Roberto Rillo Bíscaro
Séries policiais e de ficção-científica não me satisfazem
totalmente; preciso dum quinhão noveleiro de quando em vez. Resenhas desde shows vintage como DALLAS e Dynasty até
sucessos atuais como Revenge e Scandal - sem esquecer fracassos como Deception,
Betrayal, Blood and Oil e Ringer – atestam o pendor deste blogueiro por soap operas e seus irreais mundos de
traições e maquinações improváveis.
Os 103 episódios das 6 temporadas de Parenthood (2010-15)
são catalogados como dramédia e até procede, porque a série da NBC parece mesmo
um cruzamento de Modern Family levada mais a sério com A Sete Palmos sem nem mestrado. Mas também não dá pra fechar os olhos pra implausibilidade
folhetinesca sobre uma família unida demais, que resolve quase qualquer aresta
com 2 dedos de prosa e estão sempre juntos e vivendo perto. Parece que não tem
amigos ou vida fora da endogenia familiar, chega a ser asfixiante. Em DALLAS
todo mundo morava numa casa e no Massacre da Serra Elétrica a família
canibalizava unida rebeldes distantes da célula mater da sociedade; idealização
da família colada com Super Bonder é fetiche da cultura norte-americana.
Os Bravermans são de classe média alta e podem se dar
certos luxos existenciais; até priorizar a família ao trabalho. Por isso,
funciona o perene “tudo vai dar certo” de muita série anglo-ianque. Se alguém
decide se candidatar a prefeito, OK, nos próximos 4 episódios tem-se uma
campanha onde não houve problemas para se conseguir fundos e toda a família tem
tempo pra colaborar. Vamos abrir uma escola para alunos com necessidades
específicas ou um estúdio de gravação? Claro, afinal, a vida é curta e temos
que priorizar nossos sonhos!
Parenthood abre com o retorno de Sarah à casa paterna.
Ela fugira pra se casar com um cara cujos pais não aprovavam, porque era
beberrão. Sofrida, humilhada e na pendura, pede penico na velha casa com seus 2
filhos adolescentes problemáticos. Não dá pra deixar de ler a trama como a
volta de Sarah e seus filhos ao bom caminho. No fim ela casa, os filhos estão
“assentados” blá blá blá. Ninguém há de crer que estraguei a “surpresa” final,
né?!
Vivendo em San Francisco/Berkeley, os Bravermans são
brancos sem preconceito, por isso há uma nora afro e leve pincelada de homossexualidade
por parte duma personagem que não permanece fixa por todas as temporadas e essa
“descoberta” se dá durante sua ausência e de forma a cumprir cota. Gay is good,
mas se estiver fora das câmeras é “gooder”. Todo mundo também é magro e namoro
com homens em posição subalterna tipo zelador ou meio gordinho não rola e eles
serão ridicularizados (podgy Ed..., presto bastante atenção nesses detalhes).
Pode até ter toque de Síndrome de Asperger, mas tem que ser fotógrafo ou
equivalente, dentro do peso e ser interpretado pelo já consagrado Ray Romano).
Conjeturar leituras e perceber deslizes – há um monte,
principalmente no relacionamento falsamente democrático! – não significa
execração. Gostei bastante de Parenthood, emocionei-me, ri, tenho personagens (Max
e Hank) e atores favoritos (Monica Potter rules!); mas isso não cega meu “amor
exigente”.
Além do absorvente novelo disfarçado de dramédia,
Parenthood deu show na representação dum personagem com Síndrome de Asperger,
aquele setor do espectro autista provavelmente responsável pelo comportamento
da detetive sueca Saga Norén. O ator-mirim Max Burkholder ensopou seus colegas
adultos interpretando quase eles mesmos, ao passo que ele tinha que simular o
distanciamento facial, vocal e emocional dum aspergeriano. Lacrou.
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