Roberto Rillo Bíscaro
Aos 6, 7 anos, minha “ídala” máxima era Gal Costa. Amava
o berreiro da fase Tropicalista. Tinha os 2 álbuns de início da carreira, que
minha irmã comprara usados, acho, e ouvia sem parar o psicodelismo de The Empty
Boat, Pulsars e Quasars, Meu Nome É Gal. Maria da Graça miava, latia, gritava.
Mas também havia a doçura chapada de Baby. Ainda ouço muito e continuam sendo 2
dos maiores discos já feitos.
Àquela altura – 74/5 – Gal já não era roqueira e
progressivamente assumia ares merecidos de diva/madona da MPB. Segui gostando,
fui a show em 87 ou 88 – gostosíssima no palco e cônscia disso, o gargalo
lotado de lésbicas delirantes e fazendo o tolo RÁ, modinha 80’s já nem lembro
direito porquê – embora não me conforme com a regravação de Baby; chacinar uma
das mais lindas canções da MPB, que, ainda por cima ela mesma gravara!
Gostos se alargando de modo que gosto de acreditar
eclético, fui perdendo a trilha de lançamentos de Gal, mas ela é a única
responsável por a) eu curtir coisas alternativas, “bizarras” e “diferentes”,
porque o pontapé veio dela, b) notar que era melhor não ser careta. Conforme
ela se convencionalizou (no bom sentido), pagou o preço de ter me ensinado a
cavucar o alternativo e esnobar a grande imprensa e, no processo, sequer soube
do lançamento de Estratosférica, há mais de um ano. E que orgulho de tê-la como
madrinha do gosto musical; o álbum está muito bom.
Por ter atravessado gerações e mudado de estilos, a
cantora pode não agradar a todos com seus álbuns, mas Estratosférica tem pra
desde quem curte rock até pra moçada mais nova que pode tê-la conhecido melhor
com o eletrônico Recanto (2011). Caê Velô saiu da produção, mas o filhão Moreno
continuou e uniu o tradicional ao moderno.
A abertura vem com as guitarras psych nervosas de Sem Medo Nem Esperança, provando que Gal still rocks! A canção-título seria
descrita como afoxé nos 80’s; Quando Você Olha Pra Ela é
sambinha-Benjor-esquema-novo; Casca é eletrônica EDM; Muita Sorte é synthCaymmi,
eletrococo; Ilusão à Toa é daqueles boleros domesticados que consagraram a
intérprete nos 80’s, tem até letra na segunda pessoa do singular. Além dela,
Estratosférica traz baladas lindas, que tocariam muito nas rádios em outro
contexto musical: Jabitacá, Espelho D’Água, Amor Se Acalme e Dez Anjos são
desse jaez.
Por vezes, moderno e tradicional coexistem. Ecstasy tem
ritmo bem de dança de salão de programa Festa Baile, mas o êxtase amoroso vem
gravado e pronunciado como a droga do coração das raves acidhousistas. A maliciosa Por Baixo é pipocar eletrônico,
mas a interpretação de Gal não está tipo Canta Brasil de vez em quando? A
pedestre Você Me Deu coloca cordas melosas com barulho grave à Bjork.
O deslize vem em Anuviar. Moreno achou que encher a
canção de pausas a tornaria avant garde, mas
ficou apenas chata e pulável no sentido de a desprezarmos na audição.
Ainda que o álbum não o
seja, Gal Costa continua estratosférica.
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