Séries policiais e de ficção-científica não me satisfazem
totalmente; preciso dum quinhão noveleiro de quando em vez. Resenhas desde shows vintage como DALLAS e Dynasty até
sucessos atuais como Revenge e Scandal - sem esquecer fracassos como Deception,
Betrayal, Blood and Oil e Ringer – atestam o pendor deste blogueiro por soap operas e seus irreais mundos de
traições e maquinações improváveis.
Os 103 episódios das 6 temporadas de Parenthood (2010-15)
são catalogados como dramédia e até procede, porque a série da NBC parece mesmo
um cruzamento de Modern Family levada mais a sério com A Sete Palmos sem nem mestrado. Mas também não dá pra fechar os olhos pra implausibilidade
folhetinesca sobre uma família unida demais, que resolve quase qualquer aresta
com 2 dedos de prosa e estão sempre juntos e vivendo perto. Parece que não tem
amigos ou vida fora da endogenia familiar, chega a ser asfixiante. Em DALLAS
todo mundo morava numa casa e no Massacre da Serra Elétrica a família
canibalizava unida rebeldes distantes da célula mater da sociedade; idealização
da família colada com Super Bonder é fetiche da cultura norte-americana.
Os Bravermans são de classe média alta e podem se dar
certos luxos existenciais; até priorizar a família ao trabalho. Por isso,
funciona o perene “tudo vai dar certo” de muita série anglo-ianque. Se alguém
decide se candidatar a prefeito, OK, nos próximos 4 episódios tem-se uma
campanha onde não houve problemas para se conseguir fundos e toda a família tem
tempo pra colaborar. Vamos abrir uma escola para alunos com necessidades
específicas ou um estúdio de gravação? Claro, afinal, a vida é curta e temos
que priorizar nossos sonhos!
Parenthood abre com o retorno de Sarah à casa paterna.
Ela fugira pra se casar com um cara cujos pais não aprovavam, porque era
beberrão. Sofrida, humilhada e na pendura, pede penico na velha casa com seus 2
filhos adolescentes problemáticos. Não dá pra deixar de ler a trama como a
volta de Sarah e seus filhos ao bom caminho. No fim ela casa, os filhos estão
“assentados” blá blá blá. Ninguém há de crer que estraguei a “surpresa” final,
né?!
Vivendo em San Francisco/Berkeley, os Bravermans são
brancos sem preconceito, por isso há uma nora afro e leve pincelada de homossexualidade
por parte duma personagem que não permanece fixa por todas as temporadas e essa
“descoberta” se dá durante sua ausência e de forma a cumprir cota. Gay is good,
mas se estiver fora das câmeras é “gooder”. Todo mundo também é magro e namoro
com homens em posição subalterna tipo zelador ou meio gordinho não rola e eles
serão ridicularizados (podgy Ed..., presto bastante atenção nesses detalhes).
Pode até ter toque de Síndrome de Asperger, mas tem que ser fotógrafo ou
equivalente, dentro do peso e ser interpretado pelo já consagrado Ray Romano).
Conjeturar leituras e perceber deslizes – há um monte,
principalmente no relacionamento falsamente democrático! – não significa
execração. Gostei bastante de Parenthood, emocionei-me, ri, tenho personagens (Max
e Hank) e atores favoritos (Monica Potter rules!); mas isso não cega meu “amor
exigente”.
Além do absorvente novelo disfarçado de dramédia,
Parenthood deu show na representação dum personagem com Síndrome de Asperger,
aquele setor do espectro autista provavelmente responsável pelo comportamento
da detetive sueca Saga Norén. O ator-mirim Max Burkholder ensopou seus colegas
adultos interpretando quase eles mesmos, ao passo que ele tinha que simular o
distanciamento facial, vocal e emocional dum aspergeriano. Lacrou.
Karina Buhr é inquieta baiana que já trabalhou com
artistas tão díspares quanto Marina Lima, Antônio Nóbrega, Mundo Live S/A e
bandas de pífanos. Ecletismo musical soma-se à variação no cardápio expressivo:
ela já atuou no Teatro Oficina, de José Celso Martinez Correa, aquele mesmo que
encenou O Rei da Vela pela primeira vez, em 1967. Além disso, também escreve e
desenha.
Lançando álbuns desde 2010, seu terceiro polemizou antes
mesmo de chegar ao mercado, porque a capa de Selvática (2015) traz a moça de
tetas de fora. Numa conjuntura em que isso é arrojo, Buhr recusa-se a seguir
caminho de cantora de MPB tradicional e seu álbum traz convidados do rock como
o guitarrista Edgar Scandurra , do oitentista Ira! e Cannibal, do Devotos do
Ódio. Enquanto Céu reorienta nossa música popular para paragens eletropop, Buhr
pega mais pesado e o resultado em ambas é salutar renovação em nosso
cancioneiro.
