quinta-feira, 7 de abril de 2016

TELONA QUENTE 153

Roberto Rillo Bíscaro

Sou bem pós-Beatles. Concordo com tudo sobre a importância dos 4 de Liverpool, mas cantarolo quase nenhuma de suas canções, exceto o refrão de Strawberry Fields, que vira “slasher films forever, slasher films forever”. Como esta é não a Caixa de Música, a anedota serve pra dimensionar meu apreço pelo subgênero de horror hegemônico nos primeiros anos dos 80’s e que desde então está mais ou menos presente nas telonas e linhas.
Deve ser ponto pacífico que Halloween (1978) estabeleceu as regras do slice’n’dice clássico, além de criar uma das franquias da trindade slasher oitentista (as outras 2 são Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, que não é bem slasher). Como tudo tem antecedentes, tenho apontado alguns em resenhas, como O Caso dos Dez Negrinhos, livro de Agatha Christie e o pouco visto The City That Dreaded Sundwon (1976), cujo assassino com saco de batata na cabeça, lembra o Jason Voorhees da segunda Sexta-Feira 13.
Em meio a frenesi slasher, revi o canadense Black Christmas (1974), na época desprezado pelo mainstream, mas visto por gente antenada que percebeu sua originalidade e o usou como referência. Quando a ficha dos críticos caiu, “reavaliaram” a película, que passou a ser cult. John Carpenter e o comediante Steve Martin estão entre os fãs desse quieto suspense
psicológico invernal, introdutor de mais de um tropo cinematográfico.
Numa pequena cidade universitária, um maníaco faz ligações telefônicas obsceno-ameaçadoras e eventualmente invade incógnito uma república de moças, as famosas sororities, que ambientaram mais de um slasher e até série recente de TV (Scream Queens). Ambientado no feriado escolar do Natal, o filme abre com o maluco subindo uma escada e infiltrando-se no casarão, onde matará um punhadinho (body count e gore não importam pra essa produção independente e de baixo orçamento).
A câmera se movimenta/posiciona sob o ponto de vista do assassino, o qual ouvimos até ofegar. Uma data festiva é escolhida como forma de chocar e marketear, mas também como desculpa pra personagens não serem percebidas como mortas e também com motivação simbólica, porque paralelo ao nascimento de Jesus, há uma gravidez envolvida (não tema, porque não há discussão pseudo-filosófica). Há personagem beberrona e boca suja que serve como alivio cômico. Há moça mal-comportada que morre. Há adultos/autoridades que custam a acreditar nos jovens. Black Christmas é minicompêndio de ideias reaproveitadas/rearranjadas por Carpenter em Halloween e depois cristalizadas em clichês. Destarte, Black Christmas tem função também didática.
A insanidade do psicopata ao telefone incomoda ainda hoje e o final ambíguo e aberto também virou obrigatório na futura era das franquias. Roteiro batuta esse de A. Roy Moore!
No elenco, o uma vez ubíquo John Saxon, d’A Hora do Pesadelo; a Lois Lane da geração hoje 50tona, Margot Kidder (que também estaria no Amityville original) e a Julieta de Zefirelli, Olivia “minha carreira então já naufragara” Hussey. 

Dia 25 de dezembro de 2006, pra desgosto de grupos religiosos que protestaram e ajudaram na divulgação de seu desafeto, foi lançado Black Xmas, anunciado como “livremente” baseado no filme de Bob Clark. 9 anos se passaram até que eu perdesse o medo de ver o que fizeram com a preciosidade canadense. Vi as 2 versões duma enfiada, como fiz com A Hora do Pesadelo e concluo que se não tivessem incitado a comparação com o original e se o final não tivesse sido forçado demais até pra padrões slasher, o filme poderia ganhar um 6,5 ou 7.
Bobagem acreditar que Black Xmas criaria tantos clichês ou seria tão original quanto sua matriz, mas quem trouxe sobre si o peso da inevitável comparação foi a própria produção, então que arque com ele. Há a república de moças, é Natal, há um maníaco a solta, mas o que Black Christmas deixava a nossa imaginação – talvez por falta de grana? – Black Xmas irritantemente tenta explicar.
No filme de 1974, o maluco fala sobre Billy e Agnes ao telefone por mais duma vez. Se nem ele sabemos quem é, imagine se o roteiro se preocupou em explicar sobre os 2 citados. Na era CSI, onde tudo tem que ser esmiuçado, Black Xmas gasta um tempão concretizando e explicando o demente, Billy e Agnes. Por que não pegaram essa ideia, então, e desenvolveram um roteiro original? Talvez ficasse até slasher decente, mas atrair a comparação com o misterioso original só prejudicou o remake, entulhado de detalhes e elementos que nem fazem sentido. Se em 74, a tônica era menos é mais, em 2006, mais virou menos. Pra que aquele final com ressurreição demais até pra slasher?
Sem contar que a produção é certinha demais. Isso até daria pra passar, porque tem um par de mortes legaizinhas, mas o acima pôs muito a perder. Tem a scream queen Katie Cassidy (essa menina estava em todo slasher da década passada?), mas parece festa de Natal de escritório, ou seja, caretão. Pra treinar o espanhol nessa versão que espero esteja completa, serve,

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