Roberto Rillo Bíscaro
Em 2008, quatro rapazes interessados em rock que conta
histórias, investe na teatralidade e foge da fórmula verso-refrão-verso fundaram
uma banda em Nova York. Influenciados por artistas como Frank Zappa, a fase gabriélica do Genesis, Tool, Devo, Gang Of Four, só para citar alguns que não mencionarei
na resenha, George Frye e Joe Stratton (compartilhando vocais e guitarras),
Mark Jaynes (baixo) e Seth Miller (bateria) forjaram sonoridade que pode agradar
tanto a fãs do Ghost, Mike Patton ou de progressivo entendido como complexidade
experimental sem necessariamente ser canção de 42 minutos de duração.
A coisa tem dado tão certo que o Not Blood Paint já
chegou ao quinto álbum, lançado dia 17 de junho, modernamente financiado por
campanha no Kickstarter. Believing Is Believing traz síntese que desagradará
puristas rock remanescentes, ou rockistas, como aprendi em rara leitura de
comentários em matérias internéticas.
Take Another Chance abre já botando rockistas para correr.
Batidão discofunk
intercala-se/coexiste com rock da costa oeste. Um dos pontos fortes do álbum
são os vocais e aqui vai-se de imitação de falsete a ganidinho rock; Hercules And Love Affair encontra os Chili Peppers. Vocais ótimos e também profissionalmente harmonizados:
ouça bluesy Erotic Love Mercy no fone
de ouvido e confira 3 timbres de vozes invadindo sua cabeça ou Trial By Fire,
que além das preciosas harmonias ainda se desenvolve por mutações. Começa como
fosse experimental, mas logo vem clima popaço de acompanhar com o pezinho, mas
é rock.
Alternância, fluidez, mutabilidade são características
fundantes em Believing Is Believing, que pós-mdernamente não foca em nenhum
subgênero. Play Nice vai de esparsa guitarra blues a muralha de som berrada,
cujo drama Muse emenda-se com a próxima canção, I Am An Angel, que em clima de
lôka Queen traz letra-bravata pseudo-satanista stoner: “you don’t know what I’m capable of/my agenda is beyond
your comprehension.” Claro que se tem Muse no cardápio, o ingrediente Radiohead
não estaria ausente. One By One e Borderline trazem o hipnotismo de uma fase em
que o cerebralismo não dominara por completo a música dos ingleses.
A safada historieta de The French Song, com seu sexo em
sauna e policiais corruptíveis, liga o Not Paint Blod a outro cronista de Nova
York, Lou Reed. Engraçado como mesmo obras da multiquebrada pós-modernidade
seguem seus fios de tradição; não espanta a coexistência da disco music em banda cuja cidade-natal
foi berço das discotecas. Continuidades na ruptura. Ou rupturas na continuidade?
Believing Is Believing está disponível para audição e
compra no Bandcamp, onde você também escuta e adquire o resto da discografia:
Nenhum comentário:
Postar um comentário