quinta-feira, 26 de maio de 2016

TELONA QUENTE 160

Roberto Rillo Bíscaro

Estrela acende, estrela apaga e a de Marilyn Monroe segue cintilante, 54 anos após sua misteriosa morte. Chances há de que quando a mais atual musa estiver esquecida, a imagem da Platinada ainda esteja estampando camisetas e quinquilharias mil ao redor do planeta.
Sete Dias Com Marilyn (2011) não se propõe a explicar a Mística Monroe, mas ilumina algumas semanas da atriz, enquanto filmava O Príncipe Encantado (1957), fracassada comédia musical, dirigida e coestrelada por Sir Lawrence Olivier. Na época era como se a realeza plebeia de Hollywood encontrasse a “realeza Real” britânica. Na verdade, era Monroe buscando credibilidade como atriz, trabalhando com um já monstro sagrado, que, por sua vez, procurava tornar-se cool numa época em que a fleuma britânica via-se meio corroída (era do rock and roll, dude, e da humilhação da Crise do Canal de Suez). A convivência de astros tão antagônicos só poderia resultar em desastre. A estada da loira em Londres, em 1956, foi recheada de intriga e dissabores pra ambos os lados.
O filme baseia-se nos diários de Colin Clark, abastado jovem que trabalhou na produção d’O Príncipe Encantado, caiu nas graças e no feitiço estelar de Monroe e alega ter passado uma semana com ela, em idílio que parece meio platônico (o filme não cita, mas Clark gostava de homens também). Dá muito a impressão de que o tímido inglês estava mais divado do que sexualmente atraído, mas isso nem vem ao caso, por que quem se importa realmente com Clark? Queremos MM!
A produção britânica apresenta Marilyn Monroe multifacetada, não retratada como vítima da fama ou do “sistema”. Claro que era cronicamente insegura e infeliz, ao mesmo tempo que usava isso pra enfeitiçar os marmanjos e utilizava sua feminilidade infanto-depressiva como forma de manipulação pesada. A relação com a fama era pra lá de ambígua, porque ao mesmo tempo que aumentava sua insegurança, inclusive física, a atriz era desesperada por adulação e reconhecimento. O maduro e criticamente venerado Olivier não era nada diferente da norte-americana no que tange a insegurança e necessidade por adoração, além de nutrir despeito considerável pela rejeição e o talento “natural” da colega que fingia desprezar.
Pra dar conta dessa complexidade encapsulada numa produção que se quer mais entretenimento do que estudo psicológico bergmaniano, Michelle Williams e Kenneth Branagh estão irretocáveis como Marilyn e Larry. É certo que o papel de Williams é a parte do leão, afinal, o próprio título focaliza a atenção no ícone hollywoodiano. Ela está genial nos maneirismos e na vulnerabilidade forte de Monroe. Fãs de Downton Abbey reconhecerão Jim Carter, o mordomo Mr. Carson, num pequeno papel de dono de pensão. Ele duvida que Clark trabalha com Marilyn; típico clichê fílmico, adivinha quem aparece lá no final?
Embora eu não tenha conseguido perceber que o tempo compartilhado entre Monroe e Clark tenha sido uma semana, Sete Dias com Marilyn é recomendável pelas atuações, pelo interesse que Monroe ainda desperta e por ser capaz de entreter sem precisar ser grande e definitivo filme.

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