Roberto Rillo Bíscaro
Nada como um suspense pra preencher tardes tediosas ou
depois de período pleno de trabalho, quando se quer apenas relaxar, ou melhor,
ficar tenso de mentirinha, com história mirabolante, daquelas que se bobear
sequer percebemos os furos. Se tiver reviravolta final infame, como o inolvidável
A Orfã, tanto melhor.
El Cuerpo (2012), do espanhol Oriol Paulo, tem todos os
requisitos, ainda que a surpresa final não seja bombástica como a da Orfã, mas
convenhamos que o filme ianque exagerou quase no risível da explicação (mas,
amo demais). El Cuerpo, porém, é bem melhor no atacado, porque não tem a
sensaboria do durante da Orfã.
Ricaça manipuladora e prepotente, casada com químico mais
jovem, morre aparentemente do coração, mas numa noite chuvosa seu cadáver desaparece
do necrotério. A suspeita recai sobre o marido, porque o investigador desconfia
da conveniência de o corpo sumir num caso envolvendo especialista em produtos
químicos e sua saudável esposa falecida de repente. O viúvo Alex tem outro
problema, porém: será que Mayka efetivamente estava viva? O que o vigia vira
que fê-lo correr tão assustado a ponto de ser atropelado na noite escura (numa
sequência mal editada)? Quem seria o responsável pelos perturbadores indícios
de que Mayka continuava viva?
El Cuerpo passa-se quase todo numa noite de tempestade em
um necrotério e é entrecortado de flashbacks.
Só fica faltando o diretor aparecer e fazer buuuu pra assustar a gente,
porque de resto deve haver quase de tudo: ambiência escura (mas discernível),
efeitos sonoros, aparições repentinas, música incidental lúgubre e desesperada.
Não é terror, mas há a possibilidade duma pontadinha, daí o clima mais nervoso
ainda. O desfecho se passa na manhã seguinte, numa floresta digna dum Nordic
Noir, filtrada pra aparecer menos ensolarada do que é. A resolução é
mirabolante e, por isso, assaz divertida.
É tudo tão redondinho e estereotipadamente thriller B –
tem até cena de sexo no elevador à Atração Fatal – que dá pra relevar de boa o
absurdo do roteiro – se bem que o charme dessas produções é esse, mas então, dá
pra relevar os furos no roteiro, tipo o cara não lecionar mais desde o
casamento (ou até antes segundo indicam as férias na Ilha Catalina), mas
conhecer a guria num aula na universidade há 8 meses. Mas é bom lembrar que
muito do que parece deslize de lógica prova ser parte pensada da trama,
ressignificado pela reviravolta do final.
El Cuerpo faz o espectador reavaliar suas assunções e suspeitas
mais duma vez e pode pegar muitos de surpresa com a revelação do(a) culpado(a).
As interpretações oscilam entre o canastrônico e o submediano, com destaque pra
José Coronado, como o detetive Jaime Peña e Belém Rueda, claramente se
divertindo como Mayka.
Thriller espanhol com padrão hollywoodiano (não que isso
faça diferença pra mim, mas diversos resenhistas adoram realçar isso como se
fosse abonador), que não desapontará amantes de emoções deliciosamente baratas.
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