Roberto Rillo Bíscaro
Lotus tem sólida reputação nos circuitos independentes
de electronica. Fundado por
estudantes universitários em 1999, os norte-americanos denominam seu estilo de jamtronica, porque como os grupos funk
clássicos, as canções são desenvolvidas a partir de jams no estúdio.
Dia 15 de julho, o Lotus engrossou sua volumosa
discografia com o surpreendente Eat The Light. Tento não usar o adjetivo
surpreendente junto com qualidade – como é comum – porque acho elogio-sabotagem:
se surpresa é algo inesperado, parece que não se esperava nada do artista.
Horrível. A surpresa de Eat The Light não está na alta qualidade, mas na forma:
o quinteto resolveu acessibilizar e lançou álbum com dez faixas deliciosamente
dançantes, pop e com vocais, com influências que perpassam décadas.
De cara, o arraso do disco: Fearless. O Lotus afirmou
que queria fazer músicas pras pessoas jogarem as mãos pro alto e dançarem no
verão. Acertaram na mosca com esse disco-funkaço-pára-tudo!
A primeira metade de Eat The Light continua com as batidas por minuto em
alta rotação, o que muda são as matrizes. I’ve Been A Fool (Toy Guns) é mais
New Wave com influência Acid House, mortal riff
de guitarra funk e percussão à New Order, fase Technique. A faixa-título remete
ao Talking Heads (que tem álbum chamado Remain In Light, de 1980), mas tem
burburinho de eletrônica repetitiva presente do Kraftwerk e solo de guitarra
intoxicante, que ocorre novamente em Move Too Fast, que além disso une 70’s e
90’s com baixo reverberante à Chic e barulhinho-delícia à Robin S.
É a mistura competente de diversos subgêneros dance com pitadas de indie rock e música caribenha, uma das
forças do álbum, que na metade final diminui as BPMs, mas não a rebolatividade.
O indie rock de Sodium Vapor e When
Our Nerves No Longer Twitch convive com a discomusic à Tina Charles de White Light Fadeway e o som que Nile Rodgers fez
pra Sister Sledge em Anti-Gravity, mas com o contraponto da guitarra
melancólica tipo Barney Summer. Esse rolo todo funciona, porque o Lotus domina
os subgêneros de frente pra trás, conhece todos seus truques e de tanto tocar
ao vivo e fazer jam, mesmo essa fornada pop saiu com incríveis força e
organicidade (no sentido de tudo estar quase DNAmente imbricado).
O verão do hemisfério norte está no fim e a
Philadelphia do Lotus logo entra nos meses cinzentos de outono-inverno. Por
aqui a primavera ainda nem começou, então temos meses para dançar e comer a luz
do Lotus.
Eat The Light e o restante da discografia está no Bandcamp,
então, não há desculpa pra não conhecer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário