quinta-feira, 2 de junho de 2016

ANTROPOLOGIA ALBINA

Há meses, recebi email do Hualafy Rafael Barbosa Santos, interessado em iniciar pesquisa antropológica tendo como tema as pessoas com albinismo. Os resultados começam a aparecer.
Nos dias 22 e 23 de outubro de 2015, o jovem pesquisador participou, na Universidade federal da Paraíba, em João Pessoa, da 1a Reunião de Antropologia da Saúde. Com o tema Políticas da Vida e Cidadania, o evento buscou reunir acadêmicos, gestores, profissionais e ativistas de movimentos sociais, interessados em se aproximar ou aprofundar abordagens antropológicas sobre a saúde. A 1a RAS foi uma iniciativa do Grupessc – Grupo de Pesquisa em Saúde, Sociedade e Cultura, em resposta à constatação de que não existe, no Brasil, um fórum específico para a discussão de pesquisas, problemas e debates próprios à antropologia da saúde. Ao longo de dois dias, o encontro permitiu compartilhar conhecimento, apresentar pesquisas concluídas e em andamento bem como discutir intervenções relacionadas a problemáticas que envolvem concepções e práticas de saúde, experiências de adoecimentos, socialidades biomédicas e políticas de saúde. A discussão saúde/cidadania esteve sempre presente, sendo o encontro uma oportunidade para pensar, desde a antropologia, alguns dos desafios das políticas e práticas em torno dos corpos, vidas e saúde das pessoas com as que trabalhamos. Nos dias 22 e 23 de outubro de 2015, foi realizada na Universidade federal da Paraíba, em João Pessoa, a 1a Reunião de Antropologia da Saúde. Com o tema Políticas da Vida e Cidadania, o evento buscou reunir acadêmicos, gestores, profissionais e ativistas de movimentos sociais, interessados em se aproximar ou aprofundar abordagens antropológicas sobre a saúde. A 1a RAS foi uma iniciativa do Grupessc – Grupo de Pesquisa em Saúde, Sociedade e Cultura, em resposta à constatação de que não existe, no Brasil, um fórum específico para a discussão de pesquisas, problemas e debates próprios à antropologia da saúde. Ao longo de dois dias, o encontro permitiu compartilhar conhecimento, apresentar pesquisas concluídas e em andamento bem como discutir intervenções relacionadas a problemáticas que envolvem concepções e práticas de saúde, experiências de adoecimentos, socialidades biomédicas e políticas de saúde. A discussão saúde/cidadania esteve sempre presente, sendo o encontro uma oportunidade para pensar, desde a antropologia, alguns dos desafios das políticas e práticas em torno dos corpos, vidas e saúde das pessoas.

Eis o trabalho apresentado por Hualafy:

REFLETINDO SOBRE OS ALBINOS, OS CHAMADOS “FILHOS DA LUA”: UM CAMPO EM CONSTRUÇÃO
Hualafy Rafael Barbosa Santos

INTRODUÇÃO
O presente trabalho propõe-se a realizar uma breve reflexão acerca das
pessoas com albinismo, levantando indagações e problemáticas possíveis de
serem construídas dentro das áreas de Antropologia, Sociologia, Educação,
Saúde e outras áreas afins. Sendo assim, inicio contextualizando o albinismo,
como surgiu o interesse em pesquisa-lo, as dificuldades em pesquisar
as pessoas com albinismo, a relevância dos estudos com os albinos. Através
deste esboço sobre as pessoas que vivem com albinismo, procura-se unir
forças com o grupo das pessoas albinas, no sentido de contribuir com mais
visibilidade e conquistas de direitos e, acima de tudo, na tentativa de adoção
de políticas públicas com ênfase na saúde, assim como melhores condições
de vida. Portanto, dou meus primeiros passos com estudos que possam
trazer reflexões consistentes, de modo que os “filhos da lua” nas aulas de
biologia deixem de ser apenas um “a” minúsculo dos genes recessivos e,
para além disso, que no âmbito acadêmico as pessoas albinas passem a ser
alvo de pesquisas científicas de forma cada vez mais crescente. Portanto,
como aprendiz na tarefa árdua de pesquisa, acredito que estudar as PCA
tem caráter de extrema importância e urgência. Penso que, com o número
maior de informações acerca das pessoas com albinismo, mitos poderão ser
desconstruídos e maiores informações sobre esses indivíduos poderão contribuir
significativamente para uma melhoria nas suas condições de vida,
bem como na intensificação e fortalecimento do processo de integração nos
meios sociais.
O albinismo é uma condição de natureza genética em que os indivíduos
nascem sem melanina, pigmento responsável pela coloração da pele, como
também dos olhos, cabelos e pelos do corpo. A falta da substância mencionada
acarreta as PCA, tornando-as totalmente vulneráveis às radiações
solares UVA e UVB. Essa ausência da pigmentação implica uma grande
probabilidade das PCA desenvolverem câncer de pele, por sinal, muita alta,
principalmente em países tropicais, como no caso do Brasil.
O albinismo inspira a criação de mitos culturais em todo o mundo,
desde a ideia de que as pessoas com albinismo têm poderes mágicos, como
também de que os possuem problemas mentais. Outro mito que merece
ser evidenciado é o de que as pessoas com albinismo são consequência da
união entre a mulher negra e o homem branco. A condição econômica desfavorável
é outro fator agravante para as pessoas com albinismo, visto que
o bloqueador solar tem um preço elevado e muitos não têm condições de
obtê-los para as devidas precauções e cuidados.

OBJETIVOS
• Observar como as pessoas com albinismo estão se mobilizando
para o aumento de sua visibilidade social e reivindicando a adoção
de políticas públicas de saúde.
• Perceber como se dá o processo de relação social das pessoas
com albinismo em face daquelas que não são albinas
• Analisar como esses indivíduos estão se organizando em grupos
que se reconhecem enquanto detentores de uma “identidade
albina” e reivindicando políticas públicas de saúde.
• Perceber a ausência ou presença de estigmas e preconceitos decorrentes
da sua condição genética.
• Averiguar como uma pessoa com albinismo lida com ser albino
em uma sociedade de “cores” e em um país tropical.
• Investigar dificuldades enfrentadas oriundas da sua condição
genética.
• Perceber o impacto que a ausência de políticas públicas de saúde
acarretam em suas vidas.
• Investigar como eles se sentem enquanto albinos, abordando a
questão das emoções.

QUAL A RELEVÂNCIA DOS ESTUDOS COM PESSOAS ALBINAS?
A importância destes primeiros passos na elaboração deste trabalho se
constitui no fato de seu pioneirismo no tocante aos estudos das pessoas com
albinismo dentro da área de Sociologia e Antropologia, e na proposição de
dar voz às pessoas com albinismo, levando as suas indagações e problemáticas
para fóruns, congressos, encontros, oficinas. Os pais das pessoas com
albinismo necessitam de informações e apoio para entender e saber como
lidar com seus filhos, parentes, amigos.
É de se perguntar: com um número maior de pessoas informadas sobre
o albinismo, o índice de mortalidade dos albinos diminuiria? Entender o
que os albinos pensam sobre ser albino é relevante? O que é ser albino em
uma sociedade de cores? Será que ocorre uma negação do individuo albino
perante sua condição genética? Como as pessoas albinas se reconhecem?
Como ocorre o processo de escolarização das crianças com albinismo? E
as relações sociais das pessoas com albinismo com as que não o são? Como
as pessoas albinas lidam com os estereótipos? O que eles necessitam? E os
aspectos emocionais das PCAs? Tais questões merecem ser respondidas,
pois, ainda que existam estudos sobre o albinismo, eles apenas apresentam
o que ele é, como ocorre, precauções e prevenções, não havendo pesquisas
para entender como é que o a pessoa albina se sente, como age, como vive,
que dificuldades experimentam, como se veem, e quais seus sonhos, desejos
e vontades.

BREVES APONTAMENTOS TEÓRICOS
De acordo com Langdon e Wikk (2010), no Brasil, estudos e pesquisas
sobre saúde, cultura e sociedade têm se multiplicado circunstancialmente
nos últimos vinte anos. Na última década, a Antropologia da Saúde vem se
consolidando como campo de reflexão, formação acadêmica e profissional de
médicos, enfermeiros e demais profissionais da área da saúde no País. Nesse
sentido, ao perceber a condição que as pessoas com albinismo enfrentam no
tocante à questão de sua saúde, propus-me a entender , analisar e investigar
como a ausência de políticas públicas de saúde pode interferir de forma direta
no processo de sobrevivência e de melhoria de vida das pessoas albinas.
Pensando a partir do estigma que elas sofrem, segundo depoimentos que
foram extraídos, irei me valer do conceito de estigma com base no sociólogo
Ervin Goffmam (1988), pois ele afirma que atributos indesejados, tais como
a cor da pele, religião, deficiência física, opção sexual, entre tantas outras
possibilidades, são considerados estigmas, no caso dos ciganos o estigma é
presente em sua identidade e suas práticas sociais. Goffmam aponta que o
estigma estabelece uma relação impessoal entre indivíduo estigmatizado e
indivíduo não estigmatizado.

METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da pesquisa em questão é de fundamental
importância a adoção de diversas técnicas, dentre as quais destaco: pesquisa
bibliográfica, entrevistas abertas e aplicação de questionários, além da
netnografia.
De início, proponho-me a entender como as pessoas albinas lidam com
o albinismo, no tocante as interações sociais, sociabilidade, inserção no
mercado de trabalho, preconceito, estigmas.
Algumas considerações provisoriamente finais
Não apresento resultados, pois algumas indagações que foram levantas
precisam ser respondidas, e serão trabalhadas posteriormente, pelo autor
deste trabalho, através da observação participante, netnografia e entrevistas.
Para uma melhor compreensão, deixo clara a necessidade de tomar as pessoas
com albinismo como um objeto de estudo de extrema relevância social.
Tal como o projeto de Bíscaro, proponho-me, por meio dos dados coletados,
a contribuir de maneira significativa para dar visibilidade aos PCA, como
também para a adoção de políticas públicas voltadas para eles. Acredito que
a realização do censo dessas pessoas já seria de grande valia, para termos
noção da quantidade de pessoas com albinismo no país.
Para além do Brasil, há muito ser relatado, principalmente no que diz
respeito aos albinos da África, particularmente da Tanzânia, onde eles são
cobiçados pelos bruxos e curandeiros; os membros dos seus corpos, tais
como, as pernas, os braços, a pele, a língua, as genitais e cabelos de albinos
milhões de dólares, segundo Basso e Nina (2010, p. 4).
As teorias que me deram suporte para o desenvolvimento da pesquisa
com as pessoas albinas dentro da Área da Antropologia e Sociologia estão
sendo desenvolvidas. Muito se tem a falar ainda sobre as pessoas com albinismo,
só nos resta encontrar espaço e pessoas interessadas por essa problemática
de extrema relevância social.

Referências
ARAÚJO, S. S.; ARAGÃO, A. S. S. A autoaceitação no cotidiano dos “filhos da lua”: Uma
analise do ser diferente na obra Escolhi ser Albino, de Roberto Rillo Bíscaro. CONGRESSO
INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO E INCLUSÃO, Campina Grande, Paraíba, 2014.
BÍSCARO, R. R. Escolhi ser albino. São Carlos, SP: EdUFSCar, 2012.
GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Trad.
Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. 4. ed. Rio de Janeiro: LCT, 1988.
LANGDON, E. J.; WIKK, F. B. Antropologia, saúde e doença: uma introdução ao conceito
de cultura aplicado às ciências da saúde. Revista Latino-Americana de Enfermagem,
v. 18, n. 3, p. 173-181, mai.-jun. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n3/
pt_23>. Acesso em: 18 out. 2015.
Palavras-chave: Pessoas com albinismo; Políticas públicas; Saúde; Visibilidade.

O trabalho de Hualafy e os demais, muito interessantes, estão disponíveis nos anais da reunião, acessíveis em:

Parabéns e obrigado ao acadêmico, contribuindo para a crescente visibilidade do tema albinismo!

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