Roberto Rillo Bíscaro
Há algumas semanas estreou série de horror nas
telinhas, chamada Damien. Trata-se do agora adulto (como, se ele morrera no
terceiro filme?!) filho do Coisa Ruim, que faturou alto nas telonas nos anos
70, a demodécada. A Profecia foi lançado em 1976, na onda satanista nascida com
o Bebê de Rosemary e beatificada pelo Exorcista. Não decidi se darei chance ao
Damien seriado, porque as experiências com prequels/sequels,
como Hannibal e Bates Motel não me agradaram a ponto de desistir após poucos
episódios e sequer resenhá-las. A exceção fica a cargo da deliciosa Ash Vs.Evil Dead.
Enquanto não escolho dar chance a Damien, vi a curta franquia
iniciada por The Omen, inclusive a refilmagem de 2006, evitada até agora.
O original de 76 veio com status de produção “séria” -
o subgênero demoníaco estava em alta, inclusive criticamente – ma no troppo. A coprodução
anglo-americana foi dirigida pelo então novato Richard Donner, que mais tarde
consolidaria seu prestígio com Super-Homem (1978) e Máquina Mortífera (1987)
(meu favorito dele, porém, é uma fofurita boba obscura de 1969 chamada Twinky,
onde a ninfeta Susan George se apaixona por um nada característico Charles
Bronson, puro fetiche com aquela musiquinha Twinky, I think you’re growing up
too soon, girl...). A trilha sonora ótima cheia de corais sacrossatânicos foi
composta por incensado Jerry Goldsmith, que tinha no CV as elogiadas trilhas
pra Planeta dos Macacos, Pappillon, Patton e Chinatown. Pra completar a
fantasia de superprodução, o elenco foi encabeçado por Gregory Peck e Lee Remick.
Dois supernomes, mas aí está a falácia; já não eram mais A-listers fazia tempo. The Omen não é filme B, mas também não foi
A.
Seja o que tenha sido, A Profecia trata da vinda do
Anticristo. Desta feita, o demo foi um pouquinho mais esperto e ao invés de encarnar
numa família sem posses ou acesso algum aos altos escalões pra dominação
global, foi parar na família dum embaixador norte-americano que tinha chances
de se tornar presidente, ou pelo menos, acesso fácil ao homem mais poderoso do
globo. Porque não nasceu logo como filho do presidente ou porque tantas coisas
são complicadas pruma entidade que parece ser tão poderosa fazem parte daqueles
detalhes que você desconsidera, senão nem adianta começar a ver esse tipo de
filme.
Poderia ser um bocadinho
mais curto, porque há partes morosas e Gregory Peck está pavoroso (e quando ele
foi bom ator?), mas até que há mortes legais (embora poucas) e bem gore pra cinemão mainstream de meados dos 70’s. Pras plateias de hoje, talvez mais
suspense do que propriamente terror, A Profecia ainda funciona mais ou menos
bem no sub-subgênero da possessão demoníaca.
Em 1978, o foco político foi transferido pro econômico.
Watergate distanciava-se da memória, mas a recessão grassava nos EUA embalados
por disco music. Assim, em Damien: A
Profecia II, o filho do Tinhoso toma consciência de quem é seu papai e
assegura-se de que o império econômico da família Thorn seja dele e não do
primo, herdeiro legítimo, já que Damien
era filho do embaixador falecido e não do dono da corporação. Tudo não passa de desculpa pra várias mortes,
algumas legaizinhas, uma delas pelo menos prenunciando a toada da franquia
Premonição. A trilha sonora ainda é de Goldsmith, mas menos inspirada, porque
não mais novidadeira. No elenco, nomes respeitáveis com cachês já nem tanto,
como o ex-galã William Holden e a ex-perseguida por McCarthy, Lee Grant. Pra
fãs de soap oitentista, há Robert
Foxworth, o cara que recusou o papel de JR Ewing e acabou estrelando a genérica
de segundo escalão Falcon Crest.
Fica meio monótono no meio,
mas ainda funciona pros “antigos”, que víamos esses filmes na TV nos 80’s e
ficávamos com medo ou nos divertíamos com as mortes, hoje menos marcantes que
em filme de Sessão da Tarde.
A
Profecia não emplacou nos anos 80. A única entrada da franquia na década
foi A Profecia 3: Conflito Final, que
não tem medalhão no elenco desconhecido a não ser pelo começando a ficar famoso
Sam Neill, interpretando Damien. Agora comandando a corporação Thorn, o filho
do diabo arma pra descolar posição de embaixador na Inglaterra, mas tem que se
preocupar com a segunda vinda de Cristo, nascido na ilha. Nazareno era porque
JC nasceu em Nazaré, mas mesmo sendo britânico nessa nova encarnação chamam-no
nazareno. E isso nem é o pior desse filme tedioso, que não tem quase mortes –
como você faria pra matar bebês cenicamente? Nem nós fãs de horror gostaríamos,
quanto mais o público mainstream.
Como a trama prevê o extermínio de nenês nascidos em tal data, isso é tratado
através de sugestões ou simplesmente aludido. Filme de horror sem cena de
terror fica difícil, né? E aguentar os solilóquios “blasfemos” de Neill e a
febre neopentecostal do fim? Uma porcaria.
Sepultada
há uma década nas telonas, a TV tentou ressuscitar A Profecia em 1991, com a
parte IV, O Despertar. Elenco desconhecido até do FBI numa história que além de
não empolgar, passa pelos estágios de puerilidade e desonestidade. Um casal
adota menina que parece que será a reencarnação do mal apenas pra num final
estapafúrdio descobrirmos que essa aparente transgressão não passou de pista
falsa pros telespectadores. Isso depois duma trama sem dinheiro pra criar
mortes legais – embora 2 das ideias mereçam louvor. Se a parte III foi
porcaria, essa foi lixo. O fim denota desejo de continuações, mas felizmente a
sandice foi brecada aí.
A
refilmagem de 2006 é bem semelhante ao original; marquei touca em demorar quase
um decênio pra conferir. Criticada por ser tão fiel, não vejo mal nisso: as
gerações mais novas às vezes não veem filmes antigos pela qualidade da imagem,
então que há de errado em refazer? Os poucos desvios no roteiro são pequenas
variações do original e a filmagem elegante peca um pouco por ser meio
distanciada às vezes. Não dá muito pra se importar com os pais de Damian e os
ambientes tendem à assepsia. Como o original, A Profecia (2006) não é um grande
filme, é mais passatempo eficaz. O roteiro atualizou os sinais da vinda do
Anticristo usando o tsunami asiático e o 11 de Setembro, mas a origem política
de Damien permanece, afinal, é ali que Satanás pode realmente danificar o mundo
(há países que nem precisam da ajuda dele...). A trilha sonora é inferior à de
76, mas essa versão conta com Mia Farrow, que dá noção de linhagem ao filme,
afinal, ela também já foi mãe de bebê-demônio, aliás, a mãe original, a eterna
enquanto dure Rosemary. Também há microparticipação de Sir Michael Gambon e as
mortes são legais, uma delas influenciada por Premonição, enfim, dá pra ver de
boa. Sugiro uma noite de pipoca e refri com amigos pra ver em seguida as
versões de 76 e a de 30 anos depois, pra comparar.
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