Roberto Rillo Bíscaro
Continuar acertando o passo com a esnobada década de 90. Ter
episódios com tramas e elenco diferentes pra não monotonizar e ter gostado
bastante do original sessentista foram decisivos pra que eu não demorasse tanto
em ver as 7 temporadas (1995-2002) da reedição d”A Quinta Dimensão, pelos
canais Showtime/SyFy. Em abril do ano passado, publiquei a resenha das 2 temporadas originais.
Com muito mais episódios do que sua predecessora – 154
contra 49 – The Outer Limits colorida mantém o narrador dizendo que assumiu o
controle do aparelho de TV blá, blá, blá (eu acelerava a imagem, hoje quem tem
saco pra intro longa?) e suas lições
de moral pseudofilosóficas no começo e no fim. Elas servem pra estabelecer o
tema da história, mas muitas são tão simplistas e moralizantes que dá vontade
de rir/chorar. Aliás, a carolice messiânica do destino manifesto anglo-saxão
azeda diversos episódios.
Embora tenha ETs e monstros em quantidade, a ênfase no
formato “monstro da semana” não mais se justificava nos 90’s, então os temas
diversificam-se, se bem que lá pela sétima temporada já se repetiam em
essência. Alguns traços permanentes nos roteiros indicam que o exército e o
governo são sempre inimigos do povo e que quando o cientista/a ciência quer
brincar de Deus algo sairá horrivelmente errado. O mito de Prometeu grita alto.
Muitos episódios lidam com viagens temporais, nas quais dependendo do
roteirista, o fluxo do tempo pode ou não ser alterado.
Algo legal de se assistir em sequência cronológica e sem
muito espaçamento entre um show e
outro é perceber correlações entre episódios e até personagens. Elas jamais
interferem na independência das histórias, mas uma equipe futurística que se
empenha em corrigir desastres históricos aparece mais de uma vez. Não sei como
não virou spin off. Mais ao final de
cada temporada, episódios usam imagens de outros – correlatos ou não – como se
fossem miniantologias.
Dadas as especificidades históricas e de produção, não
entrarei no jogo de comparar as 2 encarnações, até porque essa noventista não
refilmou quase nenhum episódio de sua genitora branco e preta. Dá pra ver as 2
numa boa e curtir muito, se você é fã de ficção-científica pop.
Talvez pela produção ser parcialmente canadense, foram
sucessivos episódios, dos quais eu nem fazia ideia de quem eram os atores, mas
reconheci alguns ao longo do caminho. Sempre lembrando que esse jogo de
identificação de rostos familiares é totalmente subjetivo; geralmente anoto
quem já apareceu em alguma resenha, mas também vale querido que não. Quem
(ainda) não significa nada pra mim, tipo Aly Sheedy ou Molly Ringwald, que um
dia foram alguém, mas não pra moi, nem entra na brincadeira:
Robert Foxworth, o Chase Gioberti da soap oitentista Falcon Crest apareceu como presidente dos EUA num
episódio excelente e tenso pra burro, sobre alienígenas vindo em direção à Terra.
Seriam amigos ou hostis? Da decisão do recém-empossado presidente dependeria o
planeta.
Bonnie Bedelia, a Camille Braverman, de Parenthood, num
episódio meio moroso sobre descompasso temporal impedindo contato entre 2
ex-amantes.
Sheena Easton já acabada como pop star em um episódio chamado Falling Star (ouch!) sobre uma estrela
pop apagando que recebe visita duma
fã dum futuro sombrio e que pode lhe render nova chance de significar algo,
ainda que de modo inesperado. Nunca tinha visto a Modern Girl atuando, foi
digno; recomendo a entusiastas oitentistas.
Michael Gross, o Steve Keaton de Caras e Caretas, que,
pelo brilho peculiar da lua percebe que o sol deve ter se tornado supernova e
por ser a última noite do planeta, tenta fazer tudo o que não teve coragem, no
caso, propor casamento pruma colega e quebrar vitrines pra roubar anéis. Episódio
não decide se é história de amor ou cine-catástrofe.
Harold Gould, o Miles (namorado de Rose Nylan) de
Supergatas, num episódio poético em que idosas tem segunda chance de procriar,
mas desde que seja por amor. No fundo da superfície, é moralista: sexo só com
amor.
Victor Garber, o chique vilão Robert Bowers, da
fracassada Deception, no episódio Out Of Body, vivendo o marido amantíssimo
duma cientista que pesquisava se coexistimos em diferentes dimensões. No fim, é
pra provar que temos alma e ciência e tecnologia estão a serviço dum ente
superior. Sci fi usada pra provar o
improvável. Ele trabalha em outro no qual é um cientista malvado que persegue
um androide de uma série de robôs que não sabiam que eram cibernéticos. Os maus
tratos infligidos pelos humanos aos robôs são recorrentes, resultando em
histórias provocativas e possíveis de estabelecer paralelos com temas como
escravidão e neocolonialismo.
Fred Savage, o Kevin Arnold de Anos Incríveis, numa
história envolvendo mulher que sobrevivera à Peste Negra e mantinha-se viva,
imune a doenças e envelhecimento séculos depois. A estelaridade de Fred já era,
porém: os protagonistas são a moça e o pai, que a conhecera anos antes, quando
servia o exército, que a perseguia porque queria descobrir a fonte da eterna
juventude. Adoro histórias sobre deslocamentos temporais.
Daphne Zuniga, a Joe de Melrose Place e Joel Grey, o
demônio que leva JR Ewing ao pseudossuicídio, num episódio num mundo pós
devastação biológica, onde as autoridades tentam controlar as emoções, outro
tema recorrente. Pode-se acusar The Outer Limits de tecnofóbico muito
frequentemente. Por outro lado, há que lembrar que o subgênero que mais
diretamente lida com ciência é a ficção científica, então, é mais normal que a
desconfiança com relação a ela sinta-se mais nessas produções do que num western.
Joseph Gordon Levitt, antes de ser ET em Third Rock From the Sun, participou de um episódio onde agentes do governo caçam aliens infiltrados na Terra, um deles
perigosamente perto do jovem. Gente, aqueles óculos-escuros e o sobretudo
balançante gritam MATRIX!
Laura Leighton, a maluquete
Sidney (amava!) de Melrose Place numa
historinha muito bem bolada: ela morre, mas descobre que dentro dela havia
traços duma gêmea siamesa sacrificada pra que pudesse nascer. Quer ideia mais melodramática
trash?
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