Roberto Rillo Bíscaro
A expansão das plataformas de produção e exibição de
programas de TV significa pluralidade de conteúdos (tomara!); públicos menores,
porque mais segmentados e escassez de superproduções. Será que a tigrada se
acostuma com produções mais modestas e elencos pouco ou não conhecidos? A
fartura de opções na era do compartilhamento de arquivos faz com que muita gente
desconheça a maioria do disponível.
E cada vez mais canais produzem suas próprias séries,
caso do a cabo norte-americano Chiller, especializado em horror e suspense,
que, entre 4 de março e 15 de abril exibiu os 8 capítulos de Slasher. Leitores
assíduos sabem de minha obsessão por slasher films, por isso não se surpreenderão que a minissérie tenha furado longa
fila e interrompido séries ora seguidas, como Parenthood e a versão 90’s de The Outer Limits.
Slasher começa na noite de Halloween, de 1988, quando um
mascarado executa um casal na pacata e pequena Waterbury. Décadas depois,
Sarah, filha dos mortos, retorna á propriedade pra exorcizar seus demônios
pessoais e, no dia seguinte, o Executioner começa a atacar novamente. Sabe-se
que é um copycat, porque o assassino
original está na penitenciária e, numa vibe
Hannibal Lecter, ajudará Sarah a descobrir e combater esse e 2.0, que baseia
sua matança nos 7 Pecados Capitais (luxúria, gula, avareza, ira, soberba,
vaidade, preguiça).
A verba limitada dá a impressão de que algumas tomadas
são como filminhos feitos por fãs, abundantes no Youtube pra qualquer tipo de
filme de horror/sci fi. A música incidental composta de teclado num ronronar
ameaçador às vezes empresta suspense a cenas que não têm nenhum, como uma
simples refeição. Pra matar tempo – a mini podia ter 7 capítulos de boa –
certas cenas são alongadas ou até desnecessárias, impregnando o ar com cheirão
de linguiça.
Malgrado esses defeitos, Slasher faz um decente serviço
pra fãs de slasher clássicos, safra
80’s. Se o formato série liquefaz a tensão, permite que cada vítima tenha sua
vida pregressa retomada, assim, sacamos como cometeu o pecado capital que lhe
custou a vida. Intuí a identidade do Executioner logo, menos por pista do
roteiro do que por conhecer razoavelmente as convenções do subgênero. Algumas
mortes são divertidas e até bem gore,
embora eu seja do tipo que preze a criatividade em detrimento da nojeira. Se
houvesse mais grana, talvez houvesse mais mortes mirabolantes. Mas, achei legal
a da serra elétrica, por exemplo.
A produção se esforça pra cumprir todas as cotas
existentes. Nos primeiros 15 minutos já somos apresentados a casais biétnico e
gay, chefa asiática e capítulos adiante a casal lésbico. Acho que só faltaram
deficientes e americanos-nativos. Waterbury é um buraco que ninguém conhece,
mas tem espaço pra galeria de arte que vive cheia e até restaurantes de luxo.
Até o momento, a melhor série slasher continua sendo Harper’s Island, mas Slasher fez mais bonito
com aparentemente menos recursos do que Scream ou Scream Queens.
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