Roberto Rillo Bíscaro
Desde Jean Michel Jarre, a França produz artistas
eletrônicos bem legais, vide Rinocerose, Air e Daft Punk. Uma dessas gostosuras
é o M83, que começou como duo em 2001, mas agora é concepção de Anthony
Gonzalez mais músicos.
Dia 8 de abril, saiu Junk, viagem à memória emocional
de fração dos anos 80. Gonzalez disse que o álbum foi baseado nas trilhas de
seriados e sitcoms da década, como
Punky – A Levada da Breca (exibido pela SBT), cujo letreiro está refletido nas
letras componentes da capa de Junk. Gonzalez completou que as séries de hoje
parecem todas iguais (papo de velho...). Cínicos contra-argumentarão que muito
de Junk soa exatamente igual ao já exaustivamente produzido nos longínquos 80’s
e que compensaria ouvir o original. Este resenhista, porém, adorou as 15
faixas, porque não há originais ou oriundos oitentistas suficientes pra saciar
sua fome/sede pelo melhor decênio.
A agitada Do It, Try It abre com 2 pistas falsas:
a)
parece que será álbum dance, mas o material posterior é majoritariamente chill in.
b)
O piano acid
house com teclado synthpop e
produção/elementos de moderna EDM levam a crer que Junk será orgia de
referências 80’s resignificadas/ironizadas/problematizadas pra criar sonoridade
própria, mas o material posterior é maciçamente revival apenas.
A seguinte Go também
retrabalha elementos ao usar o onipresente sax – apelidei os 80’s de saxodécada
– seguido de solo nervoso de guitarra em produção pop contemporânea. A partir
daí, Junk soa mais como sessão saudade dos 80’s e faz isso muito bem.
A lindíssima Walkway Blues
cruza George Michael com Hall & Oates e caberia num álbum do Capital Cities
ou no White Women, do Chromeo.
Steve Strange, do Visage,
já sabia que vocal falado em francês deixa as coisas mais chiques. Gonzalez –
hoje radicado em Los Angeles - bota uma
moça falando sua língua nativa em Bibi the Dog, eletrofunk acasalado com eurodance
com vocoder de groselha vitaminada
Milanni (já que Junk é puro vintage,
por que não esta ressenha?).
Ao ouvir a instrumental Moon
Crystal passa pela cabeça a abertura duma sitcom
imaginária de fins dos 70’s/início dos 80’s. O piano elétrico, o sax e o vocal
feminino de For The Kids são elementos indispensáveis daquelas baladas que se
tivessem existido nos 80’s poderiam hoje ser regravadas pela Rumer. O vocal
infantil do fim arrancará lágrimas dos que se lembram dos 7 minutos de nobreza
pop-brega fora dos EUA de Nikka Costa, em 1981.
As harmonias vocais de
Atlantique Sud e Solitude deveriam relembrar muitos da contribuição que a
produção de Alan Parsons pro Pink Floyd nos 70’s teve pra muito vocal
oitentista. Além disso, Solitutde tem orgasmo de orquestração de sintetizador,
super over, portanto, super 80’s.
Laser Gun tem letra
levemente rappeada e vocal feminino Tom Tom Club com aquele timbre popularizado
por Sister Sledge ou Love Unlimited. Road Blaster é Phil Collins fase But
Seriously misturado com gritinhos High NRG e teclado early synthpop, como os usados pelo Metrô, em 84.
Os ventos do tempo de Time
Wind levam a alguma rádio de 1985 ouvindo eletrofunk,
mas com bateria eletrônica mais suave. Bateria eletrônica foi um erro pra boa
parte da produção oitentista. Já que Junk desperta nostalgia pela Década, é
impressão ou o piano do final remete à ítala I Like Chopin, do Gazebo?
Sunday Night, 1987 encerra
Junk como se Enya ou Julee Cruise tivessem chamado Stevie Wonder pra tocar
gaita em um de seus lançamentos daquele ano. De Djavan a Eurythmics, o
norte-americano gaiteou pra todo mundo então.
Sem vergonha de ser
nostálgico e com preguiça de criar em cima de elementos já muito utilizados,
Junk quase não inova, mas de lixo só tem o nome.
Parece que esta playlist tem todas as canções:
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