sábado, 30 de abril de 2016
quinta-feira, 28 de abril de 2016
DEZENA
Malawi: 10 pessoas acusadas de matar mulher albina encontram-se detidas
Dez malawianos encontram-se detidos depois que foram acusados de ter assassinado, sábado passado, uma senhora albina de 21 anos, afirmaram fontes da policia local citadas pela AFP. A acusação aparece no momento em uma delegação da ONU se encontra a investigar sobre o tratamento de albinos nesse mesmo país.
"Eles levaram a mulher para uma fazenda e mataram-na. Em seguida retiraram oito ossos, colocaram o corpo num saco e queimaram os restos mortais da senhora", disse à AFP o porta-voz da polícia, Kondwani Kandiado.
Em vários países da África sub-sahariana, os membros e os ossos de albinos são usados em rituais que presumem angariar riqueza e poder. Pelo menos oito albinos foram mortos no Malawi nos últimos dois anos.
TELONA QUENTE 156
Roberto Rillo Bíscaro
O demônio adora possuir corpos que os machos adultos
brancos precisam “civilizar” ou que potencialmente põem em xeque a ordem
patriarcal. Crianças são bons receptáculos pro diabo ou pro Mal. Seu não
pertencimento ao controlado mundo adulto sempre carrega a possibilidade de
rebeldia. Desde o Bebê de Rosemary (1969) e durante os 70’s, a demodécada, o
Tinhoso [ou o Mal] possuiu infantes.
Algumas dessas produções realizaram o raro feito de
transcender o sucesso entre os aficionados do subgênero e bombar nas bilheterias.
Em 1973, um dia após a comemoração do nascimento de Jesus, O Exorcista estreou,
ganhou sanções de ligas católicas de decência, que fizeram a fita explodir na
bilheteria, gerou carradas de genéricos – dentre eles a franquia A Profecia,
sobre a qual escrevi na última seção – e definiu muitas das convenções dos
filmes de possessão demoníaca, usadas até hoje.
Lembro-me da histeria provocada pelo Exorcista, em 1974
e morria de vontade de ver, mas não podia, porque tinha apenas 7 anos e
estávamos longe da atual facilidade de adquirir filmes, séries e álbuns.
Esperei anos até vê-lo e gostei, mas não vi a franquia
toda. Como as postagens sobre Amityville, A Hora do Pesadelo e A Profecia
bensucederam, (re)vi os 5 componentes da franquia The Exorcist e compartilho
minhas impressões.
Vi e não revi O Exorcista (1973), porque escolhi a
versão estendida do diretor, existente há mais de década, mas não captada por
meu desejo. 2h e 10m me pareceram exagero; muita cena desnecessária, porque
repetitivas; se algum dia vir de novo, será a versão “normal” mesmo. Regan,
filha pré-adolescente duma divorciada atriz de sucesso (que mora nos arredores
de Washington e não em Los Angeles?!) começa a apresentar comportamento
aberrante, como falar palavrão, fazer xixi no tapete e enfiar a cruz na vagina
até sangrar. Desenganada por médicos e psiquiatras, a mãe chama um padre, que
chama outro e o exorcismo começa, com muito latim, voz distorcida e maquiagem
copiada à exaustão, vide a da Morte do Demônio.
O Exorcista é lento pros padrões atuais, mas em sua
versão original merece ser visto, porque é importante na cronologia do cine de
horror e disfarça bem sua identidade secreta de explotiation film, mediante roteiro que suscita algumas discussões e
apresenta certa nuance. Botar menina de 12 anos tendo seu corpo vilipendiado
não apenas pelo capeta transformou Linda Blair em algo pedofilamente próximo a
símbolo sexual. Não olhem pra mim, não tinha sequer idade pra comprar ingresso;
culpem os adultos setentistas.
Como típico filme de possessão, o roteiro poderia ser
implodido facilmente. É o próprio Senhor das Trevas que diz ter possuído o
corpinho de Regan (na década seguinte, um demônio de verdade, chamado Reagan,
subiria ao trono). Pros planos de derrota da cristandade, possuir pré-adolescente
suburbana é geopoliticamente vital. Amarrado à cama, o demônio diz que não se
solta, porque seria demonstração vulgar de poder. Demônio devoto da humildade
cristã? E descer as escadas como se fosse aranha é demonstração madura de
poder, tiozão? Por se recusar a usar seu poder “vulgarmente”, ele sofre com
água benta aspergida sobre o corpo da menina. Demônio estoico esse!
Quando fazemos essas perguntas marotas à trama, dá pra
relaxar e rir um tiquinho. Dessa vez até me perguntei se Chucky não foi moldado
a partir da Linda Blair de maquiagem demoníaca.
Pra fãs de prog rock, O
Exorcista é importante, porque a trilha sonora fez de Mike Oldfield um dos
poucos proggers a obter sucesso de
massa.
Em 77, a reboque do sucesso do original e certamente
embalado pelo sucesso d’A Profecia veio o horrendo O Exorcista II: O Herege. Se
eu vira isso, meu cérebro tratou de apagar. A única coisa que se salva são
fragmentos da trilha sonora do sempre competente Enio Morricone; o resto é ruim
ou não faz sentido.
4 anos depois, Regan está numa clínica e uma médica
aparece com uma geringonça que faz hipnose dupla, mediante uso de luzes e som.
Mas também há um padre investigando o exorcismo feito no Exorcista I. Essas
personagens entram em contato do nada e mais do nada ainda começam a aparecer
sonhos, referências a gafanhotos e divindades africanas (tadinhos dos machos
adultos brancos; sempre em perigo por causa de mulheres, gays, gente de outras
etnias, ô dó!). Tudo vira uma espécie de filme de Ed Wood i.e. sem pé nem cabeça, que não é horror, nem suspense; é um monte
de substância fedida excretada de cor amarronzada.
No elenco, Richard Burton
péssimo de dar quase dó de pensar no estágio em que estava a carreira pra ter
aceito esse dejeto, digo, projeto.
Será que o fracasso artístico e de bilheteria d’O
Herege determinou que a franquia permanecesse enterrada por toda a década de
80? O Exorcista III (1990) foi dirigido por William Peter Blatty, autor do
livro originário do primeiro filme. A prestação III também é inspirada num
livro seu, mas houve alterações pra que a trama fosse mais conectada com o
famoso antecessor. Legal essa mistura de thriller
de serial killer com terror de
possessão demoníaca.
15 anos após o exorcismo de Regan e a morte de padre
Damien (A Profecia se inspirara aí?), assassinatos sugerem que o Assassino do
Zodíaco, figura que existiu de verdade, voltava a atacar e que talvez isso
tivesse a ver com o Tinhoso. Se for pra conquistar o mundo, o diabo precisa
fazer curso de empreendedorismo no Pronatec, porque usando alguém que se
encontra detrás das grades não vai rolar.
Apesar de estapafúrdia, a
trama prende a atenção, muito pela atuação do excelente George C. Scott, que
consegue falar algumas das linhas de diálogo mais estúpidas já ouvidas – sobre
carpas na banheira! – de modo convincente. O Exorcista III tem diversos pontos
de conexão com o primeiro; o detetive é o mesmo, embora interpretados por
atores distintos. Há pontos cegos também, como o policial afirmar que era
superamigo de Padre Damien, sendo que originalmente os 2 se conheceram apenas
no caso de Regan e seu contato foi brevíssimo. Mas, dá pra se divertir.
Uma vez que é o próprio Capeta que incorpora em Regan,
ficaria difícil uma prequel que
focasse nele, a não ser que se contasse a história da queda de Lúcifer. Como a
capacidade dos estúdios pra bolar histórias potencialmente lucrativas é
elevada, a ênfase dos antecedentes d’O Exorcista caiu sobre o Padre Merrin, que
no original entra em cena no meio do filme e foi interpretado pelo sueco Max
Von Sydow. Ponte de escandinavidade é construída com a igual suequice de
Stellan Skarsgard, contratado pra estrelar a prequel projetada pra meados da
primeira década deste milênio.
Só que quando os executivos viram O Exorcista: O Início
(2004) constataram que seria fiasco. Lançaram-no, mas deram dinheiro pra outra
produção, Domínio (2005), que conta a mesma história e mantém Skarsgard, única
coisa que presta dessas 2 chatices.
Com a fé perdida depois dos
horrores da 2ª Guerra, Padre Merrin larga a batina e vira arqueólogo (numa das
versões, usa até chapéu à Indiana Jones), vai pra África e lá participa dum
exorcismo depois que uma igreja impossivelmente antiga é desencavada e fatos
estranhos começam a ocorrer. À parte detalhes, ambas as películas posicionam a
África como fonte do mal, embora Domínio seja um pouco melhor, porque ousa
comparar o Império Britânico aos nazistas. O Início utiliza algum gore e Domínio pretende ser filosófico;
o resultado é idêntico: ambos foram vendidos como filmes de horror, mas não
assustam. Por mais cínicos que sejamos com O Exorcista, as cenas de Regan
possuída incomodam ainda hoje e a película virou referência. Essas 2 prequelas
não atingem a abissalidade boçal d’O Exorcista II, mas não empolgam.
quarta-feira, 27 de abril de 2016
NÚMEROS
Detidos 16 indiciados de assassinato de albinos na província de Zambézia
A Polícia da República de Moçambique deteve, em 2015, um total de 16 pessoas na província da Zambézia, em conexão com a perseguição e assassinato de pessoas com problemas de albinismo.
A detenção, segundo o comandante provincial da PRM, João Maunguele, resulta da denúncia feita às autoridades sobre a prática deste crime com mais incidência nos distritos de Ile, Milange e Alto Molócuè (Alta Zambézia).
Maunguele, que explicava os contornos da ação da corporação visando reprimir o crime, falava na terceira sessão ordinária da Assembleia Provincial, depois de os membros daquele órgão fiscal das atividades dos governos provinciais questionarem o trabalho da PRM visando travar a ameaça aos albinos.
A alta patente, citada pela Rádio Moçambique, disse ser preocupação do governo e da PRM combater todo o mal social que acontece e inquieta a sociedade e, desta feita, 16 pessoas estão a responder pelos crimes, mas os mandantes e as razões continuam a constituir o mote da investigação.
O ano transato é considerado, na província da Zambézia, um dos mais conturbados à corporação devido à incidência da caça aos albinos, assaltos à mão armada e outros crimes que se fizeram sentir naquela parcela do país.
CONTANDO A VIDA 146
ORIGEM DO NOME DA BONECA EMÍLIA DE MONTEIRO LOBATO.
José Carlos Sebe Bom Meihy
Eis que de repente me reponta uma pergunta perturbadora: de
onde teria surgido o nome Emília, dado à boneca de pano feita pela Tia
Anastácia? Sim, falo daquela “coisinha” que foi feita com trapos velhos, olhos
de botão, brinquedo da menina Lúcia, no Sítio do Pica-Pau-Amarelo. Em pesquisa
a respeito do tema, notei que tal preocupação não me é exclusiva e que consta
também de curiosidade já expressa em provocativo site que aponta para algumas outras boas informações (http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/443971).
De toda forma, sabe-se que essa questão é meramente especulativa, posto que em
muitos casos os nomes de personagens fictícios não correspondem às intenções pontuais,
previamente estabelecidas. Sei de ocorrências, inclusive, em que se nomeiam
personagens supondo efeitos sonoros, correspondências históricas, bíblicas,
mitológicas. Outros autores homenageiam familiares, amigos, personagens
ilustres e santos. Há também os que se vingam, delegando referências negativas
transparecidas em personagens maus, desafetos. No caso de Monteiro Lobato, algumas
sugestões desafiam entendimentos. Pensando em Emília, convém levar em conta sua
“genealogia espontânea”, considerando inclusive que originalmente ela foi
concebida como uma “bruxinha”, que aliás nasceu muda, sem graça, desconjuntada,
e que apenas começou a se expressar depois das famosas “pílulas falantes”,
criadas pelo Doutor Caramujo no Reino das Águas Claras. Esse caso, diga-se,
está registrado no livro A menina do
narizinho arrebitado, que, mais tarde, teve o título mudado para Reinações de Narizinho. Emília, depois
que começou a falar sem cessar – ela tagarelou por três horas seguidas, a ponto
de se pensar em fazê-la devolver a pílula ingerida – foi ganhando protagonismo,
a ponto de ser a figura central do Sítio.
Mas, quais alternativas teríamos então para entender o nome
daquela figura inquieta? A primeira que me ocorreu – sei de outras pessoas que
também sustentam tal possibilidade – foi derivada da evocação do mais prezado
livro do enciclopedista francês Jean Jacques Rousseau, escrito no século XVIII.
Significativamente intitulado Emílio, ou
da Educação, esse livro preside como um dos mais importantes libelos
redigidos sobre a necessidade da educação dos muito jovens. Nessa proposta narrada
como “romance de formação” é retraçada a trajetória de um menino educado,
modelo de condição civilizada. Rousseau, assim que se investiu do caráter
pedagógico como virtude, elegeu a “formação sistematizada” como mecanismo de
disciplina do ser humano, modo ideal de vivência em sociedade. É exatamente o
caráter educativo e a crença no livro como estratégia de neutralização entre as
pessoas e a sociedade, em particular no que tange à criança, que permite pensar
que a boneca Emília se espelharia em Emílio. Seria, é claro, uma figura
engraçada, suposta na linha de uma moderna pedagogia escolar. É lógico que cabe
distinguir as estripulias de Emília do comportamento assentado do Emílio rousseauniano.
De comum, no entanto, a noção pedagógica de aprender por meio de histórias.
