quinta-feira, 7 de julho de 2016

TELONA QUENTE 166

Roberto Rillo Bíscaro

Documentários sobre filmes trash têm o benefício de mapear tesouros a escavar e mostrar as cenas mais legais de películas nas quais 75 minutos são tédio pra míseros 17 de alegria vulgar. Not Quite Hollywood: The Wild, Untold Story Of Ozploitation! (NQH, pra encurtar) traz uns 100 minutos de cenas e depoimentos sobre exploitation films australianos; produções baratas, sem astros ou com aqueles já decadentes, apelativas, abordando sua temática de modo mórbido e sensacionalista. O barato dessas produções são os efeitos especiais toscamente exagerados, sexo, violência, nudismo, sanguinolência e bizarrices. O Oz do título é corruptela de Aus/Aussie, adjetivo relativo a que(m) provém da Austrália. Meio brincadeira com a estranha terra de Oz, criada no romance de L. Frank Baum. 
Escrito e dirigido por Mark Hartley, em 2008, NQH cobre o período de início dos 70’s ao início dos 90’s, construído como época de ouro da tosqueira de Down Under (outra forma de chamar o continente australiano). Cheia de drive ins, porque obcecada por e dependente de automóveis como os EUA, a Austrália oferecia bom mercado pra filmes baratos, oportunidade aproveitada por alguns espertos produtores, quando a estrita censura foi relaxada e uma enxurrada de nudez, sexo, terror e violência inundou os cines do país, ao mesmo tempo que uma vaga mais respeitável e cult conquistava cines de arte no resto do mundo. Filmes “respeitáveis” como o aclamado Picnic na Montanha Misteriosa (1975), de Peter Weir, obliteraram dos compêndios de história de cine australiano os abordados em NQH. Por isso, já vale muito, mas poderia ser um tiquinho mais analítico. Hartley contentou-se em reunir um enorme número de produtores, diretores, críticos e atores pra contar “causos” de produção, elogiar/detonar os filmes. Como essa podreira fez bastante sucesso nos EUA, atores decadentes ou novatos atuaram em diversas produções, daí a presença de Stacy Keach, Dennis Hopper e Jamie Lee Curtis. Mas, quem dá aula de conhecedor e fã confesso e irrestrito é Quentin Tarantino, que não poupa elogios.
Dividido em 3 partes, a primeira aborda filmes de sexo. A segunda – e minha predileta -, filmes de horror, dentre os quais, Patrick, cuja refilmagem resenhei aqui e também O Corte da Navalha, sobre um javali assassino, dos 80’s, que amo demais pelo clima e pelos visuais. Esse é um daqueles filmes que críticos abrem “exceção”, daí tem quem publicamente afirma que são bons, caso contrário curtiria em segredo (tem maria-vai-com-as-outras pra tudo, né?). Anotei vários pra procurar. A terceira parte é sobre filmes de ação, daí não se podia olvidar de Mad Max (1979), que praticamente criou um subgênero e como efeito colateral projetou Mel Gibson ao estrelato.
Indispensável pra quem se interessa mais pelo cine das margens, que volta e meia vem pro centro. Ou por aquele que jamais veio. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário