Roberto Rillo Bíscaro
Karina Buhr é inquieta baiana que já trabalhou com
artistas tão díspares quanto Marina Lima, Antônio Nóbrega, Mundo Live S/A e
bandas de pífanos. Ecletismo musical soma-se à variação no cardápio expressivo:
ela já atuou no Teatro Oficina, de José Celso Martinez Correa, aquele mesmo que
encenou O Rei da Vela pela primeira vez, em 1967. Além disso, também escreve e
desenha.
Lançando álbuns desde 2010, seu terceiro polemizou antes
mesmo de chegar ao mercado, porque a capa de Selvática (2015) traz a moça de
tetas de fora. Numa conjuntura em que isso é arrojo, Buhr recusa-se a seguir
caminho de cantora de MPB tradicional e seu álbum traz convidados do rock como
o guitarrista Edgar Scandurra , do oitentista Ira! e Cannibal, do Devotos do
Ódio. Enquanto Céu reorienta nossa música popular para paragens eletropop, Buhr
pega mais pesado e o resultado em ambas é salutar renovação em nosso
cancioneiro.
Recusando o papel de recatada e do lar, Selvática traz
letras contestadoras da submissão feminina ao macho e à família, mais
explicitamente na faixa-título, que fecha o álbum com declamações de Denise
Assunção e Elke Maravilha, sobre base de guerrilha noise pop, subgênero que também informa Conta Gotas. Buhr cospe no
papel de princesa por sobre guitarras psicodélicas em Eu Sou Um Monstro e
desmascara a chatice da idealizada família, propriedade e tradição, em Pic Nic,
que não soaria deslocada no repertório da inglesa alternativa oitentista
cyberpunk Anne Clark.
Esôfago tem clima psych
rock e Cerca do Prédio é punk music
denunciando a especulação imobiliária na metrópole. No lugar do Destroy, de
Johnny Rotten, o “chega de prédio”, de Cannibal. Dragão flerta com reggae,
ritmo sobre o qual Karina cai de boca em Alcunha de Ladrão. Vela e Navalha tem
guitarra-pernilongo bluesy e para
quem acha que álbum nacional tem que fazer referência à prata da casa, Rimã tem
clima nordestino. Mas, está abstraído na percussão, que junto com guitarras
oniricamente etéreas e intervenção de trompete à Belle and Sebastian, popifica
o Nordeste. Grande sacada.
No site de Karina Buhr, você ouve/baixa gratuitamente sua
discografia, que rejuvenesce nossa MPB.
O Youtube também tem Karina Buhr, então não cola a
desculpa de “falta de acesso”:
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