Contra versões tão sofisticadas, não faltam aqueles que
preferem dizer que a designação Emília decorre do contato da boneca com seu
suposto biógrafo, o Visconde de Sabugosa que começou a escrever “As memórias de
Emília”. Lembremos que o fato dele ser uma espiga de milho poderia aproximar
Emília, de milho. Reforçando tal pressuposto, muitos advogam que ela possuía
cabelo parecido com os saídos das espigas, algo bem diverso das tiras de fitas
criadas recentemente por programas televisivos.
Na linhagem regional, existem alguns que defendem que Lobato
teria simpatias com Dona Ana Emília, representante de família ilustre de
Taubaté, os Oliveira Costa. Quantos fundamentam tal assertiva se apoiam
inclusive na existência de um sítio dessa família, nos arredores de Taubaté e
de lá teria advindo a inspiração, inclusive, para o Sítio do Pica-pau amarelo.
Sem dúvidas, sabe-se da profunda admiração que Lobato tinha
em relação ao educador baiano, Anísio Teixeira. Reza a lenda que a esposa do
importante personagem da educação brasileira, seria uma pessoa que falava
muito, alegre e sempre duvidando das coisas. Dona Emília, então, teria
inspirado Lobato que, assim, renderia homenagem a Anísio Teixeira. Alertando
que Lobato e Anísio Teixeira apenas teriam se conhecido nos Estados Unidos, a
pesquisadora Glaucia Bastos duvida desse vínculo.
terça-feira, 26 de abril de 2016
TELINHA QUENTE 209
Roberto Rillo Bíscaro
Em 1985, The Normal Heart (TNH), escrita por Larry Kramer,
foi a primeira peça sobre AIDS a alcançar a cobiçada Broadway. A despeito de
eclipsar os diversos trabalhos anteriores sobre o tema – a peça entrou pros
compêndios teatrais como “o primeiro AIDS-drama” – TNH teve o mérito de
poderosamente denunciar o descaso do governo norte-americano com relação à
epidemia que dizimou praticamente uma geração de gays e de registrar
ficcionalmente o surgimento da Gay Men’s Health Crisis, fruto da árdua batalha
do próprio Kramer, que mais tarde fundaria a influente ACT UP, organização
redefinidora do ativismo por suas ações criativas e audaciosas.
Em 2014, a HBO exibiu sua versão televisiva da peça,
roteirizada por Kramer, dirigida por Ryan Murphy (de American Horror Story e
Scream Queens) e coproduzida por Brad Pitt e Mark Ruffalo dentre outros. No
elenco, além do próprio Ruffalo protagonizando, Alfred Molina, Julia Roberts e
um monte de gente trabalhando muito bem.
TNH é bastante autobiográfica. Ned Weeks, que primeiro
grita a respeito da epidemia de AIDS dizimando os gays de Nova York, é Larry
Kramer disfarçado. Quando a então misteriosa doença começa a matar jovens
musculosos, bonitos, saudáveis e promissores, Weeks começa jornada de denúncia
do descaso quase geral contra o vírus e de ativismo que jamais escondeu sua
raiva com a própria comunidade gay, os vários níveis governamentais, os médicos
e cientistas, o silêncio que mata. Uma das coisas mais fascinantes de Larry
Kramer/Ned Weeks é a desconstrução do discurso facilitador e confortável de que
só o amor constrói. Raiva e ódio, desde que bem canalizados, podem resultar em
boas coisas.
35 anos após o começo da epidemia de AIDS, pode-se não
ter a noção de como foram aqueles primeiros anos de crise. TNH, com seu
poderoso drama temperado de ativismo, mostra o desdém governamental e de muitos
gays e o nojo/obscurantismo/preconceito com que alguns profissionais da saúde e
cientistas tratavam a síndrome. Certo que a fatalidade 100% assustava, mas não
dá pra negar que como os primeiros afetados foram gays, hemofílicos e haitianos
(estes não abraçados pelo escopo da obra), resposta mais efetiva só veio bem
mais tarde e muito graças ao ativismo gay que berrou, pressionou por pesquisas
e importação de medicamentos e se informou sobre protocolos, tratamentos, indicações
e contraindicações como jamais o fizera.
Cimentando esses elementos está Ned Weeks, que briga
com todo mundo, cobra, xinga, diz verdades dolorosamente inconvenientes e lida
com a falsa aceitação de seu irmão e um namorado infectado. A mescla de pessoal
e político-histórico torna TNH tão absorvente, mesmo tendo mais de 2 horas de
duração.
Sugiro-o em sessão dupla com o francês Les Témoins, resenhado aqui.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
A IMPORTÂNCIA DE MODELOS POSITIVOS
Como a personagem Elsa de "Frozen" ajudou uma menina albina
A Rainha de Arendelle é reconhecida e adorada mundialmente, mas para uma família específica, ela representa mais do que qualquer figura fofinha da Disney
A personagem Elsa, do longa Frozen - Uma Aventura Congelante é reconhecida e adorada mundialmente, mas para uma família específica, ela representa mais do que qualquer figura fofinha da Disney. A folclorista e jornalista canadense Emily Urquhart explica como a Rainha de Arendelle, também conhecida como a Rainha da Neve assumiu um modelo de representatividade na vida de sua filhaalbina.
Há pouco tempo a pequena Sadie foi pela primeira vez à escola, e é normal que assim como toda mãe, Emily quisesse superprotegê-la para que ela não sofresse nenhuma retaliação de seus coleguinhas do jardim de infância pela sua condição. Mesmo que a pequena tenha tentado esconder suas madeixas brancas com um lenço e um chapéu, logo um garotinho gritou: "Hey, você tem o cabelo igual o da Elsa!"
Para os menos familiarizados, Elsa, é a protagonista mais popular da animação, que sempre está ao lado de Anna. Como uma princesa, ela é capaz de criar castelos de gelo com seus dedos, e quando seus poderes saem fora do controle, ela se tranca em um lugar isolado para proteger sua corte. No caso pequena Sadie, a comparação funciona.
Toda essa cultura mágica das princesas às vezes nos faz repensar todos os valores ultrapassados e machistas que são vinculados em suas histórias, mas mesmo assim, Frozen representa uma quebra primeiro por ter duas personagens principais femininas e pela possibilidade de identificação de Sadie com uma delas, na primeira vez que viu os longos fios brancos de Elsa, em 2013.
Para a filha de Emily, seu cabelo, assim como na história, é uma manifestação da proeza congelante da princesa - mesmo que a explicação científica para tal fato venha da falta de pigmentação em seus pelos, pele, e olhos. Esta última carência a obriga a usar óculos para corrigir seus problemas de visão. A aceitação dos amiguinhos de Sadie veio pela familiarização em relação à Elsa - eles realmente gostam de seus fios brancos.
O menino que notou o singular cabelo da pequena é apenas uma das milhares de pessoas que tecem comentários - por vezes nem sempre inocentes - sobre a aparência de indivíduos nesta condição. Pode parecer bobo, mas a mãe notou os desafios que sua filha teria que enfrentar posteriormente na recepção de um hospital, quando os funcionários se referiam à criança como "bebê de cabelos brancos", foi quando um dos homens responsáveis pela limpeza sugeriu que poderia se tratar de uma diferença genética.