Recusando o papel de recatada e do lar, Selvática traz
letras contestadoras da submissão feminina ao macho e à família, mais
explicitamente na faixa-título, que fecha o álbum com declamações de Denise
Assunção e Elke Maravilha, sobre base de guerrilha noise pop, subgênero que também informa Conta Gotas. Buhr cospe no
papel de princesa por sobre guitarras psicodélicas em Eu Sou Um Monstro e
desmascara a chatice da idealizada família, propriedade e tradição, em Pic Nic,
que não soaria deslocada no repertório da inglesa alternativa oitentista
cyberpunk Anne Clark.
Esôfago tem clima psych
rock e Cerca do Prédio é punk music
denunciando a especulação imobiliária na metrópole. No lugar do Destroy, de
Johnny Rotten, o “chega de prédio”, de Cannibal. Dragão flerta com reggae,
ritmo sobre o qual Karina cai de boca em Alcunha de Ladrão. Vela e Navalha tem
guitarra-pernilongo bluesy e para
quem acha que álbum nacional tem que fazer referência à prata da casa, Rimã tem
clima nordestino. Mas, está abstraído na percussão, que junto com guitarras
oniricamente etéreas e intervenção de trompete à Belle and Sebastian, popifica
o Nordeste. Grande sacada.
No site de Karina Buhr, você ouve/baixa gratuitamente sua
discografia, que rejuvenesce nossa MPB.
Conheça a história de três cachorrinhas que seriam sacrificadas por terem nascido deficientes, mas foram adotadas e hoje vivem com boa qualidade de vida e muito amor.
Casal de jovens condenado por tentativa de rapto de uma criança albina no Niassa
A mão dura da justiça segue punindo aqueles olham para as pessoas albinas como uma oportunidade de negócio e enriquecimento ilícito. O Tribunal Judicial do Niassa condenou, na quarta-feira (25), um casal de jovens a 23 e 24 anos de prisão maior, respectivamente, por tentativa de rapto de uma criança albina.
O crime aconteceu em Agosto do ano passado, no bairro de Namacula, na cidade de Lichinga. Dois réus foram absolvidos por falta de provas do seu envolvimento no delito.
O juiz da causa, Leonardo Mualia, disse que Anselmo Alexandre foi condenado a 24 anos de cadeia resultantes de um acumulativo de 23 anos em cada um dos três crimes que pesavam por si.
Por sua vez, Felizarda Júlio, sentenciada a 23 anos (acumulativos) de prisão maior, também respondia pelo mesmo número de crimes, mas, diferentemente do seu marido, beneficiou de “circunstâncias atenuantes” que lhe valeram 21 anos de cadeia por cada delito.
Felizarda foi surpreendida na estação ferroviária de Lichinga à espera do comprador da criança. Contudo, a identificada e o paradeiro do visado são desconhecidos a par do que acontece em quase todos os crimes similares.
O casal, segundo o tribunal, aliciava o menor com refrigerantes e bolos. O juiz Leonardo Mualia disse que “considerando o nível económico débil de cada réu”, Alexandre e Felizarda deverão indemnizar a vítima do rapto, pelos danos morais, com a quantia de 10 mil meticais.
De lembrar que, há dias, quatro réus, nomeadamente Atumane Abacar, um curandeiro e professor de madrassa, de 43 anos de idade; Luis Rodrigues, comerciante de 29 anos de idade; Issa Abudala, de 23 anos de idade; e Momade Oscar, de 27 anos de idade, foram condenados a 40 anos de cadeia efectiva, por rapto, assassinato e esquartejamento de um cidadão albino que respondia pelo nome de Alfane Amisse, a 16 de Setembro de 2015. A vítima era um profissional de saúde afecto ao Centro de Saúde de Topuito, no distrito de Moma, província de Nampula.
Mas antes disso, o Tribunal Judicial de Cabo Delgado tinha condenado dois cidadãos, que respondem pelos nomes de Gomes Bernardo e Rafael dos Santos, com idades que variam de 21 e 28 anos, a 35 anos de prisão por assassinato de uma criança albina, em Novembro do ano passado, no distrito de Balama.
Em Tete, o Tribunal Judicial mandou oito cidadãos para os calabouços por posse de sete ossos de uma pessoa albina, exumados em Chemba, na província de Sofala. Entre os condenados constam também mulheres, que respondem pelos nomes de Ana Cristina, funcionária da Secretaria Provincial de Tete; Odete Luís, membro da Polícia da República de Moçambique (PRM); Luísa Amélia e Ajussa Cassimo, todas condenadas a 16 anos de prisão maior.
Há alguns anos a Biblioteca Pública Municipal de
Penápolis (SP) desenvolve o projeto Literatura em Foco, que aborda obras da
lista de livros pedidos nos vestibulares da USP e UNICAMP. Professores de
literatura e diletantes são convidados a analisá-los. Colaboro sempre que
posso; já dei aulas sobre Memórias de um Sargento de Milícias e Vida Secas a
alunos muito interessados, anotadores e inquisitivos.
Dia 9 de junho, falarei sobre a peça O Rei da Vela,
escrita por Oswald de Andrade em 1933, publicada em 1937, mas encenada apenas 3
décadas depois, pelo Teatro Oficina. O retrato do agiota Abelardo, rei da
primitiva vela nos tempos da moderna eletricidade, e sua aliança com setores
decadentes da aristocracia rural e sujeição ao ianque Mr. Jones infelizmente
cai no chavão “mais atual que nunca”.
Na sanha de atacar a burguesia com suas recentemente
adquiridas ideias marxistas, Oswald carrega nos tons grotescos pra representar
essa classe. Um dos traços de decadência dos ricos e poderosos seria a libertinagem
sexual, mas o que interessa aqui é a homossexualidade.
Os 3 filhos do fazendeiro falido Coronel Belarmino são
nomeados com alusões a sua sexualidade: Totó Fruta do Conde; Joana, conhecida
como João dos Divãs e Heloisa de Lesbos. O primeiro é uma bichona louca que
fala no feminino; “sou uma fracassada” repete em forma de bordão mais
pertinente em comédia de Arthur Azevedo do que na pretendida vanguardice d’O
Rei da Vela. Joana parece ter a alcunha apenas pra chocar, porque a personagem
sequer age segundo essa homo-orientação. Heloisa tem seu nome advindo da ilha
onde nasceu a poetisa grega Safo, famosa por poetizar o amor entre mulheres. É
preciso explicitar que da ilha de Lesbos vem a palavra lésbica? Heloisa entra
no palco vestida de homem, mas a peça inteira passa nas mãos de Abelardo e de
Mr. Jones.
O uso da homossexualidade como sinal de decadência vem da
ideia de que é um “desvio” da sexualidade considerada “normal”, a saber a
heterossexualidade monogâmica. Muito dessa patologização nasceu de
interpretação equivocada (fraudulenta?) das ideias de Freud, por gente que
misturou moral pré-concebida na história. Como a maioria nunca leu o Pai da
Psicanálise, mas apenas ouviu dizer de seus genéricos, a noção de homossexualidade
consagrou-se, tanto na direita, quanto na esquerda. Nos anos 70, a Associação
Norte-Americana de Psiquiatria tirou a homossexualidade de sua lista de
enfermidades, mas não são poucos os que ainda a consideram como tal.
(Re)Lendo alguns textos sobre O Rei da Vela pra fermentar
a aula, não me surpreendi que críticos das antigas, como Décio de Almeida Prado
e Sábato Magaldi dancem a música de Oswald acriticamente e apontem a
homossexualidade como um dos sintomas da “sujeira” burguesa. De outra geração,
até dá pra entender suas noções; embora compreender não anule o lamentar. Menos
inteligível é a aceitação passiva dessa ideia preconceituosa em trabalhos que
se querem mais modernos como a dissertação de mestrado O modernismo teatral de Oswald de Andrade: uma análise da peça “O Reida Vela”, de Fernanda de Miranda Martins, que, tão recentemente quanto 2008
compra sem pestanejar a noção de homossexualidade como sintoma de decadência.
Não se trata de caçar bruxas e queimar Oswald de Andrade
na fogueira da correção política anacrônica, como quiseram fazer com o racismo de Lobato no episódio das Caçadas de Pedrinho. Pedir o banimento de sua obra é
tão retrógrado quanto o ambiente descrito na peça, mas é preciso problematizar
essa posição do autor nas análises e quiçá nos exames vestibulares passíveis de
terem questões sobre a obra.
Que ele tenha usado esse
traço como sinônimo de sem-vergonhice não significa que devamos aceitar. Antes,
qualquer análise deve ressaltar o limite tanto de direita quanto de esquerda de
lidar com a homossexualidade e a dificuldade histórica que essa orientação
sexual tem enfrentado. Sem essa discussão e admissão, difícil pensar num mundo
menos discriminatório contra albinos, gordos, mulheres, afrodescendentes,
porque enquanto houver um grupo discriminado, a sociedade será potencialmente
preconceituosa em relação a tudo considerado desviante ou diferente.
Estrela acende, estrela apaga e a de Marilyn Monroe segue
cintilante, 54 anos após sua misteriosa morte. Chances há de que quando a mais
atual musa estiver esquecida, a imagem da Platinada ainda esteja estampando
camisetas e quinquilharias mil ao redor do planeta.
