Organização moçambicana pede julgamentos públicos para casos de albinos
A associação de defesa de albinos Amor à Vida quer que os julgamentos em casos de assassínio, rapto e tráfico de órgãos de pessoas portadoras de albinismo passem a ser públicos como forma de retrair as perseguições em Moçambique.
"Gostaríamos que o julgamento desses casos fossem um ato público, que todas as pessoas pudessem ter acesso à sessão, para termos certeza que essas pessoas estão a ser punidas exemplarmente", disse Adelina Afonso, representante da Associação Amor à Vida na província de Manica, centro de Moçambique.
Apelando à polícia moçambicana para encaminhar para a justiça os casos denunciados pela instituição, Adelina Afonso foi uma das participantes num encontro realizado na segunda-feira em Chimoio, capital de Manica, onde também participaram várias pessoas portadoras de albinismo, polícia e médicos tradicionais.
O obscurantismo e a ignorância são apontados como as principais causas da perseguição a albinos em Moçambique e, em alguns países do continente africano, há pessoas que acreditam que podem enriquecer após passarem por ritos em que são usados órgãos de pessoas com albinismo.
Em 2015, segundo dados apresentados recentemente pela Procuradoria-Geral da República (PGR), 13 pessoas albinas morreram e outras 51 foram atacadas.
A província de Nampula, norte do país, foi a que registou mais casos de ataques a pessoas albinas, com 29 vítimas, incluindo mortes, seguida de Zambézia, com sete, e de Cabo Delgado, com cinco.
Do encontro realizado no Chimoio, saiu também o pedido para medidas que desencorajem raptos e assassínios de albinos, seguindo uma recomendação da Comissão Nacional de Direitos Humanos, que entende as medidas meramente punitivas como insuficientes.
Adelina Afonso apelou ainda para um cadastro de médicos tradicionais em todo o país, além dos meios que usam para o exercício das suas funções, como forma de ajudar a identificar os mandantes de crimes contra albinos.
Moisés Parange, presidente provincial da Aermo (Associação de Ervanários de Moçambique), que reúne médicos tradicionais, lamentou a perseguição dos albinos no país, afastando os membros da sua instituição desses atos.
"Desde há muito em Moçambique que existem médicos tradicionais e nunca estiveram envolvidos nos assassinatos de albinos. Repudiamos o sequestro de albinos", declarou.
Um relatório independente publicado em março por Ikponwosa Ero, especialista sobre os direitos das pessoas com albinismo, aponta Moçambique na lista dos sete países com mais crimes registados contra estas pessoas em África e revela a existência de um "mercado lucrativo e macabro" no continente, onde se chegam a pagar dois mil dólares (1,8 mil euros) por um membro ou 75 mil dólares (67 mil euros) pelo "conjunto completo".
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