"Nossa, o cabelo dela é realmente branco!", "Você fez mexas mais claras nela?" e "Vocês são suecas?" foram algumas das inúmeras críticas ouvidas pela mulher, que acabou se acostumando com a situação e os registra às vezes. Mesmo que a discriminação doa em uma mãe-de-primeira-viagem, e seja um dos principais motivos de preocupações futuras.
Há alguns anos, outras pessoas passaram a associar Sadie a Elsa, e foi como se o personagem onipresente da Disney normalizasse, de alguma forma mágica, a suposta diferença da menina. Agora, a pequena acabou se tornando fã número um da princesa, que agora representa mais do que nunca uma maneira para aprender a lidar com os comentários e olhares tortos dos outros.
Mas tradicionalmente, Hollywood não tem sido tão boazinha assim como imaginamos. Personagens que representam indivíduos albinos são, na maioria esmagadora das vezes, pintados como os vilões, endemoniados, assustadores e estranhos. Filmes como Matrix e séries como Doctor Who usaram em suas tramas demônios ou tropas "brancas" esquisitas, mas esta é apenas um braço da mitologia que versa sobre esta condição.
Desde seu nascimento, Sadie foi objeto de estudo de sua mãe para a conclusão de seu PhD em folclore, na Memorial University, em Terra Nova, uma ilha canadense. Sua vinda ao mundo proporcionou à ela que pudesse se debruçar em pesquisas sobre o albinismo e outros casos de patologias no âmbito folclórico, a fim de contextualizar essas pessoas em seus próprios mundos.
Emily também acredita que se negar a dissecar as narrativas que retratem essas singularidades humanas pode ser um artifício utilizado para tirar o poder das minorias, porque a razão dessas singularidades acaba por permanecer na penumbra do entendimento.
Peter Ash, fundador e diretor do grupo de defesa de pessoas albinas do Canadá e da Tanzânia Under The Same Sun, explica à BBC sobre recorrência destes padrões culturais presentes nas mais diversas obras: "A mesma cultura que pode me elevar a figura de um deus, também é capaz de me representar como um demônio." É por isso que a crença de que os albinos são mágicos pode ser distorcida para o bem ou para o mal, pelo simples fato de considerá-los diferentes do resto, mesmo que não sejam.
"Minha filha é como qualquer outra menina de cinco anos de idade - prefere rosa, não gosta de couve de Bruxelas e tem ciúmes se percebe que seu irmão menor está recebendo mais atenção que ela", desabafa Emily, que também explicou a importância de que os portadores desta condição tenham ciência, assim como sua pequena, e arremata: "Minha garotinha ainda não sabe sobre as crenças culturais que cerceiam seu albinismo, e quando se deparar com essas histórias, estarei preparada para explicar. Mas por enquanto, vamos ficar com Frozen."
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CAIXA DE MÚSICA 215
Roberto Rillo Bíscaro
Por seus antropofagismos e tropicalismos, o Brasil
gosta de dizer que aprecia geleias gerais, tudo junto e misturado. Tropix,
quarto álbum de Céu, derrete diversos estilos num caldeirão eletronizado e o
resultado é MPB, Música POP Brasileira, ultramoderna, cosmopolita e acessível.
O próprio título popifica e computadoriza não apenas a referência à Tropicália,
mas também os próprios trópicos, ainda tão fadados ao atraso em tudo.
Um título e uma canção explicam à perfeição a tônica
desse trabalho da paulistana. Pixel é um
ponto luminoso do monitor que, juntamente com outros do mesmo tipo, forma as
imagens na tela. Amor Pixelado é uma das canções desse álbum pixelado, onde não
dá pra dizer que tal faixa é isso ou aquilo. Tropix é composto de minúcias
extraídas de diversos (sub-)estilos por quem sabia o que queria.
Perfume do Invisível intercala gotejar esparso de electronica com disco-funk que não
ficaria deslocado na fase Jesus Não Tem Dentes, dos Titãs. A Menina e o Monstro
transiciona o tempo todo entre caixa de música e piscodelismo guitarrado.
Arrastar-te-ei e Minhas Bics têm ecos de ritmos nordestinos transurbanizados. A
Nave Vai é disco music com
guitarrinha sapeca. Varanda Suspensa é uma delícia de synthpop tropical i.e. misturado
com brega. Chico Buarque Song é regravação do paulistano Fellini, que gravou
pela independente Baratos e Afins nos 80’s. Indie rock meio neopsicodélico, mas
aquela batidinha de teclado/guitarra na verdade é batuque de samba, que ficaria
em casa nalgum antigo álbum de Dulce Quental.
Uma das formas de se entender a discreta e diáfana
Bossa Nova é vê-la como tendência de gosto hegemônica sucessora dos derramados
boleros e sambas-canções. E não é que Sangria traz um fiapo de bolero cantado à
Bossa Nova? Une 2 inimigos estéticos e é a canção que melhor explica Tropix. E
mais pro fim, Sangria vira twee pop com papapa à Sarah Cracknell. Que antenada essa Céu!
Esta playlist traz o álbum completo:
Esta playlist traz o álbum completo:
domingo, 24 de abril de 2016
A SUPERAÇÃO DE KAYTH
Conheça a história de Kayth Lyra, que perdeu a visão aos 36 anos. Determinado, ele aprendeu a conviver com esta realidade e deu continuidade ao curso de Direito.
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sábado, 23 de abril de 2016
quinta-feira, 21 de abril de 2016
TELONA QUENTE 155
Roberto Rillo Bíscaro
Há algumas semanas estreou série de horror nas
telinhas, chamada Damien. Trata-se do agora adulto (como, se ele morrera no
terceiro filme?!) filho do Coisa Ruim, que faturou alto nas telonas nos anos
70, a demodécada. A Profecia foi lançado em 1976, na onda satanista nascida com
o Bebê de Rosemary e beatificada pelo Exorcista. Não decidi se darei chance ao
Damien seriado, porque as experiências com prequels/sequels,
como Hannibal e Bates Motel não me agradaram a ponto de desistir após poucos
episódios e sequer resenhá-las. A exceção fica a cargo da deliciosa Ash Vs.Evil Dead.
Enquanto não escolho dar chance a Damien, vi a curta franquia
iniciada por The Omen, inclusive a refilmagem de 2006, evitada até agora.
O original de 76 veio com status de produção “séria” -
o subgênero demoníaco estava em alta, inclusive criticamente – ma no troppo. A coprodução
anglo-americana foi dirigida pelo então novato Richard Donner, que mais tarde
consolidaria seu prestígio com Super-Homem (1978) e Máquina Mortífera (1987)
(meu favorito dele, porém, é uma fofurita boba obscura de 1969 chamada Twinky,
onde a ninfeta Susan George se apaixona por um nada característico Charles
Bronson, puro fetiche com aquela musiquinha Twinky, I think you’re growing up
too soon, girl...). A trilha sonora ótima cheia de corais sacrossatânicos foi
composta por incensado Jerry Goldsmith, que tinha no CV as elogiadas trilhas
pra Planeta dos Macacos, Pappillon, Patton e Chinatown. Pra completar a
fantasia de superprodução, o elenco foi encabeçado por Gregory Peck e Lee Remick.
