Nas cercanias do Dia dos Pais, nosso historiador-cronista-pai-avô pergunta-se, afinal, quando um homem torna-se pai. Basta ter um filho ou é preciso algo mais?
MAS, QUANDO NASCE O PAI EM UM HOMEM?
MAS, QUANDO NASCE O PAI EM UM HOMEM?
José
Carlos Sebe Bom Meihy
Foi
com essa frase que resolvi pensar na melhor maneira de reverenciar o dia dos
pais, aliás passagem toda diz o seguinte: “um homem se torna pai quando seu filho nasce, ao menos é o que a
sociedade reconhece. Mas, quando nasce o pai em um homem? Será que esses dois
momentos estão juntos?”. Nem sei dizer de onde
tirei a citação, apenas lembro-me que tanto ela me tocou que a selecionei para
um dia meditar sobre. E o momento chegou. Carregado de emoções...
Tenho repetido que em minha vida há duas datas capitais:
o dia dos professores e o dos pais. Por lógico, não saúdo o dia dos professores
como se fora celebração profissional, atividade prática de frequentar escola,
ou reconhecimento pelo papel dos mestres na formação de seus alunos. Não. Não
mesmo. Percebo no dia dos professores o respeito que me dou como tal, como
cidadão que vê em sua escolha uma opção de vida repartida na vivência de
gerações. Nunca quis ser outra coisa que não professor. Então, o dia dedicado
aos mestres me é muito mais do que destaque projetado pelos outros, ou mesmo
pelos próprios filhos. É como se me fosse dado um espelho e nele me vise da
maneira mais plena, humana e completa e correta. De certa forma, isso se repete
quando contemplo meu papel de pai. O dia dos pais, para mim, não é apenas
efeméride marcada por um dia no calendário que assinala encontro com o
reconhecimento público da data. Nada disso. Outra vez, me olho especularmente
no cenário da existência que me é dada e me percebo parte de uma corrente que
captura o sagrado que existe no masculino. Falo de transcendência, pois. E há
muita poesia nisso. Foi exatamente por esta certeza que mergulhei na frase que
questiona o momento do nascimento da paternidade, além do dia do nascimento do primeiro
filho. E me pergunto: desde quando resolvi que seria pai? A profundidade
evocada como resposta me leva ao infinito de mim mesmo. E adivinho sonhos que
se materializaram desde a infância. Como sempre quis ser professor, sempre quis
ser pai.
A confidência da anterioridade do feito paterno exige
explicações. Tive um pai adorável: alegre, trabalhador incansável, conversador,
dono de uma história irresistível, cheio de defeitos que nele eram graça. Ah!
como gostava de vê-lo seduzindo fregueses na loja – “O turco do mercado” cantou Renato Teixeira sobre ele – e como suas
paixões complementavam aquele personagem que caberia em romances a serem
escritos! Certamente, desde pequeno quis roubar-lhe o fogo de ser. Tive que derivar
escolhas, porém, e acho que consegui algumas, embora tantas sejam minhas
falhas. Sem dúvida, a generosidade foi o dote que mais pretendi reproduzir. E
também o amor pelos filhos. Mas não é qualquer amor, desses naturais. Meu pai
viveu comigo o amor irrestrito. Rebelde que fui, talvez por isso, ele sustentou
os meus arroubos. Todos; inclusive e principalmente, aqueles que iam
diretamente contra seus preceitos políticos. Acho que foi exatamente aí que
resolvi que queria ser pai. E assim se fez. O nascimento de meus filhos,
portanto não me fez pai. Eu já o era muito antes.
A consciência da paternidade lida com muitas coisas e se
articula de forma misteriosa à complexidade da vida. Se me perguntassem qual o
momento mais pleno dessa experiência, diria sem muito titubear: é perceber meus
filhos, pais. Falo, portanto de netos – biológicos ou assumidos – e vejo que a
paternidade é virtuosa pelas consequências filtradas no sentir-se pai. Pai,
filho, pai: triângulo perfeito de vértices amorosos. Aliás, com isso respondo a
segunda parte da frase que serve de mote para reflexão: será que esses dois momentos estão juntos? E com a soberania de
quem olha o próprio passado, respondo que não obrigatoriamente. Há pais que
nascem pais. Acho que sou desses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário