Roberto Rillo Bíscaro
Parte do planeta aguarda ansiosamente o confronto entre
Batman e Super-Homem, dia 24 deste mês. Por minha iniciativa e gosto, não farei
esforço pra ver, porque produções contemporâneas de super-heróis não me
interessam. Mas, pra não dizer que não fui parte positiva do zeitgeist, vi os 15 capítulos do serial
Batman (1943), primeira aparição do Homem-Morcego fora dos quadrinhos. Mesmo
que tenha definido um par de coisas na mitologia do herói e sirva como
documento de como a indústria cultural pode ser explicitamente política, boa
parte da produção é meio morna.
A Segunda Guerra rugia e Alemanha e Japão eram inimigos
mortais do Tio Sam. Então, a primeira aparição de Batman em telas é pra lutar
contra o Dr. Daka, espião-cientista nipônico infiltrado nos EUA, que transformava
inocentes em zumbis e queria desenvolver um raio desintegrador. Os 15 capítulos
consistem no vilão e seus asseclas achando que mataram Batman, mas percebendo
no capítulo seguinte que falharam.
Detalhes da trama são tão desnecessários que a narração
do começo de cada capítulo apenas comenta o sucedido no imediatamente anterior.
Como isso era exibido em cinemas e sujeito às vezes não via todos os episódios
ou não prestava atenção aos que via; o que importa mesmo é o panorama: há um
malvado, há um bonzinho e há socos e pontapés até que o bombom vença o maumau.
O que interessava mesmo, além de manter a plateia
entretida/entorpecida, era provar que os japas eram monstros selvagens, que
montavam armadilhas com crocodilos comedores de gente norte-americana. E é
claro que se você quer dar alguém de comer aos animais, tem que ser dentro de
um caixote, afinal, facilitar pra quê? Uma das diversões de ver serial é pegar
os absurdos e descontinuidades.
Termos racistas e generalizações contra todos os
orientais abundam, desde o formato dos olhos, até o tom da pele. Nada fica
implícito, Daka está literalmente a serviço do imperador Hiroito e é
interpretado por ator ocidental, de modo efeminadamente afetado. Estudiosos de
representação gay nas telonas e
linhas, atentai-vos!
A pobreza orçamentária faz com que o cinto de utilidades
esteja no uniforme, mas não seja usado. Batman e Robin quase não têm
equipamentos. São basicamente dois caras com roupas esquisitas correndo e dando
socos. Sequer possuem Batmóvel. Aliás, quer maneira mais eficaz de preservar
identidade secreta se o mordomo de Bruce Wayne dirige o carrão tanto pro
milionário playboy quanto pros heróis
mascarados? Por falar em Alfred, o visual de senhor magro com sotaque
anglicizado de bigodes foi definido nesse serial.
Tem um monte de blábláblá que não interessa, mas como
resistir ao charme vintage dessas
produções de antanho? Quem sabe, se vivo estiver daqui a uns 30 anos eu não
veja a contenda Batman x Superman...
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