Roberto Rillo Bíscaro
Semana passada, afirmei que a cor da pele de Kerry
Washington não torna a personagem Olivia Pope negra, em Scandal. A sedutora de
presidentes tem a identidade racial tão neutra quanto a de Mellie Grant. Então,
é como se o mundo fosse chapadamente igual pra todos. Não que se lamente a
presença de afro-americanos, gays ou qualquer outro segmento nas telinhas. É
inclusivo, educativo, pode realmente auxiliar no entendimento de grupos
minoritários, oprimidos ou como se queira chamá-los.
É preciso atenção pra não alimentar ilusões, porém. O
atentado em Orlando e a enxurrada de subsequentes comentários homofóbicos provam
que Mitch e Cam ou Nolan são representações não tão realistas e podem até dar
a impressão – mormente para estrangeiros que consomem TV ianque como elixir – de
que os EUA são um mar de rosas inclusivamente corretas, onde a questão racial e
de orientação sexual estejam perto de ser superada.
Empire, merecido sucesso folhetinesco da Fox, foi
alardeada como primeira soap de
horário- nobre protagonizada por afrodescendentes pró-ativos e ricos. Correto,
mas a não ser pelo marcador cultural do hip
hop e perfumaria de adereços, a questão da negritude, no que realmente
importa, passa batida. Quando resenhei a temporada inicial, alfinetei que as
atitudes das personagens provavam que negros conseguiam ser tão estúpidos e/ou
canalhas quanto brancos.
Entre setembro e maio foram exibidos os 18 episódios da
segunda temporada. Audiência e crítica foram positivas e o show oferece toda a sordidez de butique que esperamos de uma boa soap. É divertido perceber pretensões
shakespearianas de Rei Lear ou d’algum Ricardo pra tentar conferir profundidade
a algo que tem que ser raso pra ser viciante.
Apelidada de Dynasty negra, Empire assumiu de vez a
influência, não apenas na suntuosidade dos cenários e na velocidade com que
Cookie Lyon troca de roupa: em uma das inúmeras brigas e punhaladas entre os
membros da família Lyon, Cookie cria uma gravadora pra rivalizar com a Empire,
de Lucius. O nome? Lyon Dynasty...
Recheada de números musicais por se centrar numa
gravadora de black music - o que
resulta em lançamento de álbuns com a trilha-sonora – é preciso estar preparado
pra necessário hype interno das canções e não se decepcionar, quando, começam a
cantar, porque não se trata dum novo clássico como dado a entender pelo diálogo
anterior. Exceto por 3 ou 4 coisas marcantes nos 2 álbuns resultantes da
temporada, a produção musical de Timbaland é competente, mas não produtora de
clássico atrás d’outro.
Também quando resenhei Scandal, contei que interrompi
Empire e não voltei enquanto não vi o fim da saga de Mellie e Cyrus (Olivia who?).
Meu problema é que não me identifiquei com nenhuma personagem. Tem todos os
elementos que amo, porque sou noveleiro estadunidense mais do que assumido, mas
não consigo me importar com ninguém. Passional, quando se tata de soap, tenho que ter um grande amor.
Conrad e Victoria Greyson, JR Ewing, Alexis Morel Carrington Colby Dexter.
Mesmo shows naufragados eu
continuaria vendo se tivesse personagem amada, tipo o casal Doran, em 666 Park Avenue; Robert Bowers, em Deception ou Siobahn, em Ringer. Claro que Empire não
é como Betrayal e Blood and Oil, onde também não me identifiquei com ninguém,
porque o roteiro era ruim. É boa, provavelmente assista à terceira temporada,
mas não entra no meu Top Ten noveleiro.
Ah, e dizer que o cliffhanger
envolve a morte de “importante personagem” como li na imprensa dos EUA é forçar
a barra, como Game Of Thrones e sua suposta carnificina de personagens (por
acaso tiveram a coragem de matar John Snow na temporada que recém-terminou?).
Como boa defensora da santa família do horário-nobre norte-americano,
importante é só a família Lyon e olhe lá, porque aquele filho mais velho
poderia empacotar que nem sentiríamos a ausência.
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