Sete Dias Com Marilyn (2011) não se propõe a explicar a Mística
Monroe, mas ilumina algumas semanas da atriz, enquanto filmava O Príncipe
Encantado (1957), fracassada comédia musical, dirigida e coestrelada por Sir
Lawrence Olivier. Na época era como se a realeza plebeia de Hollywood
encontrasse a “realeza Real” britânica. Na verdade, era Monroe buscando
credibilidade como atriz, trabalhando com um já monstro sagrado, que, por sua
vez, procurava tornar-se cool numa
época em que a fleuma britânica via-se meio corroída (era do rock and roll,
dude, e da humilhação da Crise do Canal de Suez). A convivência de astros tão
antagônicos só poderia resultar em desastre. A estada da loira em Londres, em
1956, foi recheada de intriga e dissabores pra ambos os lados.
O filme baseia-se nos diários de Colin Clark, abastado jovem
que trabalhou na produção d’O Príncipe Encantado, caiu nas graças e no feitiço
estelar de Monroe e alega ter passado uma semana com ela, em idílio que parece
meio platônico (o filme não cita, mas Clark gostava de homens também). Dá muito
a impressão de que o tímido inglês estava mais divado do que sexualmente
atraído, mas isso nem vem ao caso, por que quem se importa realmente com Clark?
Queremos MM!
A produção britânica apresenta Marilyn Monroe multifacetada,
não retratada como vítima da fama ou do “sistema”. Claro que era cronicamente
insegura e infeliz, ao mesmo tempo que usava isso pra enfeitiçar os marmanjos e
utilizava sua feminilidade infanto-depressiva como forma de manipulação pesada.
A relação com a fama era pra lá de ambígua, porque ao mesmo tempo que aumentava
sua insegurança, inclusive física, a atriz era desesperada por adulação e
reconhecimento. O maduro e criticamente venerado Olivier não era nada diferente
da norte-americana no que tange a insegurança e necessidade por adoração, além
de nutrir despeito considerável pela rejeição e o talento “natural” da colega
que fingia desprezar.
Pra dar conta dessa complexidade encapsulada numa
produção que se quer mais entretenimento do que estudo psicológico bergmaniano,
Michelle Williams e Kenneth Branagh estão irretocáveis como Marilyn e Larry. É
certo que o papel de Williams é a parte do leão, afinal, o próprio título
focaliza a atenção no ícone hollywoodiano. Ela está genial nos maneirismos e na
vulnerabilidade forte de Monroe. Fãs de Downton Abbey reconhecerão Jim Carter,
o mordomo Mr. Carson, num pequeno papel de dono de pensão. Ele duvida que Clark
trabalha com Marilyn; típico clichê fílmico, adivinha quem aparece lá no final?
Embora eu não tenha
conseguido perceber que o tempo compartilhado entre Monroe e Clark tenha sido
uma semana, Sete Dias com Marilyn é recomendável pelas atuações, pelo interesse
que Monroe ainda desperta e por ser capaz de entreter sem precisar ser grande e
definitivo filme.
Nosso historiador-cronista praticamente desenha a importância de se ter um ministério que trate especificamente das questões culturais. E de quebra usa canções brasileiras como exemplo da relação cultura/fome. CULTURA MUSICAL, DESENVOLVIMENTO E PROGRESSO ECONÔMICO.
José Carlos Sebe Bom Meihy
Engraçado como algumas “antigas” canções não envelhecem nunca. Em 1987,
os Titãs Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sergio Brito, por exemplo, se
juntaram para lançar um clássico que bem poderia ser listado como “canção de
protesto”, manifestação típica da década dos ditadores. Antes, vale afirmar que
algumas dessas músicas “velhas”, pelo contrário, ganham força e, como que
renascidas, se aplicam a diferentes contextos. Nesta linha, uma composição
memorável, intitulada “Comida”, se ajusta aos dias de hoje como se fora escrita
ontem à noite. Vejamos a letra “Bebida é água!/ Comida é pasto!/ Você tem sede de quê?/ Você
tem fome de quê?/ A gente não quer só comida/ A gente quer comida, diversão e
arte/ A gente não quer só comida/ A gente quer saída para qualquer parte/ A
gente não quer só comida/ A gente quer bebida, diversão, balé/ A gente não quer
só comida/ A gente quer a vida como a vida quer/ Bebida é água!/ Comida é pasto!/
Você tem sede de quê?/ Você tem fome de quê?/ A gente não quer só comer/ A
gente quer comer e quer fazer amor/ A gente não quer só comer/ A gente quer
prazer pra aliviar a dor/ A gente não quer só dinheiro/ A gente quer dinheiro e
felicidade/ A gente não quer só dinheiro/ A gente quer inteiro e não pela
metade/ Bebida é água!/ Comida é pasto!/ Você tem sede de quê?/ Você tem fome
de quê?/ A gente não quer só comida/ A gente quer comida, diversão e arte”.