Dois supernomes, mas aí está a falácia; já não eram mais A-listers fazia tempo. The Omen não é filme B, mas também não foi
A.
Seja o que tenha sido, A Profecia trata da vinda do
Anticristo. Desta feita, o demo foi um pouquinho mais esperto e ao invés de encarnar
numa família sem posses ou acesso algum aos altos escalões pra dominação
global, foi parar na família dum embaixador norte-americano que tinha chances
de se tornar presidente, ou pelo menos, acesso fácil ao homem mais poderoso do
globo. Porque não nasceu logo como filho do presidente ou porque tantas coisas
são complicadas pruma entidade que parece ser tão poderosa fazem parte daqueles
detalhes que você desconsidera, senão nem adianta começar a ver esse tipo de
filme.
Poderia ser um bocadinho
mais curto, porque há partes morosas e Gregory Peck está pavoroso (e quando ele
foi bom ator?), mas até que há mortes legais (embora poucas) e bem gore pra cinemão mainstream de meados dos 70’s. Pras plateias de hoje, talvez mais
suspense do que propriamente terror, A Profecia ainda funciona mais ou menos
bem no sub-subgênero da possessão demoníaca.
Em 1978, o foco político foi transferido pro econômico.
Watergate distanciava-se da memória, mas a recessão grassava nos EUA embalados
por disco music. Assim, em Damien: A
Profecia II, o filho do Tinhoso toma consciência de quem é seu papai e
assegura-se de que o império econômico da família Thorn seja dele e não do
primo, herdeiro legítimo, já que Damien
era filho do embaixador falecido e não do dono da corporação. Tudo não passa de desculpa pra várias mortes,
algumas legaizinhas, uma delas pelo menos prenunciando a toada da franquia
Premonição. A trilha sonora ainda é de Goldsmith, mas menos inspirada, porque
não mais novidadeira. No elenco, nomes respeitáveis com cachês já nem tanto,
como o ex-galã William Holden e a ex-perseguida por McCarthy, Lee Grant. Pra
fãs de soap oitentista, há Robert
Foxworth, o cara que recusou o papel de JR Ewing e acabou estrelando a genérica
de segundo escalão Falcon Crest.
Fica meio monótono no meio,
mas ainda funciona pros “antigos”, que víamos esses filmes na TV nos 80’s e
ficávamos com medo ou nos divertíamos com as mortes, hoje menos marcantes que
em filme de Sessão da Tarde.
A
Profecia não emplacou nos anos 80. A única entrada da franquia na década
foi A Profecia 3: Conflito Final, que
não tem medalhão no elenco desconhecido a não ser pelo começando a ficar famoso
Sam Neill, interpretando Damien. Agora comandando a corporação Thorn, o filho
do diabo arma pra descolar posição de embaixador na Inglaterra, mas tem que se
preocupar com a segunda vinda de Cristo, nascido na ilha. Nazareno era porque
JC nasceu em Nazaré, mas mesmo sendo britânico nessa nova encarnação chamam-no
nazareno. E isso nem é o pior desse filme tedioso, que não tem quase mortes –
como você faria pra matar bebês cenicamente? Nem nós fãs de horror gostaríamos,
quanto mais o público mainstream.
Como a trama prevê o extermínio de nenês nascidos em tal data, isso é tratado
através de sugestões ou simplesmente aludido. Filme de horror sem cena de
terror fica difícil, né? E aguentar os solilóquios “blasfemos” de Neill e a
febre neopentecostal do fim? Uma porcaria.
Sepultada
há uma década nas telonas, a TV tentou ressuscitar A Profecia em 1991, com a
parte IV, O Despertar. Elenco desconhecido até do FBI numa história que além de
não empolgar, passa pelos estágios de puerilidade e desonestidade. Um casal
adota menina que parece que será a reencarnação do mal apenas pra num final
estapafúrdio descobrirmos que essa aparente transgressão não passou de pista
falsa pros telespectadores. Isso depois duma trama sem dinheiro pra criar
mortes legais – embora 2 das ideias mereçam louvor. Se a parte III foi
porcaria, essa foi lixo. O fim denota desejo de continuações, mas felizmente a
sandice foi brecada aí.
A
refilmagem de 2006 é bem semelhante ao original; marquei touca em demorar quase
um decênio pra conferir. Criticada por ser tão fiel, não vejo mal nisso: as
gerações mais novas às vezes não veem filmes antigos pela qualidade da imagem,
então que há de errado em refazer? Os poucos desvios no roteiro são pequenas
variações do original e a filmagem elegante peca um pouco por ser meio
distanciada às vezes. Não dá muito pra se importar com os pais de Damian e os
ambientes tendem à assepsia. Como o original, A Profecia (2006) não é um grande
filme, é mais passatempo eficaz. O roteiro atualizou os sinais da vinda do
Anticristo usando o tsunami asiático e o 11 de Setembro, mas a origem política
de Damien permanece, afinal, é ali que Satanás pode realmente danificar o mundo
(há países que nem precisam da ajuda dele...). A trilha sonora é inferior à de
76, mas essa versão conta com Mia Farrow, que dá noção de linhagem ao filme,
afinal, ela também já foi mãe de bebê-demônio, aliás, a mãe original, a eterna
enquanto dure Rosemary. Também há microparticipação de Sir Michael Gambon e as
mortes são legais, uma delas influenciada por Premonição, enfim, dá pra ver de
boa. Sugiro uma noite de pipoca e refri com amigos pra ver em seguida as
versões de 76 e a de 30 anos depois, pra comparar.
terça-feira, 19 de abril de 2016
TELINHA QUENTE 208
Roberto Rillo Bíscaro
Duns tempos pra cá, tem história de tudo quanto é coisa: do diabo, da menstruação, da homossexualidade, da representação disso ou daquilo em tal época ou cultura. Detratores acusam que se perde o todo da História; partidários defendem que se ganham minúcias e especificidades.
Eu queria um pouco de História, mas não estava a fim de deixar meu extenso romance norueguês de lado, daí fui de história pop mesmo, em mais de um sentido. Não só porque era de documentário do History Channel, mas porque era dessas bem segmentadas. Em cada um dos 8 episódios vistos de How Sex Changed the World, o narrador avisa que pularemos as partes chatas da História e vamos ao mais gostoso: sexo!
Superacessível, com letreiros grandes, resumos após cada seção, depoimentos e opiniões de “comuns” e não apenas de expertos. Bem longe do formato ao qual eu estava acostumado, com as “cabeças falantes” e mais solenes, parodiado no horror O Misterioso Caso de Judy Winstead.
As opiniões asneirentas de muitos “comuns” me pareceram perda total de tempo; quem se importa com o que um(a) anônimo(a) faria na cama se soubesse que aquele era seu último dia de vida? Ainda bem que isso tomava poucos segundos de cada episódio, mas mesmo assim, eu descartaria.
O programa fala da ambiguidade da relação norte-americana com o sexo. Eles têm fama de serem reprimidos, mas o show mostra que o sexo tem sido força motora poderosa da história do país, e por conseguinte, mundo. Caracteristicamente, um letreiro adverte o espectador pra ser discreto com relação ao conteúdo.
Ep. 1 Sex Pioneers – Puritanos eram rebeldes no sentido de não concordarem com a igreja anglicana e apesar de terem tantos tabus comm relação a sexo, uma das tarefas dos maridos era manter as esposas satisfeitas, a tal obrigação conjugal. Isso cumpria função econômica também pra crescer a população. Mas, ao mesmo tempo Thomas Morton, um neopagão inglês ficou bem perto das primeiras colônias puritanas, legal esse paradoxo tão simbólico.
Na Corrida do Ouro (1850’s) construiu-se a riqueza de San Francisco e uma nova aristocracia. Parte de tudo isso foi com dinheiro ganho em prostituição, porque a mulherada caiu de boca na proporção de 50 bofes pra cada uma na época.
Ep. 2 Sex For Sale– A Igreja explorava e usava muito o serviço de prostitutas e bordéis, antes da Reforma Protestante, que fez com que a Igreja mudasse essa estratégia monopolista muito lucrativa. Em New Orleans, por uns 20 anos, no final do século XIX, designou-se uma área onde a prostituição era livre e isso atraiu muita grana, além de contribuir com a integração racial e oportunidades pra músicos negros do nascente jazz, como Louis Armstrong
Ep. 3: Sex Rebels exageradamente defende que o alto apetite sexual e extravagâncias na cama de governantes como Catarina a Grande ou a Imperatriz Messalina mudaram a história. Sabe-se lá se são verdadeiras todas as histórias atribuídas a essa gente.
Lyndon Johnson é descrito como sexo-maníaco que mostrava o pau pra quem quisesse ver, o qual ele supostamente apelidou de Jumbo, por causa do tamanho, mas essas escapadas não afetaram necessariamente as políticas de seu governo.
Ep 4 – Sexpocalipse mostra notórios casos de perseguição à sexualidade, como o Dr. Kellogg’s que em parte criou os sucrilhos pra tentar diminuir a masturbação, baseado numa ideia pseudocientífica da Idade Média de que havia alimentos facilitadores do celibato. Também fala dos campões de cruzadas morais, como Charlie Keating, que perseguiu tanto a pornografia, mas acabou condenado como estelionatário e por crimes financeiros milionários. A história está cheia dessas figuras. No Brasil atual há tantas, e o pessoal não aprende. Pensando bem, é um episódio pouco animador pra pensar sobre a espécie humana.
Ep 5 – Sex and Power tenta provar que a História poderia ter sido diferente em alguns casos, devido a comportamentos sexuais de líderes como Kennedy, que não perdoava rabo de saia, mas quase se enrascou por ter transado com uma alemã oriental, caindo nas garras de J. Edgar Hoover, que, subsequentemente também usou dossiês com escapadas sexuais de senadores pra coibir problemas no Senado pra JFK.
Ep 6 – Superheroes of Sex fala sobre indivíduos que exerceram influência positiva ou negativa sobre a educação sexual ou informação sobre o sexo. Aprendemos que os talentos de Da Vinci pareciam inesgotáveis, porque também estudou as causas da ereção peniana pra constatar se a acepção religiosa de que o pipiu endurecia porque se enchia de ar era verdade. Como dissecar cadáveres era proibido, o pintor da Mona Lisa pagou ladrões de sepultura pra descolar presuntos. Outra figura abordada foi o masturbador contumaz Anthony Comstock, que, bem caracteristicamente desses infames perseguidores por motivos sexuais, influiu pra efetivação duma lei que proibia a veiculação pelo correio de qualquer material considerado pornô. Bem EUA mesmo, prega tanto a liberdade do indivíduo, mas tem um problema danado em aceitá-la.
Ep 7 – Sex and War – desde sempre sabemos que guerra anda junto com sexo, prostituição e propagação de DNA e doenças e o documentário dá diversos exemplos, como Gengis Khan que transou com tantas que atualmente porcentagem significativa de asiáticos pode ser descendente do mongol. Outa parte interessante demais é a britânica que não hesitou em usar o corpão pra tirar informações do governo francês colaboracionista dos nazistas; viraria um filme bem legal.
Ep. 8 – Extreme Sex aborda o sexo levado ao extremo e cita as batidas histórias de Nero (bocejo) e Aleister Crowley, mas a parte que interessa mesmo é comoo Ted Roosevelt no afã de combater a superpopulação de prostitutas em Nova York terminou por facilitar seu serviço. Isso na virada do século XIX pro XX; muito bom pros dedicados a afirmar que “antigamente o povo tinha mais vergonha na cara” e asneiras afins.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
CAIXA DE MÚSICA 214
Roberto Rillo Bíscaro
Os Pet Shop Boys (PSB) são da segunda geração synthpop, aquela que já utilizava sequenciadores, seguindo a trilha aberta pelo
fundamental single Blue Monday, da
New Order (1983). A partir da segunda metade dos anos 80, a popularidade da
dupla ascendeu e o ápice aconteceu no início dos anos 90. Foram tão poderosos
que Morrissey reclama em sua autobiografia que os executivos se preocupavam
bastante se as declarações polêmicas do ex-Smiths afetariam a imagem [leia-se
vendas] de Neil Tennant e Chris Lowe, seus companheiros de gravadora.
Os Garotos da Loja de Animais de Estimação jamais
pararam de lançar álbuns ou excursionar, mas aparecer em programas populares de
TV e tocar em rádios de audiência maciça é outra história. Assim, ouvintes
ocasionais não têm mais o duo em seus radares, a ponto de o vocalista Tennant
relatar que motoristas de táxi ocasionalmente perguntam se estão aposentados.
Há algumas semanas, os britânicos voltaram em muito boa
forma com Super, delícia eletrônica vibrante que não se esquece de suas raízes
80’s e 90’s, porque sabe que os fãs esperam certo som característico, mas não falha
em dialogar com modernidades retrô como o Hot Chip. Porque muito do pop
sintetizado atual bebe da fonte disco
ou da própria synth dance que o PSB
ajudou a inventar, eles soam muito contemporâneos, mas ainda confortáveis pra
ouvintes da época de seu distante auge comercial.
Happiness abre Super parecendo que será techno
minimalistas curtível só pra quem dance nalguma boate hip de Berlim, mas logo é acessibilizada pelos Pop Kids (título
duma faixa meio autobiográfica), que aprenderam a lição de Papai Bowie:
popificar o underground. Tennant
afirmou ser filho de Bowie, ao comentar a morte do Camaleão.
