quinta-feira, 19 de maio de 2016

TELONA QUENTE 159

Roberto Rillo Bíscaro

Nada como um suspense pra preencher tardes tediosas ou depois de período pleno de trabalho, quando se quer apenas relaxar, ou melhor, ficar tenso de mentirinha, com história mirabolante, daquelas que se bobear sequer percebemos os furos. Se tiver reviravolta final infame, como o inolvidável A Orfã, tanto melhor. 
El Cuerpo (2012), do espanhol Oriol Paulo, tem todos os requisitos, ainda que a surpresa final não seja bombástica como a da Orfã, mas convenhamos que o filme ianque exagerou quase no risível da explicação (mas, amo demais). El Cuerpo, porém, é bem melhor no atacado, porque não tem a sensaboria do durante da Orfã.
Ricaça manipuladora e prepotente, casada com químico mais jovem, morre aparentemente do coração, mas numa noite chuvosa seu cadáver desaparece do necrotério. A suspeita recai sobre o marido, porque o investigador desconfia da conveniência de o corpo sumir num caso envolvendo especialista em produtos químicos e sua saudável esposa falecida de repente. O viúvo Alex tem outro problema, porém: será que Mayka efetivamente estava viva? O que o vigia vira que fê-lo correr tão assustado a ponto de ser atropelado na noite escura (numa sequência mal editada)? Quem seria o responsável pelos perturbadores indícios de que Mayka continuava viva?
El Cuerpo passa-se quase todo numa noite de tempestade em um necrotério e é entrecortado de flashbacks. Só fica faltando o diretor aparecer e fazer buuuu pra assustar a gente, porque de resto deve haver quase de tudo: ambiência escura (mas discernível), efeitos sonoros, aparições repentinas, música incidental lúgubre e desesperada. Não é terror, mas há a possibilidade duma pontadinha, daí o clima mais nervoso ainda. O desfecho se passa na manhã seguinte, numa floresta digna dum Nordic Noir, filtrada pra aparecer menos ensolarada do que é. A resolução é mirabolante e, por isso, assaz divertida.
É tudo tão redondinho e estereotipadamente thriller B – tem até cena de sexo no elevador à Atração Fatal – que dá pra relevar de boa o absurdo do roteiro – se bem que o charme dessas produções é esse, mas então, dá pra relevar os furos no roteiro, tipo o cara não lecionar mais desde o casamento (ou até antes segundo indicam as férias na Ilha Catalina), mas conhecer a guria num aula na universidade há 8 meses. Mas é bom lembrar que muito do que parece deslize de lógica prova ser parte pensada da trama, ressignificado pela reviravolta do final.
El Cuerpo faz o espectador reavaliar suas assunções e suspeitas mais duma vez e pode pegar muitos de surpresa com a revelação do(a) culpado(a). As interpretações oscilam entre o canastrônico e o submediano, com destaque pra José Coronado, como o detetive Jaime Peña e Belém Rueda, claramente se divertindo como Mayka.
Thriller espanhol com padrão hollywoodiano (não que isso faça diferença pra mim, mas diversos resenhistas adoram realçar isso como se fosse abonador), que não desapontará amantes de emoções deliciosamente baratas. 

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