É verdade que a chave
que definia o conjunto Titãs era a do Rock Brasileiro, mas o teor
reivindicativo dessa letra mostra a relação complementar entre superação da fome
e cultura, fatos inerentes à da condição social, humana. Vendo agora a absurda
atitude do presidente interino em submeter a questão cultural ao Ministério da
Educação, cabe recordar o que está registrado no nosso cancioneiro e que vale
como lição.
É erro crasso pensar
que abolindo responsabilidades culturais do estado, vamos ter sucesso econômico.
Pior ainda pensar que verbas da cultura podem ser reduzidas em favor do
desenvolvimento econômico como se um dependesse do outro. Ambos estão
intimamente ligados e debilitado um, o outro gera deformações e dependências de
outras soluções culturais, estrangeiras. Tudo cresce junto e em harmonia. O
patrimônio histórico, os bens materiais ou não, as tradições são prioridades
identitárias tão importantes como o bom resultado econômico. E não é a pasta da
Educação, já tão sobrecarregada, que dará conta de especificidades que abarcam
o cinema, a música, a produção teatral, bibliotecas, produções de pesquisas.
Sem tais bens, não é possível pensar grande. E a tradição musical brasileira
mostra isto. Vejamos a presença longa da relação do tema fome na vida política
nacional, curiosamente sempre ligada à questão cultural. Assim, é correto dizer
que o cancioneiro nacional insiste no vínculo da cultura com o bem-estar da
população em geral. Aliás, umas dessas canções funcionou como espécie de hino
da geração que protestava contra o regime. Desde o título “Caminhando”, a
primeira estrofe já rezava, em 1968, “Pelos
campos há fome em grandes plantações/ Pelas ruas marchando indecisos cordões/
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão/ E acreditam nas flores vencendo o
canhão”. Vandré assim dimensionava uma das muitas contradições daquele governo
que não conseguia esconder a fome que desmentia o mito do “milagre econômico”
tido como maior que a razão cultural brasileira. Não é sem sentido que se
explica porque essa canção foi proibida e os discos do compositor destruídos. A
economia não venceu a cultura. Curiosamente no mesmo ano, com “Alegria, Alegria”,
Caetano Veloso abordava o tema da fome dizendo relacionando-a à cultura “Por entre fotos e nomes/ sem livros e sem
fuzil/ sem fome, sem telefone/ no coração do Brasil”. Como se os bens econômicos fossem autônomos e pretensamente isolados
de outros aspectos, a tentativa de pensá-lo como subalterno revela a ignorância
da noção de progresso, infelizmente, vemos pessoas apoiando atitudes culturais
iconoclastas. Pior: políticas que se mantidas nos faram ainda avessos aos
ideais de ordem e progresso.
Uma das heresias que amo cometer em papos com cinéfilos é
dizer que 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) é chato demais. Reconheço a
excelência do filme de Kubrick, mas não consigo assistir. Única coisa que curto
é que de lá saiu a ideia pra Bowie compor Space Oddity. Do romance de Arthur C.
Clarke gostei e até li a continuação, 2010: Uma Odisseia No Espaço II. O tédio
experimentado em 2001 deveria ter causado reflexo condicionado pra me fazer
escapar da minissérie Childhood’s End (2015), baseada num romance de 1953, do
mesmo Clarke. Como a esfrega não fora suficiente, vi os 6 capítulos bastante
sem vida, que poderiam ter sido 3.
Naves gigantescas aparecem pairando sobre diversas
cidades ao redor do globo anunciando o começo de nova era. A partir de então, a
Terra seria cuidada pelos Overlords e
toda a fome, pobreza e desigualdade sumiriam. Escrita nos 50’s repletos de
invasões alienígenas, essa invasão politicamente correta foi transposta pra
atualidade. Em pouco tempo, monótona utopia instala-se. Livres da necessidade
de pensar e lutar, ciência, arte e pensamento autônomo fenecem. Descontentes
refugiam-se numa cidade alternativa, onde a vida transcorre com as mazelas do
mundo antigo; doenças, assaltos, mas também arte e ciência. Essa dicotomia,
porém, jamais é aprofundada além do nível epidérmico; altamente frustrante.
Ao invés disso, somos apresentados a um bando de
personagens de plástico em uma produção perfeitinha demais pra se empatizar. O
SyFy Channel é bom só pra diversão trash de tubarão assassino? Tempo demais é
gasto com pessoas com as quais não dá pra se importar e às vezes sequer
diferenciar.
E olha que o romance deve ser muito interessante. O
aparentemente benévolo Supervisor da Terra, Karellen, tem aparência que pros
padrões da mitologia cristã é no mínimo, controversa. Isso daria prato cheio,
mas não é explorado como poderia. O destaque vai pra Charles Dance – de Game Of Thrones – cuja caracterização e atuação são uma das poucas coisas que se
salvam.
