Roberto Rillo Bíscaro
De 24 de setembro de 2015 a 12 de maio, a ABC exibiu a
quinta temporada de Scandal (leia aqui, minha opinião sobre as temporadas um,dois, três e quatro). Estava prá lá da metade da segunda temporada de Empire,
quando decidi dar uma olhadela em pelo menos um capítulo da série de Shonda
Rhimes. Deixei o show da Fox de lado enquanto não vi o fim dos 21 episódios da
gladiadora Olivia Pope e suas hipócritas bravatas sobre decência; quando lhe
convém ela dorme com assassino de inocente numa boa. Por isso, continuo
gostando mesmo é de Cyrus e Mellie, que quando querem algo, fazem o que têm de
fazer, especialmente o primeiro.
A protagonista Olivia Pope é índice da ilusória
profundidade das personagens das soaps
modernas. JR Ewing era malvado sem culpa e sem piedade ou crise de consciência.
Hoje já não cola mais ser assim, então, Olivia faz discurso sobre ética, sobre
ser diferente do pai – Papa Pope continua enfático e enfadonho, por Deus! – e
passa lição de moral em Cyrus, mas trepa como louca com Jake Ballard mesmo
sabendo que este matou inocentes a sangue frio.
Sua incapacidade pra frear seus instintos a torna tão vulnerável como
qualquer Sue Ellen Ewing de outrora; fantoche que acaba fazendo o que algum
macho quer; “that’s my girl” gaba-se Papa Pope no capítulo derradeiro. Ela fez
tudo o que ele esperava; afinal, ela é ele castrado e com cabelo. O mundo de
Scandal é tão falocêntrico quanto o de DALLAS ou Dynasty. E branco também; a
cor da pele de Kerry Washington de nada importa e isso está (inconscientemente?)
codificado numa das subtramas da temporada, basta prestar atenção no porquê e
como o aspirante à presidência senador Edison Davis implode sua candidatura.
Além disso, as decisões de todas as personagens continuam
imaturas, porque intempestivas. Isso é condição sine qua non pra perpetuação de conflitos, responsáveis por nossa
adicção nesse tipo de série, mas também é indício de que a suposta dubiedade
das personagens contemporâneas é ilusão de ótica. Inconsistentes, mas não
profundas. Profundidade não combina com soap.
E quem se importa? Queremos briga, escândalo e baixaria e isso Scandal tem
de sobra.
A vice-presidente Susan Ross é tão gracinha, que por
pouco não tive pena por torcer que ela fosse destruída pra dar espaço a Mellie.
Mas não pretendo ser fã contemporâneo, por isso, multifacetado, de soap: sou Mellie Grant e danem-se os
demais, inclusive, Cyrus; na sexta temporada continuarei amando-o, mas torcendo
pra Mellie ganhar. Aliás, Cyrus recuperou-se nessa temporada. Nos primeiros
capítulos estava anulado como na anterior, mas quando recobrou seu pique, sai
de baixo, amei! A ex-vice Sally Langston, com seu programa de TV que serve como
coro grego muitas vezes, também esteve ótima. Alguém mais acha que ela lembra
demais a Maggie Thatcher?
Uma coisa que alguém poderia me explicar: qual a função
da Elizabeth North, pra que a Portia de Rossi seja creditada como elenco
principal? A atriz continua fazendo mais jus ao epíteto “esposa da Ellen
DeGeneres” do que “atriz de Scandal”. Outro cada vez mais chato e sem utilidade
é Huck, com aquela cara prestes a se debulhar em lágrimas. De Quinn nem vou
reclamar, porque é legal ter gente como ela, Huck e Elizabeth, na era do
Whatsapp; dá pra checar se tem mensagem (e respondê-las) sem precisar pausar.
Ecoando desde a morte da Princesa Diana à candidatura do
caricato fascista Donald Trump, Scandal continua irresistivelmente insano e
irrealista, portanto, uma delícia. Tirando um capítulo mais chato do que
extração dentária – faça-me um favor aquele episódio do casamento do Jake,
heim?! – o resto me mantinha em excitação constante e ansioso pra sexta
temporada.
E pra presidente, Mellie Grant! Só Scandal mesmo pra me
fazer torcer por uma Republicana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário