.
Tem um monte de blábláblá que não interessa, mas como resistir ao charme vintage dessas produções de antanho? Quem sabe, se vivo estiver daqui a uns 30 anos eu não veja a contenda Batman x Superman...

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