Super está cheio de pauladas dance. Groovy tem clima de Ao Vivo em Ibiza; Inner Sanctum parece
saída dalguma deluxe edition de álbum
noventista do PSB, cheias de remixes; Burn é pra incendiar boates, como quer
seu refrão e não duvido da possibilidade, com aquele letimotiv-locomotiva no teclado.
Pazzo, quase instrumental que acena pra Giorgio Moroder
e New Order circa Technique (1989),
não é grande momento; algo tola. A lenta Sad Robot World obviamente referencia
vô Kraftwerk – e também o esquecido Gary Numan – com letra inteligente sobre
nosso descaso pra com os pobres robôs, “tratados com indiferença, embora sempre
entre nós”.
Com história tão rica e longa, cacoetes e sonoridades
de distintas eras do próprio Pet saltitam lá e acolá. Into Thin Air tem trechos
sacados de Being Boring, de Bahaviour (1990) e Sad Dictator não se encaixaria em
Introspective (1988)? Say It To Me é bem Electronic, dupla formada por Bernard
Summer (New Order) e Johnny Marr (The Smiths), com a qual Tennant/Lowe
colaboraram na manhã dos 90’s.
Super é super.
domingo, 17 de abril de 2016
ALBINO INCOERENTE NO FUTURO
Roberto Rillo Bíscaro
Ontem tive uma manhã muito especial. Seria mais um daqueles dias burocráticos, porque tinha 3 bancos pra visitar depois das 11:00, mas às 8:00 fui ao Colégio Futuro, em Penápolis (SP), conversar com 2 salas de alunos da oitava série.
Ontem tive uma manhã muito especial. Seria mais um daqueles dias burocráticos, porque tinha 3 bancos pra visitar depois das 11:00, mas às 8:00 fui ao Colégio Futuro, em Penápolis (SP), conversar com 2 salas de alunos da oitava série.
O professor de português das turmas, Rodrigo Santiago, pediu que os alunos lessem minha autobiografia, Escolhi Ser Albino, como leitura obrigatória do bimestre. A ideia seria complementar a leitura com uma conversa com o autor.
E foi uma delícia. As perguntas foram muito inteligentes e perspicazes. Muitos compraram o livro e tive que autografar vários e tirar muitas fotos. Foi muito divertido e alargou o círculo de conhecidos.
Depois, a chatice dos 3 bancos - e foi muito tedioso, creiam - ficou mais fácil de tolerar.
Obrigado à direção, à equipe de coordenação, ao Rodrigo Santiago e aos alunos do Futuro pela oportunidade de divulgar um pouco sobre albinismo e de minha história.
O professor Rodrigo Santiago fez um vídeo com alguns momentos do encontro, valeu Rodrigo!
sábado, 16 de abril de 2016
ASSASSINARAM WHITNEY
Morte de menina albina reativa debate sobre proteção de minoria no Malawi
Menina albina de 2 anos estava desaparecida desde 3 de abril.
Whitney Chilumpha foi sequestrada enquanto sua mãe dormia.
A descoberta no Malawi de um crânio, os dentes e a roupa de uma menina albina de dois anos desaparecida em 3 de abril demonstra o fracasso das autoridades na hora de proteger as pessoas com albinismo, denunciou nesta sexta-feira (15) a Anistia Internacional (AI).
Foto da Anistia Internacional mostra bebé albino que foi abandonada em Lilongwe, no Malawi (Foto: Reprodução/Amnesty.org)
"O assassinato desta menina inocente faz parte de um terrível ciclo de desaparições e assassinatos de pessoas com albinismo no Malawi, onde as partes de seus corpos são vendidas para ser utilizadas em rituais de bruxaria", declarou o subdiretor da AI para a África Meridional, Muleya Mwananyanda.
Whitney Chilumpha foi sequestrada enquanto dormia com sua mãe na cidade de Chiziya, no distrito de Kasungu, e é a 12ª pessoa com albinismo assassinada no Malawi desde dezembro de 2014.
O pai da menina e outro homem foram detidos pela suposta relação com o sequestro e o assassinato.
"Este terrível incidente deve levar as autoridades a atuar", afirmou Mwananyanda no comunicado, publicado em Johanesburgo.
"Não se trata unicamente de levar perante a justiça os responsáveis, mas também de oferecer proteção às pessoas com albinismo", acrescentou o dirigente da AI, que pediu ao governo do Malawi que faça o possível para pôr fim a estes atos.
Durante 2015 foram registrados 45 casos de tentativas de sequestro e assassinato de pessoas albinas, embora AI acredite que o número real de fatos contra este coletivo vulnerável pode ser muito maior.
Foto da Anistia Internacional mostra bebé albino que foi abandonada em Lilongwe, no Malawi (Foto: Reprodução/Amnesty.org)
"O assassinato desta menina inocente faz parte de um terrível ciclo de desaparições e assassinatos de pessoas com albinismo no Malawi, onde as partes de seus corpos são vendidas para ser utilizadas em rituais de bruxaria", declarou o subdiretor da AI para a África Meridional, Muleya Mwananyanda.
Whitney Chilumpha foi sequestrada enquanto dormia com sua mãe na cidade de Chiziya, no distrito de Kasungu, e é a 12ª pessoa com albinismo assassinada no Malawi desde dezembro de 2014.
O pai da menina e outro homem foram detidos pela suposta relação com o sequestro e o assassinato.
"Este terrível incidente deve levar as autoridades a atuar", afirmou Mwananyanda no comunicado, publicado em Johanesburgo.
"Não se trata unicamente de levar perante a justiça os responsáveis, mas também de oferecer proteção às pessoas com albinismo", acrescentou o dirigente da AI, que pediu ao governo do Malawi que faça o possível para pôr fim a estes atos.
Durante 2015 foram registrados 45 casos de tentativas de sequestro e assassinato de pessoas albinas, embora AI acredite que o número real de fatos contra este coletivo vulnerável pode ser muito maior.
quinta-feira, 14 de abril de 2016
TELONA QUENTE 154
Roberto Rillo Bíscaro
Há anos planejava-se a adaptação do livro Orgulho e Preconceito e Zumbis, resenhado aqui. Não acompanhei rumores, mas soube que em
fevereiro finalmente chegava às telonas coprodução anglo-ianque dessa paródia
do clássico de Jane Austen. Como lera o livro, fatalmente veria a película, mas
a presença de Charles Dance e Lena Headey - parte de meus amados Lannisters - no elenco acelerou o processo.
Numa Inglaterra georgiana empesteada pela praga zumbi –
provavelmente vinda da França; ah quanto ódio civilizado – as moças de família
preocupavam-se com o brutal mercado do casamento, mas também aprendiam artes
marciais pra se autodefenderem /dizimarem mortos-vivos. É nesse contexto que se
desenrola a manjada história das irmãs Bennett, o envolvimento de Lydia com Mr.
Wickham (um dos personagens mais alterados do original austeniano) e a
superação do orgulho e do preconceito por Elizabeth Bennnett e o protótipo do
marido ideal, Mr. Darcy, aqui, Coronel Darcy, porque a Inglaterra estava em
guerra contra os defuntos devoradores de cérebro.
Orgulho e Preconceito e Zumbis é uma espécie de
“terrir” miguxo pra meninas teens que
acham que curtem zumbis. Só mesmo nesse nicho de mercado pode funcionar um
filme de ação com pouca ou um que se quer de horror, mas tem menos cenas
violentas ou impactantes do que um capítulo de Game Of Thrones.
Tudo é realmente de época, a produção até que capricha
prum produto barato de menos de 30 milhões de dólares, há a atípica valorização
da personagem feminina como heroína de filme de ação, mas Orgulho e Preconceito
e Zumbis é desesperadoramente desprovido de ironia, a qual, aliás, dá tanta
graça à obra de Jane Austen. É piada que não sabe que é chiste. No fundo, acaba
uma historieta de amor temperada com algum tiro em cabeça de zumbi, incapaz de
incitar medo nem em criança que jogue videogame ou veja Datena.
Se você não for menina de trança e smartphone com
capinha de Crepúsculo, distancie-se. Ou prefira a minissérie Pride and Prejudice, da BBC, seguida dalgum George Romero, daí sim, dá um excelente
Orgulho e Preconceito e zumbis.
terça-feira, 12 de abril de 2016
TELINHA QUENTE 207
Roberto Rillo Bíscaro
Ironia informa o título e momentos-chave de Happy
Valley, desolad(or)a série policial da BBC, que já teve 2 temporadas,
totalizando dúzia de capítulos.
De feliz, o vale onde se passa a ação não tem nada. A
protagonista Detective Sergeant Catherine Cawood jamais se recuperou do
suicídio da filha, estuprada (será mesmo?) por um sociopata. O casamento não
resistiu à perda e ela acabou tendo que cuidar do neto – indesejado por setores
da família – e da irmã recuperando-se do vício em álcool e heroína (a
maquiavélica O’Brian, de Downton Abbey, aqui sofredora e boazinha). E essa é só
a história de fundo pra essa policial boa, correta, mas fascinantemente
complexa, interpretada à perfeição por Sarah Lancashire.
A primeira temporada lida com a saída da prisão de Tomy
Lee Royce, suposto abusador da filha da policial e de um sequestro, que
acontece por pura ironia dramática. 6 episódios tensos e viciantes. A segunda
continua alguns temas da primeira e adiciona um serial killler, mas a história que rouba a cena até do vale de
lágrimas da DS Cawood é a do DI John Wadsworth, sujeito decente levado a
cometer um crime, em outro caso de perversa ironia dramática. Kevin Doyle, o
adorável Mr. Moleseley, de Downton Abbey, deveria concorrer junto com
Lancashire às indicações de prêmios que a temporada deveria angariar.
Um dos diferenciais de Happy Valley no populoso mundo
sinistro, escuro, úmido e frio dos detetives deprimidos é que as ações e
personagens têm cotidianidade diversa da de River ou dos Nordic Noirs tipo
BronIBroen. E isso não é crítica negativa a esses shows, que amo muito demais da conta. É que Happy Valley mergulha
numa Inglaterra de classe média baixa, onde o sotaque é difícil de entender até
pra falantes nativos (reclamações abundaram nos jornais britânicos), onde a
porrada e a droga comem soltas e os policiais também sofrem, porque são parte
do tecido social. Embora tenham autonomia de policial, claro, são afetados pela
desgraceira reinante. Os diálogos são de uma sinceridade brutal e se você
esperar pra ver no nosso inverno, sugiro muito chá, pra entrar no clima, porque
a todo momento há o fatídico “would you like a cuppa tea?”
Outro trunfo é que não há verdades incontestáveis. A beatitude
da falecida filha de Cawood é questionada pelo irmão, que em mais de uma cena
despeja a bile do ressentimento na mãe que o negligenciou após o suicídio da
filha. Happy Vallley é pra quem tem estômago bom pra alguma violência e
realismo. Nesse universo dramático não há espaço pro “tudo vai ficar bem”,
açucaramento irritante de tantos roteiros.
I strongly recommend it,
luv (atenção pro número de vezes, que usam luv,
supercomum na Inglaterra.) E se é pra ser infeliz, escolheria ser miserável em
Happy Valley, pra poder ser consolado pela DS Catherine Cawood e ficar amigo
dos Gallagher. Amei demais.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
CAIXA DE MÚSICA 213 (ALBINA)
Roberto Rillo Bíscaro
Há algumas semanas, resenhei o livro Elric de Melniboné – A Traição ao Imperador, V.1, cujo protagonista é albino (leia aqui). Como a literatura sempre influenciou o mundo do rock, as tramas e heróis de Moorcock inspiraram mais de um roqueiro; alguns até trabalhando com o próprio escritor como letrista.
Vejamos alguns exemplos:
Em 1985, o Hawkwind lançou The Chronicles of the Black Sword, baseado na personagem e com letras do próprio Moorcock, que já colaborara com os space rockers anteriormente.
Em 1980, o Blue Oyster Cult, lançou Black Blade, presente no álbum Cultösaurus Erectus. A espada negra, claro, é Sotrmbringer e a letra é de Moorcock, que também colaborara com a banda antes.
Em 1982, os metallers britânicos do Diamond Head lançaram o álbum Borrowed Time, onde muitas letras e arte da capa são inspiradas em Elric.
Em 1985, os thrashers/black metallers norte-americanos do NME lançaram canção intitulada Stormbringer.
Os alemães do Blind Guardian escreveram diversas canções baseadas em Elric, como esta, por exemplo:
Os italianos do Domine escreveram mais de um álbum baseado na obra de Moorcock. Este de 97, por exemplo, usa o conceito de Campeão Eterno do escritor, no título do LP:
O terceiro lançamento dos speed metallers do Skelaton, Agents of Power (2012), contém longa suíte com a saga de Elric.
Os sérvios do Numenor inspiraram seu black metal épico mais de uma vez na obra de Moorcock, inclusive o álbum do ano passado chama-se Sword and Sorcery (Espada e Feitiçaria), elementos citados o tempo todo nos livros do inglês:
Ativa na segunda metade dos 90’s, os death/black metallers suecos do Sacramentum basearam algumas das canções de seu derradeiro álbum, The Black Destiny (1999), na obra de Moorcock.
Quando a banda de power metal grega Battleroar estreou no mundo do LP com o álbum homônimo de 2003, inseriram a canção Mourning Sword, sobre Stormbringer:
Os britânicos do Magnum homenagearam a espada Stormbringer nessa canção funekada:
O álbum Stormbringer (1974), do Deep Purple nada tem a ver com a espada homônima dos livros de Elric. Na época, David Coverdale afirmou que soube da existência do livro Elric of Melniboné após o lançamento do álbum.
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