Não que inexistam bons momentos. A distopia da conclusão,
que posta a Terra como apenas mais um grão de areia descartável na ordem das
coisas, gera momentos excelentes, dignos da profundidade de Clarke. O problema
é que tempo demais fora perdido com coisas desinteressantes.
Parece que minha sina é ler
os romances – porque deu vontade – e evitar as transposições cênicas de Arthur
C. Clarke. Mas, justiça seja feita: 2001 foi grande filme; Childhood’s End é
minissérie anódina.
Se astros de primeira grandeza nos 80’s, como Cindy Lauper, lançam álbuns que podem passar despercebidos, porque a grande mídia não
mais noticia, imagine os trabalhos daqueles de segunda magnitude pra baixo.
Mesmo conferindo constantemente a mídia alternativa e de fãs, coisas passam em
branco, porque não dá pra checar diariamente sítios de todos os espectros
culturais que interessam. Assim, foi por puro acaso que descobri que Jimmy
Somerville lançou Homage, homenagem à discomusic, em março do ano passado. Já tem até álbum de remixes, lançado há
semanas, e eu sequer sabia do original.
Jimmy Somerville foi razoavelmente famoso na Europa e
Austrália e desfrutou dalgum sucesso nos EUA. Como vocalista de 2 grupos synthpop de status mediano, o escocês
periga não ter o nome conhecido pelo público médio, mais ligado numa ou noutra
canção. Em 1984, à frente do Bronski Beat, conheceu o sucesso com Smalltown
Boy, usada na trilha da novela Um Sonho A Mais (1985) e citada no álbum The Desired Effect (2015), de Brandon Flowers. Sempre explícito sobre sua postura
política trabalhista anti-Thatcher, o Bronski Beat chegou a tocar em apoio aos
mineiros galeses em greve, conforme retratado no filme Orgulho e Esperança.
Em 1985, cofundou a dupla The Communards, com Richard
Coles, hoje membro da Igreja da Inglaterra. Misturando elementos de High-NRG e disco music ao agonizante synthpop como subgênero comercialmente
predominante, o The Communards garantiu seu nome na história do pop britânico,
pelo menos como efeméride: a regravação de Don’t Leave Me This Way, originalmente
gravada por Harold Melvin and The Blue Notes, foi o single mais vendido na ilha, em 1986. A versão dos Communards foi calcada
na da diva disco Thelma Houston.
Em 88, Jimmy ficou de mal com Coles, saiu em
carreira-solo e no ano seguinte regravou You Make Me Feel (Mighty Real),
clássico disco na voz do falecido
Sylvester, cujo falsete Somerville sempre emulou. Read My Lips, o primeiro
solo, colocou alguns singles no Top 30 britânico, sinalizando pra Polygram que era
hora de lançar álbum de grandes sucessos, forma das gravadoras dizerem que o
período áureo [=lucrativo] dum artista já passara. Nos 90’s/00’s/10’s, o cantor
lançou álbuns esporádicos em selos menores. Como gosto, mas não amo (amo algumas
canções, tipo Smalltown Boy, sublime!), perdi sua pista, embora tenha ouvido um
álbum dos 10’s, que achei legalzinho.
De todo modo, recomendo com intensidade este O Melhor
de...
Quando descobri que Homage revisitava a era disco music, assanhei. Jimmy entende do
babado e por se tratar de material próprio, fui conhecer. Muito saltitante e
perito.
A ideia era reproduzir a sonoridade disco com seus cacoetes mais característicos, então, está tudo lá:
baixo rebolativamente balofo, naipe de metais, onipresença daqueles arranjos de
cordas à Hooked On Classics e todos ruídos que nos fazem imaginar estar no
Dancin’ Days, com globo espelhado (saca a capa do disco), dançando no Studio
54, com Sônia Braga.
Homage merece ser comentado mais no atacado do que no
varejo. Ao invés de apontar influências em faixas como Back To Me e dizer que é
fusão de Delegation com KC & The Sunshine Band, melhor dizer que 9 das 12
canções são puro deleite dançável, onde você ouvirá de Chic a The Trammps,
passando por Sister Sledge e eurodisco e remetendo a canções como Born To Be
Alive (1079), de Patrick Hernandez.
Somerville ferve, lacra, diva em pauladas dance como Strong Enough, Travesty,
Lights Are Shining e Bright Thing. Desde sempre do lado de fora do armário, na
nilerodgeriana Freak ele grita que precisa de homem que o entenda. A voz
continua arejada, aguda, embora na faixa de abertura, Some Wonder, alguns segundos
me deixaram apreensivos pelo resto, mas à altura da faixa 2 eu já estava quase
dançando na esteira (Homage é delícia pra ouvir malhando); pura alegria disco berrada, com instrumentos de
verdade tocados por gente real. Não que eu tenha algo contra música sintética
(we are the robots, we are the robots), mas há certa organicidade que só a disco music possui.
Bem no centro de Homage, fica The Core, midtempo que evoca o esquecido Eruption
ou a diva de outrora, Grace Jones. Learned To Talk fecha o álbum com outra
baixada no ritmo. Sorte que a tônica de Homage não é a dessas canções, nada especial.
O escocês afirmou que
tencionava homenagear o estilo de música que marcou sua adolescência em Glasgow
produzindo um álbum a altura. Completou que se tratou dum trabalho cujo
resultado deixou-lhe nervoso, devido à responsa. Espero que o mais de ano desde
o lançamento tenham-no acalmado. Homage é homenagem muito bem feita de quem
entende do assunto.
Cara a cara con el hombre que me hubiera matado para preparar una "poción de albino"
Vibeke VenemaBBC
Stephane Ebongue huyó de Camerún debido al color de su piel. Su albinismo lo convirtió en el blanco de quienes creen que estas personas tienen poderes especiales.
Años más tarde regresó a su hogar para enfrentar a un curandero y para cuestionarlo sobre la práctica de usar partes del cuerpo humano en pociones "mágicas".
Esta es su historia.
Ebongue espera, nervioso, en la entrada de un camino en un bosque. Viste traje y lleva un portafolios.
Sus lentes oscuros son necesarios porque tiene albinismo, y también esconden su nerviosismo.
"Mi corazón late rápidamente. Nunca he venido a un lugar como éste antes", dice.
Este es el día en que espera encontrar las respuestas que ha estado buscando desde hace años.
El camino conduce a un curandero que intercambia pociones de albino.
"Me gustaría descubrir por qué siguen matando a los albinos. Quizás el secreto está al final de esta vereda", dice.
Se cree que partes del cuerpo de un albino, como su corazón, cabello o uñas, son importantes para producir pociones mágicas"
Stephane Ebongue
Getty
Stephane Ebongue es periodista. Es un hombre racional que trata con hechos. No cree en la magia y sin embargo se siente profundamente alterado con esta reunión.
En toda África existe la creencia de que las personas con albinismo traen buena suerte o tienen poderes mágicos.
Esto ha tenido consecuencias devastadoras para quienes sufren el trastorno.
Muerte y mutilación
"Se cree que partes del cuerpo de un albino, como su corazón, cabello o uñas, son importantes para producir pociones mágicas. Por ejemplo para fertilizar la tierra, para volverse invencible, para ganar elecciones políticas o un partido de fútbol", dice Stephane.
"Por esta razón se mata a los albinos o se les mutila para obtener las partes de su cuerpo".
Ebongue tenía 15 años cuando su hermano mayor, Maurice, que también tenía albinismo, desapareció hace 30 años.
Días después su familia encontró el cuerpo del joven de 18 años. Había sido mutilado.
Los padres de Stephane trataron de dar a sus dos hijos albinos una niñez normal. Los trataban de la misma forma que a sus otros hijos. Así que sólo hasta que fue a la escuela por primera vez se dio cuenta de que era diferente.
Sus compañeros le preguntaban: "¿Por qué tú eres blanco y nosotros somos negros?".
A pesar de que se vio involucrado en enfrentamientos sus padres los estimularon a que estudiaran más.
El problema es que los albinos tienen muy mala visión y les es difícil leer letras pequeñas o ver la pizarra en el salón de clases.
"Durante los exámenes muchas veces tuve que entregar el papel vacío", cuenta.
"No porque no sabía las cosas, sino porque la letra estaba impresa tan pequeña que yo no podía leerla. Tenía que entregar el papel vacío y me iba llorando".
Se prometió a sí mismo que crearía una biblioteca donde la gente visualmente discapacitada como él pudiera leer con facilidad.
Stephane estudió periodismo y literatura inglesa en la universidad, donde era el único estudiante, entre 10.000, con albinismo.
Para el 2007, a los 37 años, ya estaba casado y trabajando como periodista en Buea, cerca del Monte Camerún, uno de los volcanes más activos de África.
Calmar al volcán
Fue este volcán el que causó una enorme crisis en la vida de Stephane Ebongue.
"Existe la creencia de que cuando hay una erupción es porque Epasamoto, el dios de la montaña, está enojado", dice Ebongue.
"Para calmarlo necesitan la sangre de un albino".
En 2007 surgieron temores de una nueva erupción y la gente comenzó a hacer "todo lo posible" para detenerla.
Son en estos momentos, que Ebongue llama "una psicosis general", cuando los albinos deciden esconderse.
Stephane decidió irse a otro país. Pensó que su esposa y tres hijos, ninguno de los cuales tiene el trastorno, podrían salir después.
Encontró a un capitán dispuesto a sacarlo ilegalmente en un barco que transportaba madera a Italia. Pasó 33 días escondido en la oscura bodega.
Poco después de llegar a Génova, Ebongue recibió estatus de refugiado por razones humanitarias.
