Roberto Rillo Bíscaro
“Commissario Montalbano Sono!”
A boa impressão deixada por Il Commissario De Luca, o
gosto de explorar águas pouco conhecidas e divulgadas e a necessidade de
diversificar as postagens sobre televisão, muito centradas em séries policiais
de Nordic e Celtic Noir ultimamente, levaram-me a ver diversas temporadas de Il
Commissario Montalbano, que, anualmente desde 1999, aparece em 3 ou 4 episódios
de duração de longa-metragem na TV italiana.
Baseado no detetive dos romances e contos de Andrea
Camilleri, o careca Salvo Montalbano chegou até às telas da BBC, em 2008,
seguindo a trilha legendada aberta por Forbrydelsen. A série, no entanto, tem
muito mais a ver com as clássicas histórias de detetive-gênio, que remontam a
Edgar Allan Poe, do que com a soturnidade escandinava. Montalbano é como se
fosse um herói de Agatha Christie, mas falando alto, gesticulando muito e
comendo macarrão; traços pra dar cor local a uma personagem velha conhecida do
subgênero policial.
Os primeiros episódios trazem um Salvo não muito
simpático, assumidamente egocêntrico e o tom é mais soturno e “filosófico” do
que as temporadas seguintes. Essas explodem em cores e sóis sicilianos,
Montalbano fica adorável, embora explosivo, há diversos alívios cômicos, muita
gente bonita, gritaria italiana e comida e vinho. O contraste com os congêneres
anglo-escandinavos é gritante: Montalbano interroga suspeitos em cafés, discute
seus casos em restaurantes e até instiga um policial casado a dormir com uma
ricaça ninfomaníaca pra arrancar-lhe informações. Imagine se Saga Norén falaria
pra Martin Rohde trair a esposa (se bem que nem precisou...). O relacionamento
dele com o legista também choca, porque às vezes, o velhote se recusa a dar
informações. OK que esse antagonismo amigável seja parte da parte supostamente
cômica do show, mas há momentos não críveis.
De modo geral, Il Commissario Montalbano garante bons
momentos, mas há muitos episódios que poderiam ser mais curtos. Algumas tramas
pessoais às vezes tomam tempo demais a ponto de perceber que o roteiro tá
enchendo linguiça duma história que não tem tanto sumo. Outro desabono pralguns
espectadores será que as soluções normalmente brotam da mente privilegiada de
Salvo sem que pistas nos tenham sido dadas pra concluir pelo menos uma parte.
Típico Agatha Christie que escondia informações do leitor. Montalbano sempre
reconstrói as causas e circunstâncias dos crimes com minúcia inverossímil.
Enfim, a série é fantasia policial sob o sol da Sicilia, não espere muito mais.
Este ano saíram uns 2 episódios e ano que vem tem mais.
Além disso, como no modelo Inspector Morse, a RAI fez uma série sobre o jovem Montalbano.
Mas, essa não creio que assista.
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