Roberto Rillo Bíscaro
Por seus antropofagismos e tropicalismos, o Brasil
gosta de dizer que aprecia geleias gerais, tudo junto e misturado. Tropix,
quarto álbum de Céu, derrete diversos estilos num caldeirão eletronizado e o
resultado é MPB, Música POP Brasileira, ultramoderna, cosmopolita e acessível.
O próprio título popifica e computadoriza não apenas a referência à Tropicália,
mas também os próprios trópicos, ainda tão fadados ao atraso em tudo.
Um título e uma canção explicam à perfeição a tônica
desse trabalho da paulistana. Pixel é um
ponto luminoso do monitor que, juntamente com outros do mesmo tipo, forma as
imagens na tela. Amor Pixelado é uma das canções desse álbum pixelado, onde não
dá pra dizer que tal faixa é isso ou aquilo. Tropix é composto de minúcias
extraídas de diversos (sub-)estilos por quem sabia o que queria.
Perfume do Invisível intercala gotejar esparso de electronica com disco-funk que não
ficaria deslocado na fase Jesus Não Tem Dentes, dos Titãs. A Menina e o Monstro
transiciona o tempo todo entre caixa de música e piscodelismo guitarrado.
Arrastar-te-ei e Minhas Bics têm ecos de ritmos nordestinos transurbanizados. A
Nave Vai é disco music com
guitarrinha sapeca. Varanda Suspensa é uma delícia de synthpop tropical i.e. misturado
com brega. Chico Buarque Song é regravação do paulistano Fellini, que gravou
pela independente Baratos e Afins nos 80’s. Indie rock meio neopsicodélico, mas
aquela batidinha de teclado/guitarra na verdade é batuque de samba, que ficaria
em casa nalgum antigo álbum de Dulce Quental.
Uma das formas de se entender a discreta e diáfana
Bossa Nova é vê-la como tendência de gosto hegemônica sucessora dos derramados
boleros e sambas-canções. E não é que Sangria traz um fiapo de bolero cantado à
Bossa Nova? Une 2 inimigos estéticos e é a canção que melhor explica Tropix. E
mais pro fim, Sangria vira twee pop com papapa à Sarah Cracknell. Que antenada essa Céu!
Esta playlist traz o álbum completo:
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