Roberto Rillo Bíscaro
Documentários sobre filmes trash têm o benefício de mapear tesouros a escavar e mostrar as
cenas mais legais de películas nas quais 75 minutos são tédio pra míseros 17 de
alegria vulgar. Not Quite Hollywood: The Wild, Untold Story Of Ozploitation!
(NQH, pra encurtar) traz uns 100 minutos de cenas e depoimentos sobre exploitation films australianos; produções
baratas, sem astros ou com aqueles já decadentes, apelativas, abordando sua
temática de modo mórbido e sensacionalista. O barato dessas produções são os
efeitos especiais toscamente exagerados, sexo, violência, nudismo, sanguinolência
e bizarrices. O Oz do título é corruptela de Aus/Aussie, adjetivo relativo a
que(m) provém da Austrália. Meio brincadeira com a estranha terra de Oz, criada
no romance de L. Frank Baum.
Escrito e dirigido por Mark Hartley, em 2008, NQH cobre o
período de início dos 70’s ao início dos 90’s, construído como época de ouro da
tosqueira de Down Under (outra forma de chamar o continente australiano). Cheia
de drive ins, porque obcecada por e
dependente de automóveis como os EUA, a Austrália oferecia bom mercado pra
filmes baratos, oportunidade aproveitada por alguns espertos produtores, quando
a estrita censura foi relaxada e uma enxurrada de nudez, sexo, terror e
violência inundou os cines do país, ao mesmo tempo que uma vaga mais
respeitável e cult conquistava cines
de arte no resto do mundo. Filmes “respeitáveis” como o aclamado Picnic na
Montanha Misteriosa (1975), de Peter Weir, obliteraram dos compêndios de história
de cine australiano os abordados em NQH. Por isso, já vale muito, mas poderia
ser um tiquinho mais analítico. Hartley contentou-se em reunir um enorme número
de produtores, diretores, críticos e atores pra contar “causos” de produção,
elogiar/detonar os filmes. Como essa podreira fez bastante sucesso nos EUA,
atores decadentes ou novatos atuaram em diversas produções, daí a presença de
Stacy Keach, Dennis Hopper e Jamie Lee Curtis. Mas, quem dá aula de conhecedor
e fã confesso e irrestrito é Quentin Tarantino, que não poupa elogios.
Dividido em 3 partes, a primeira aborda filmes de sexo. A
segunda – e minha predileta -, filmes de horror, dentre os quais, Patrick, cuja
refilmagem resenhei aqui e também O Corte da Navalha, sobre um javali
assassino, dos 80’s, que amo demais pelo clima e pelos visuais. Esse é um
daqueles filmes que críticos abrem “exceção”, daí tem quem publicamente afirma
que são bons, caso contrário curtiria em segredo (tem maria-vai-com-as-outras
pra tudo, né?). Anotei vários pra procurar. A terceira parte é sobre filmes de
ação, daí não se podia olvidar de Mad Max (1979), que praticamente criou um
subgênero e como efeito colateral projetou Mel Gibson ao estrelato.
Indispensável pra quem se interessa mais pelo cine das
margens, que volta e meia vem pro centro. Ou por aquele que jamais veio.
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