Roberto Rillo Bíscaro
Uma das resenhas que registra maior frequência de acessos
é a do telefilme britânico A Short Stay In Switzerland (2009), sobre a história
real duma mulher que se aproveita da lei suíça que permite o suicídio assistido
pra descansar em paz dos efeitos devastadores duma doença degenerativa sobre
sua qualidade de vida.
Cercada de polêmicas, debates e intransigências na
sociedade judaico-cristã que adora um sofrimento (mormente quando é de outrem),
a eutanásia pode ser tema espinhoso pras artes, não apenas pelo potencial
quilate polêmico (que é bom), mas porque pode descambar pra dramalhão
proselitista pró ou contra, que não se propõe a discutir facetas, mas apenas
discursar pra convertidos ou faturar pelo escândalo.
Os diretores e roteiristas israelenses Sharon Maymon e
Tal Granit conseguiram evitar essas armadilhas no sobriamente comovente A Festa
de Despedida (2015). Numa moradia assistida em Jerusalém, idosos têm que lidar
com a decadência física, que às vezes significa perda da qualidade de vida e,
sobretudo, muita dor e desconforto, que, para alguém beirando os 90 anos e já
sem ninguém no mundo, parecem simplesmente em vão. Diante dos apelos de Max,
alguns amigos inventam máquina de autoeutanásia, que, quando dá resultado,
atrai outros pacientes terminais.
Pelo menos nos 2 atos iniciais A Festa de Despedida
consegue injetar certo humor a tema tão potencialmente pesado, além de
apresentar diversos argumentos usados por quem é contra e a favor da abreviação
da vida. O roteiro toma posição bastante clara quando a personagem mais
vocalmente contra a eutanásia é desafiada pela degeneração de sua própria
saúde.
Em seus 90 e poucos minutos, a película não esquece de
conferir identidades aos vários velhinhos, que afinal, não têm suas existências
reduzidas a vítimas de doenças. Há o casal homossexual, onde um ainda não se
assumiu pra mãe e o outro ainda vive com a esposa, numa metáfora de que certa
porção de nosso destino e velhice não necessariamente precisam cheirar a
decadência caso façamos algo a respeito. Eles também não são anciãos anjos de
candura ou rabugentos profissionais; são seres complexos, o que ajuda a
compreender algumas de suas motivações e atitudes, ainda que se discorde delas.
Sem golpes baixos emocionais, A Festa de Despedida
convida-nos não apenas a discussão, mas a nos colocar no lugar do outro
dolorido e cansado, ao mesmo tempo que afirma que nem toda velhice precisa ser
assim.
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