Roberto Rillo Bíscaro
A acessibilidade a lançamentos na era da internet é
estonteante. Além disso, são tantas fontes de informação, tantos sites-nichos ou mailing lists-guetos, que se pode focar num subgênero e alhear-se a
todo o resto. As ofertas aumentam exponencialmente, mas não nosso tempo, por
isso não mais me surpreende desperceber até lançamentos importantes, porque
calhou de estar voltado para outro quadrante da galáxia naquele momento.
Ainda bem que estava atento ao mundo prog dia 10 de
junho, quando o Paradigm Shift lançou seu álbum de estreia, Becoming Aware,
pela Bad Elephant Music. Formada em 2007, em Londres, Ben Revens (vocais,
teclados e piano), Reuben Krendel (guitarras), Puru Kaushik (baixo) e Bryson
Demath (bateria) fazem rock progressivo de linhagem sinfônica, com influência
marcada de prog metal, tipo Dream Theater.
A fome de mostrar serviço é tanta que os caras já abrem o
álbum com o épico, geralmente colocado no fim. A Revolutionary Cure tem quase
15 minutos e sintetiza o clima de Becoming Aware. Intercala guitarras pesadas
com cristalinas; momentos prog sinfônicos com metal, mas com pontadinha funk;
mudanças de andamento e tempo. Pode não ser a faixa mais original da história,
mas é inegavelmente parte da tradição do prog britânico.
A transição para An Easy Lie ocorre em clima meio de drone eletrônico com piano jazzístico,
para adotar clima sinfônico com Moog e tudo, para metamorfosear-se em prog
metal com piano sob vocal rappeado (meio
forçado). Becoming Aware é cheio dessas alterações; a audição nunca é
entediante, dá para dançar e bater cabeça/cabelo. Só nessa faixa a guitarra soa
metal, funk e jazz, em menos de 9 minutos.
The Void e The Shift são dois instrumentais curtos (para
padrões prog), que transicionam para os momentos melhores de Becoming Aware. A
primeira é piano sobre ambiência electronica
celestial – fãs de piano, este álbum está lotado! – e a segunda faz jus ao
título, porque mudança realmente ocorre e o clima fica mais ligeiro e o instrumental
mais encorpado.
Masquerade e Reunification fecham o trabalho emendadas,
então a impressão é a de grande épico que encerra álbum tradicional de prog
inglês. E não é falsa impressão, porque é o ponto alto. Em Masquerade a
influência Dream Theater se aquilata até com tentativa de ganido metal e interplay dramático entre teclado e
guitarra, que tanto agrada a fãs de power prog sinfônico. Reunification tem
momentos de melodia grudenta e até segundos de clima Mil e Uma Noites.
A despeito de certa falta de profundidade e peso na
mixagem e de os vocais às vezes soarem flutuando fora da instrumentação e
precisarem de certa produção, Becoming Aware é estreia altamente promissora de
uma banda que o mundo precisa prestar atenção. Pelo menos a parte dele composta
por progheads devotos de malabarismo
sinfônico; o Paradigm Shift tem muito a oferecer.
E isso não está à disposição apenas de esnobe elite
musical que só escuta o que ninguém ouve. Está no Bandcamp, de graça, ao seu
alcance:
Nenhum comentário:
Postar um comentário