Roberto Rillo Bíscaro
Roine Stolt é figura-chave do prog sueco desde os anos
70, quando liderava o Kaipa. Em 94, criou o The Flower Kings, em atividade
desde então e um dos líderes da cena prog mundial, juntamente com o Spock’s
Beard, ex-banda de Neal Morse, que com Stolt é parte do multinacional
supergrupo Transatlantic. A comunidade prog não é muito grande. O já 60tão
Stolt é da escola sinfônica do prog rock de matriz anos setenta e uma de suas
influências confessas e marcantes é o baluarte Yes.
Depois de ser demitido do Yes em 2008, o inglês
naturalizado norte-americano Jon Anderson tem tido mais êxito artístico do que
a banda que formou em 1968, com o falecido baixista Chris Squire. Sempre
envolvido num projeto ou noutro, Anderson formou a APB, Anderson-Ponty Band,
cujo álbum resultante, pode não ser obra-prima, mas é bem bom. Já o Yes, lançou
o competente Fly From Here (2011), mas depois o imperdoavelmente insosso Heaven & Earth, cada um com um vocalista. A despeito de Anderson ter demonstrado
desejo de retornar ao Yes, Steve Howe parece estar feliz sem o baixinho,
apelidado de Napoleão por seus colegas no auge do sucesso setentista.
Dia 24 de junho, saiu na Europa o álbum Invention Of
Knowledge, colaboração entre a voz d’anjo de Anderson e a celestial guitarra de
Roine Stolt. O projeto foi batizado progressivamente de Anderson/Stolt e é
nocaute nos ex-companheiros do Yes, porque soa digno do período áureo da banda,
entre 72-4.
As 9 faixas dividem-se em 3 suítes, respectivamente com
3, 2 e 3 canções cada e uma última faixa independente, a mais comprida música
individual do álbum, com mais de 11 minutos. As suítes são de uma homogeneidade
brilhante, recheadas de luxuosa orquestração, floreios de teclados e a lírica
guitarra de Stolt, que ponteia as canções conduzindo-as por debaixo d’água e
ocasionalmente emergindo para brincar na superfície, qual golfinho. Que seu
timbre lembre os melhores momentos de Howe e que fãs do Yes reconheçam trechos
reminiscentes de Close To The Edge, Relayer ou mesmo do primeiro solo de
Anderson não significa que seja cópia, mas que a marca Yes é tão forte que virou
traço de DNA. Stolt tem estilo próprio, mas foi influenciado pelo Yes, então, a
sonoridade está lá. Ademais, quantos fãs de Jon Anderson não esperam serem transportados
para os gloriosos dias do ápice?
De pouco adianta descrever as suítes e dizer que o início
de We Are Truth tem clima indiano e que o final de Everybody Heals é
jazzístico. O que importa é que Invention Of Knowledge é onda de prog sinfônico
com todo o drama do subgênero e por isso colocará fanáticos de joelhos com as
mãos para o céu agradecendo Jon e Roine.
A voz de Anderson está um pouco granulada, mas o cara tem
71 anos. Mesmo assim não dá pra reclamar; ele continua aquele anjão que
perdoamos mesmo quando canta que “somos gloriosos” ou “vivemos verdadeiramente
no paraíso” – ideias questionáveis para onças olímpicas em Manaus ou gays em
Orlando. O timbre agudo da voz sobreposto ao agudo da instrumentação apenas
soma ao clima Yes dos Primeiros Dias.
O senão fica com o começo da última canção, a
independente. Parte de Know... parece demo.
Como nossa apreciação das coisas se dá por comparação, a abundância dos
arranjos das suítes destoa da escassez do início de Know... Mas, são apenas
minutos, depois a canção se encorpa e assume tom sinfônico setentista. Quando
ocorre a descarga de teclado analógico e Anderson faz um malabarismo vocal
digno do perfeito Close To The Edge, os olhos marejam.
Em menos de 30 dias, o rock progressivo produziu dois
grandes álbuns: dia 27 de maio, Folklore, do Big Big Train e 24 de junho,
Invention Of Knowledge, de Anderson/Stolt. 2016 tem sido bom e esses dois
álbuns já estão na lista de melhores do ano.
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