Roberto Rillo Bíscaro
A bola da vez no telemundo cult parece ser pequena voga de séries belgas. A primeira temporada
de Cordon (2014) foi exibida numa das BBCs e ganhou refilmagem norte-americana,
chamada Containment. A mesma emissora britânica exibirá a série de humor-negro
The Out-Laws. Além disso, li elogios sobre 2 policiais: La Trêve e Enemi
Public. Já resenhei Salamander.
O tema das prostitutas estrangeiras na Europa já
aparecera em episódios de diversas séries escandinavas e depois que li e
resenhei Prostituição à Brasileira, de José Carlos Sebe Bom Meihy, quis saber
mais. Pra criar background pra
possível onda belga (Cordon está num HD há meses), vi as 2 temporadas de
Matrioshki (2005-7), que mostra que Bélgica e Holanda são teteias apenas
dependendo do lado em que se vive.
O título alude às bonecas russas vendidas em profusão nos
pontos turísticos da terra de Putin. De madeira, há uma série de bonecas idênticas
dentro da outra, até a última ser maciça. A metáfora da quantidade e anonimato
de massa do vagalhão de moças pobres oriundas da Europa Oriental, que vem à
rica parte ocidental e são brutalmente exploradas é oportuna, esperta e triste.
São 20 capítulos, sendo que os 10 da segunda temporada
expandem a geografia e mostram como a Tailândia também exporta prostitutas e
esposas pra europeus que as veem e tratam como meros objetos.
Não estudei ou li muito sobre o fenômeno, mas a
organização retratada em Matrioshki, embora estruturada e tentacular, não é tão
eficiente, porque os membros desperdiçam muitas oportunidades e deixam muitas
brechas, devido a rusgas internas. Claro que se trata de programa de TV e não
documentário, então pra haver conflito talvez o roteiro tenha preferido deixar
os caras maus menos eficientes.
Embora não seja sensacional, Matrioshki vale por exibir
realidade bem distinta daquela dos noticiários que exalam sentimento de
inferioridade perante o suposto fechamento de presídios holandeses ou o elevado
IDH belga. Pode até ser birra Bélgica-Holanda, mas a pátria de Van Gogh é
temida até pelas prostitutas escravizadas na Bélgica, que não querem ir pra lá
pra servirem 20 caras duma vez. Além disso, há intimidação de jornalistas,
corrupção policial e um bando de europeus jecas, nada merecedores do título de
“desenvolvidos”. E também o triste retrato do leste europeu com locais tão
desconhecidos quanto a África, porque afinal, o ex-bloco comunista é a África
europeia, onde leilões humanos são realizados e os preços das moças varia de
acordo com sua etnia.
A primeira temporada está completa no Youtube, em
espanhol. Foi esta versão que vi.
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