segunda-feira, 27 de junho de 2016

CAIXA DE MÚSICA 224

InsideOut
Roberto Rillo Bíscaro

Roine Stolt é figura-chave do prog sueco desde os anos 70, quando liderava o Kaipa. Em 94, criou o The Flower Kings, em atividade desde então e um dos líderes da cena prog mundial, juntamente com o Spock’s Beard, ex-banda de Neal Morse, que com Stolt é parte do multinacional supergrupo Transatlantic. A comunidade prog não é muito grande. O já 60tão Stolt é da escola sinfônica do prog rock de matriz anos setenta e uma de suas influências confessas e marcantes é o baluarte Yes.
Depois de ser demitido do Yes em 2008, o inglês naturalizado norte-americano Jon Anderson tem tido mais êxito artístico do que a banda que formou em 1968, com o falecido baixista Chris Squire. Sempre envolvido num projeto ou noutro, Anderson formou a APB, Anderson-Ponty Band, cujo álbum resultante, pode não ser obra-prima, mas é bem bom. Já o Yes, lançou o competente Fly From Here (2011), mas depois o imperdoavelmente insosso Heaven & Earth, cada um com um vocalista. A despeito de Anderson ter demonstrado desejo de retornar ao Yes, Steve Howe parece estar feliz sem o baixinho, apelidado de Napoleão por seus colegas no auge do sucesso setentista.
Dia 24 de junho, saiu na Europa o álbum Invention Of Knowledge, colaboração entre a voz d’anjo de Anderson e a celestial guitarra de Roine Stolt. O projeto foi batizado progressivamente de Anderson/Stolt e é nocaute nos ex-companheiros do Yes, porque soa digno do período áureo da banda, entre 72-4.
As 9 faixas dividem-se em 3 suítes, respectivamente com 3, 2 e 3 canções cada e uma última faixa independente, a mais comprida música individual do álbum, com mais de 11 minutos. As suítes são de uma homogeneidade brilhante, recheadas de luxuosa orquestração, floreios de teclados e a lírica guitarra de Stolt, que ponteia as canções conduzindo-as por debaixo d’água e ocasionalmente emergindo para brincar na superfície, qual golfinho. Que seu timbre lembre os melhores momentos de Howe e que fãs do Yes reconheçam trechos reminiscentes de Close To The Edge, Relayer ou mesmo do primeiro solo de Anderson não significa que seja cópia, mas que a marca Yes é tão forte que virou traço de DNA. Stolt tem estilo próprio, mas foi influenciado pelo Yes, então, a sonoridade está lá. Ademais, quantos fãs de Jon Anderson não esperam serem transportados para os gloriosos dias do ápice?
De pouco adianta descrever as suítes e dizer que o início de We Are Truth tem clima indiano e que o final de Everybody Heals é jazzístico. O que importa é que Invention Of Knowledge é onda de prog sinfônico com todo o drama do subgênero e por isso colocará fanáticos de joelhos com as mãos para o céu agradecendo Jon e Roine.
A voz de Anderson está um pouco granulada, mas o cara tem 71 anos. Mesmo assim não dá pra reclamar; ele continua aquele anjão que perdoamos mesmo quando canta que “somos gloriosos” ou “vivemos verdadeiramente no paraíso” – ideias questionáveis para onças olímpicas em Manaus ou gays em Orlando. O timbre agudo da voz sobreposto ao agudo da instrumentação apenas soma ao clima Yes dos Primeiros Dias.
O senão fica com o começo da última canção, a independente. Parte de Know... parece demo. Como nossa apreciação das coisas se dá por comparação, a abundância dos arranjos das suítes destoa da escassez do início de Know... Mas, são apenas minutos, depois a canção se encorpa e assume tom sinfônico setentista. Quando ocorre a descarga de teclado analógico e Anderson faz um malabarismo vocal digno do perfeito Close To The Edge, os olhos marejam.
Em menos de 30 dias, o rock progressivo produziu dois grandes álbuns: dia 27 de maio, Folklore, do Big Big Train e 24 de junho, Invention Of Knowledge, de Anderson/Stolt. 2016 tem sido bom e esses dois álbuns já estão na lista de melhores do ano. 

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