En Italia la vida fue una liberación. Por primera vez el color de su piel era una ventaja. Otros cameruneses eran regularmente detenidos por la policía, pero él no.
Aprendió italiano y se estableció en Turín, donde enseñaba el idioma a los recién llegados. Allí conoció al periodista Fabio Lepore.
Se hicieron amigos. Lepore, igual que él, tiene una discapacidad visual causada por degeneración macular, que significa que su visión es de 2/20 en ambos ojos.
Ambos comenzaron a trabajar en un documental sobre Stephane Ebongue, llamado "Los viajes de Jolibeau".
Jolibeu es el apodo con el que lo conocen en Camerún.
El origen de la creencia
Y este documental es la razón por la cual, cinco años después, Ebongue está parado en uncamino en Camerún, a punto de reunirse con un curandero y tratando de mantener sus emociones bajo control.
"Estaba allí como periodista", dice. "Quería reunirme con alguien que me explicara las raíces profundas de esas creencias. Y pensé que un curandero nativo podía hacerlo".
Al mismo tiempo sabe que mucha gente con albinismo, incluido su propio hermano, han muerto en manos de personas como este hombre que está a punto de conocer.
Después de una caminata de 20 minutos a través del bosque, las imágenes del documental muestran a Ebongue y Lepore llegando a un claro donde está colgada ropa lavada cerca de una choza rudimentaria de madera.
El curandero sale a recibirlos. Viste una camisa anaranjada y pantalones cortos. Les estrecha la mano a todos y mira a Ebongue de forma extraña.
"Lo mira como un león miraría a una gacela", dice Lepore.
Los hombres siguen al curandero hacia la choza donde recibe a sus clientes. Pasan junto a los restos de un ritual que realizó la noche anterior, una especie de sacrificio con animales.
Ebongue le entrega un whisky que lleva de regalo y la tarifa acordada de US$8,70. A cambio, el curandero le da unas ramas pequeñas.
Le plantea su primera pregunta. "¿Cómo están considerados los albinos dentro de las tradiciones de este país?".
Pero el curandero no está escuchando. Está mirando el "tesoro" sentado frente a él.
"No tienes idea de tu valor. De cuánto vales", le dice a Ebongue.
"Los albinos tienen una enorme demanda. Los albinos como tú. Desde tu cabello hasta tus huesos".
Tratando de controlar sus emociones, Ebongue sigue haciendo preguntas.
El curandero le dice que recibe a hasta cuatro clientes a la semana y que todo tipo de gente pide "pociones de albino", desde granjeros que esperan una buena cosecha hasta mujeres que quieren seducir a un hombre blanco.
"¿Estás consciente del hecho de que el número de albinos se está reduciendo y que no es bueno matar a un ser humano para hacer sacrificios?", pregunta Ebongue.
"La gente busca dinero. Matan a los albinos no por el placer de matarlos sino para hacer dinero. Es por eso que los matan", dice el curandero.
"¿No te da miedo de que un día la policía te encuentre porque trabajas con los huesos de seres humanos?", pregunta Ebongue.
"¿Qué quiere la policía? Dinero. Si vienen todos estaremos de acuerdo".
Tras una hora de interrogatorio y después de compartir un vino de palma, los visitantes se retiran.
"¿Por qué no reaccioné?"
Ahora, cuando mira las imágenes, vuelve a indignarse.
"Cada vez que veo la entrevista me impacta y me pregunto porqué no reaccioné", dice.
En lugar de obtener una respuesta real a la pregunta de porqué la gente como él es perseguida en Camerún, lo único que encontró es a un hombre quiere hacer dinero.
Ebongue ahora quiere dejar de hablar de supersticiones y comenzar a abordar el verdadero problema del albinismo: salud y educación.
El mayor asesino de albinos es el sol: la ONU informa que en África la mayoría de los albinos mueren de cáncer de piel entre los 30 y 40 años.
El problema se vuelve más complejo por el hecho de que muchos trabajan en el exterior en empleos mal pagados, debido a que abandonaron la escuela porque no pueden ver bien.
Gracias a la generosa donación de un médico italiano de US$12.400, Ebongue finalmente pudo establecer la biblioteca que soñó siendo niño.
Unas 70 personas, casi todas albinas, se han inscrito en esa biblioteca situada la ciudad más grande de Camerún, Douala.
El objetivo de Stephane es que la gente con albinismo pueda tener éxito en su vida, mostrar que son seres humanos como todos los demás.
Viaja regularmente a Camerún para vigilar su proyecto y visitar a su familia, a quienes nunca se les permitió establecerse con él en Italia. Después de seis años su matrimonio finalizó. Pero Ebongue no siente lástima de sí mismo.
"Al final del día, mi historia es una historia feliz. Fui al colegio, tengo un empleo, me casé, tuve hijos", asegura.