segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CAIXA DE MÚSICA 233

Eat the Light cover art
Roberto Rillo Bíscaro

Lotus tem sólida reputação nos circuitos independentes de electronica. Fundado por estudantes universitários em 1999, os norte-americanos denominam seu estilo de jamtronica, porque como os grupos funk clássicos, as canções são desenvolvidas a partir de jams no estúdio.
Dia 15 de julho, o Lotus engrossou sua volumosa discografia com o surpreendente Eat The Light. Tento não usar o adjetivo surpreendente junto com qualidade – como é comum – porque acho elogio-sabotagem: se surpresa é algo inesperado, parece que não se esperava nada do artista. Horrível. A surpresa de Eat The Light não está na alta qualidade, mas na forma: o quinteto resolveu acessibilizar e lançou álbum com dez faixas deliciosamente dançantes, pop e com vocais, com influências que perpassam décadas.
De cara, o arraso do disco: Fearless. O Lotus afirmou que queria fazer músicas pras pessoas jogarem as mãos pro alto e dançarem no verão. Acertaram na mosca com esse disco-funkaço-pára-tudo! A primeira metade de Eat The Light continua com as batidas por minuto em alta rotação, o que muda são as matrizes. I’ve Been A Fool (Toy Guns) é mais New Wave com influência Acid House, mortal riff de guitarra funk e percussão à New Order, fase Technique. A faixa-título remete ao Talking Heads (que tem álbum chamado Remain In Light, de 1980), mas tem burburinho de eletrônica repetitiva presente do Kraftwerk e solo de guitarra intoxicante, que ocorre novamente em Move Too Fast, que além disso une 70’s e 90’s com baixo reverberante à Chic e barulhinho-delícia à Robin S. 
É a mistura competente de diversos subgêneros dance com pitadas de indie rock e música caribenha, uma das forças do álbum, que na metade final diminui as BPMs, mas não a rebolatividade. O indie rock de Sodium Vapor e When Our Nerves No Longer Twitch convive com a discomusic à Tina Charles de White Light Fadeway e o som que Nile Rodgers fez pra Sister Sledge em Anti-Gravity, mas com o contraponto da guitarra melancólica tipo Barney Summer. Esse rolo todo funciona, porque o Lotus domina os subgêneros de frente pra trás, conhece todos seus truques e de tanto tocar ao vivo e fazer jam, mesmo essa fornada pop saiu com incríveis força e organicidade (no sentido de tudo estar quase DNAmente imbricado).
O verão do hemisfério norte está no fim e a Philadelphia do Lotus logo entra nos meses cinzentos de outono-inverno. Por aqui a primavera ainda nem começou, então temos meses para dançar e comer a luz do Lotus.
Eat The Light e o restante da discografia está no Bandcamp, então, não há desculpa pra não conhecer:

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