Roberto Rillo Bíscaro
Uma das heresias que amo cometer em papos com cinéfilos é
dizer que 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) é chato demais. Reconheço a
excelência do filme de Kubrick, mas não consigo assistir. Única coisa que curto
é que de lá saiu a ideia pra Bowie compor Space Oddity. Do romance de Arthur C.
Clarke gostei e até li a continuação, 2010: Uma Odisseia No Espaço II. O tédio
experimentado em 2001 deveria ter causado reflexo condicionado pra me fazer
escapar da minissérie Childhood’s End (2015), baseada num romance de 1953, do
mesmo Clarke. Como a esfrega não fora suficiente, vi os 6 capítulos bastante
sem vida, que poderiam ter sido 3.
Naves gigantescas aparecem pairando sobre diversas
cidades ao redor do globo anunciando o começo de nova era. A partir de então, a
Terra seria cuidada pelos Overlords e
toda a fome, pobreza e desigualdade sumiriam. Escrita nos 50’s repletos de
invasões alienígenas, essa invasão politicamente correta foi transposta pra
atualidade. Em pouco tempo, monótona utopia instala-se. Livres da necessidade
de pensar e lutar, ciência, arte e pensamento autônomo fenecem. Descontentes
refugiam-se numa cidade alternativa, onde a vida transcorre com as mazelas do
mundo antigo; doenças, assaltos, mas também arte e ciência. Essa dicotomia,
porém, jamais é aprofundada além do nível epidérmico; altamente frustrante.
Ao invés disso, somos apresentados a um bando de
personagens de plástico em uma produção perfeitinha demais pra se empatizar. O
SyFy Channel é bom só pra diversão trash de tubarão assassino? Tempo demais é
gasto com pessoas com as quais não dá pra se importar e às vezes sequer
diferenciar.
E olha que o romance deve ser muito interessante. O
aparentemente benévolo Supervisor da Terra, Karellen, tem aparência que pros
padrões da mitologia cristã é no mínimo, controversa. Isso daria prato cheio,
mas não é explorado como poderia. O destaque vai pra Charles Dance – de Game Of Thrones – cuja caracterização e atuação são uma das poucas coisas que se
salvam.
Não que inexistam bons momentos. A distopia da conclusão,
que posta a Terra como apenas mais um grão de areia descartável na ordem das
coisas, gera momentos excelentes, dignos da profundidade de Clarke. O problema
é que tempo demais fora perdido com coisas desinteressantes.
Parece que minha sina é ler
os romances – porque deu vontade – e evitar as transposições cênicas de Arthur
C. Clarke. Mas, justiça seja feita: 2001 foi grande filme; Childhood’s End é
minissérie anódina.
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