Roberto
Rillo Bíscaro
Numa postagem de 2011, relembrei as sitcoms
exibidas pela Globo antes da novela das 18:00, na segunda metade dos 80’s. Já
vi completa a de segunda-feira, As Supergatas e recentemente as 7 temporadas de
Caras e Caretas, exibida às quartas. Em inglês Family Ties, a série durou de 82
a 89 nos EUA e hoje seu único destaque é ter servido de trampolim pra fama do
baixinho Michael J. Fox. Meio dramédia, fica quase difícil entender porque os
Keatons chegaram ao segundo lugar de audiência. O show era simpático, mas não era pra tanto. Ou havia escassez de
bons programas na época?
O centro é a
família Keaton: os pais são ex-hippies
e ativistas bicho-grilo dos então já distantes anos 60, em contraste com seus 3
filhos, especialmente Alex e Mallory, yuppies superficiais dos agora já
longínquos 80’s. A dinâmica, então, seriam os conflitos entre o idealismo
sessentista tendo que se adaptar/combater o monetarismo neoliberal oitentista.
E até foi assim – embora papai Steven Keaton seja contraditório em diversos
episódios – mas lá pela segunda, terceira temporada a estrela de J. Fox
supernovou eclipsando a dos demais. De Volta Para o Futuro (1985) transformou o
diminuto canadense num dos ícones da década e a maioria dos episódios passou a
girar a seu redor, mantendo a dicotomia das décadas, mas protagonizando Alex. E
o desgramadinho é carismático; pena o Parkinson ter prejudicado sua carreira.
Alex Keaton
é pretensamente um aprendiz de Gordon Gekko, outro ícone 80’s do filme Wall
Street, de Oliver Stone (1987). Fã de Nixon, Reagan, Thatcher e Bush Pai, pelo
menos em teoria acredita na supremacia masculina branca e na prevalência do
mercado acima de qualquer coisa. Por isso lê livros com títulos mais ou menos
como “Como Enganar Velhinhos em suas Pensões”. Mas, sitcoms sendo instituições de preservação do humor sadio da sagrada
família ianque, impossível um proto-Gekko protagonista, então, sempre somos
lembrados de que no fundo Alex tem bom coração e é um conservador do bem. Essas
contradições aniquilam a personagem e a série no fim das contas: o tom crítico
com relação à administração Reagan e o machista que dá voz às mulheres
cancelam-se mutuamente, mas afinal, era pra ser só mais uma comediazinha pra
passar o tempo.
Quando a
estrela de J Fox despontou, o show
passou a ser dele, daí teve até episódio duplo em que certo realismo
psicológico de peças à Arthur Miler foi usado pra provar que ele sabia atuar.
Pode ser louvável, mas o episódio da morte do amigo, que provoca esses
devaneios e uso de recursos teatrais, nada tem a ver com sitcom, sem contar que não combina com a necessidade de pelo menos
ter uma piadinha a cada 3 minutos e a típica resolução simplória do subgênero,
no caso, acreditar em Deus conserta tudo. Pífio, isso é o que se chama
comprometer um coletivo por causa de um.
Minha personagem favorita era e continuou sendo Mallory, a fútil filha que só pensa em moda, é burrinha e foi pruma faculdade de segunda. Além dela, Skippy, o vizinho bobalhão e Nick, o namorado brutamontes de Mallory, de coração de ouro. Family Ties não é um grande show e nem recomendo pra quem não tem investimento emocional pelos 80’s. Há melhores pra se “entender” a década.
Dava medo do
cabelão da Jennifer, como ela aguentava tudo aquilo? Mas foi gostoso ouvir
citações sobre Culture Club (Mallory diz ser apaixonada por Boy George) ou
Duran Duran (Mal usa o reloginho do DD) e perceber que mencionar Lou Grant
ainda fazia sentido, mesmo sendo já na segunda metade da década e Mary Tyler Moore ou o show-solo de Ed Asner estarem fora do ar há anos. Caras e Caretas é
pra tiozinho e tiazinha mesmo. Será que “careta” ainda é usado pra descrever
alguém conservador?
Pra quem
curte genealogia cinetelevisiva, pesquei as seguintes aparições ao longo das 7
temporadas.
- Judith
Light, da versão século XXI, de DALLAS, com voz bem mais aguda, num episódio em
que tinha forte atração por Steve.
- Tom Hanks
participa como irmão de Elise, ídolo-executivo de Alex, que desfalcou uma
corporação pra não deixar que demitissem 1,800 pessoas.
- David
Faustino, o Bud de Married With Chldren, supermenininho na segunda temporada,
como filho dum casal que se divorcia e o pai o rapta. Christina Applegate, a
Kelly Bundy, também aparece em papel minúsculo, como integrante duma banda pop
liderada por Jennifer. Só saquei que era ela, lendo os créditos finais.
- Daphne
Zuniga, a Jo de Melrose Place, faz de namorada de Alex em 2 episódios na
temporada 2. Outra que o namorou bastante foi Courtney Cox, que sei que é
famosa, mas não porquê. E nem quero pesquisar o motivo.
- Geena Davis
participa de 2 episódios com uma personagem totalmente inverossímil e a
situação mais ainda. Ela faz uma governanta sem habilidade, porque era menina
rica que queria provar que podia fazer algo. Não podia ser outra coisa, fia?
- JamesCromwell quase irreconhecível com perucona século XVIII interpretando John
Hancock num micropapel em episódio em que Alex sonha presenciar Thomas
Jefferson escrever a carta da independência. Também só percebi ser Cromwell,
nos créditos finais.
- O trágico
River Phoenix como um geniozinho mirim que se interessa por Jennifer. Se eu
fosse fã dele teria dado pra perceber no episódio, porque ele aprece bastante,
tem diálogo etc. Mas, a família Phoenix nunca me chamou a atenção.
- Esse foi
surpresa que me fez exclamar alto, “gente, o Cyrus!” Jeff Perry, de Scandal,
com bastante cabelo e fazendo um filho que noa aceitava o segundo casamento do
pai.
Se você decidir ver Caras e Caretas, um
conselho: evite a todo custo o especial Family Ties Vacation, da 4ª temporada,
longa-metragem absolutamente sem graça. História de detetive com comédia
pastelão na Inglaterra. Nada funciona; é tudo péssimo.
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