Roberto Rillo Bíscaro
Ao longo dos anos, tenho recebido mensagens elogiosas e
críticas com relação às resenhas sobre música, livros, cine e TV. Algumas
apontam que muitos textos são “subjetivos”, carecendo de imparcialidade. Nem
discutirei a impossibilidade da neutralidade, apenas digo, são subjetivas e
parciais, sim. Blog vem da expressão web
log, cunhada no fim dos anos 90 e, grosso modo, significa um diário online, registro de atividades e
opiniões. Blogues nasceram se autoafirmando como expressões individuais e o Albino
Incoerente não é diferente.
As críticas vêm quando explicito, por exemplo, que algo é
bom, mas não é pra mim ou não me agradou. Tais leitores decepcionar-se-ão com a
resenha de hoje, porque a minissérie Jordskott (2015) pode até ser boa, mas
falhou em me conquistar. Como 2 conterrâneas que também não me impressionaram –
Graven e Morden -, Jordskott tem Göran Ragnerstam no elenco, cujo jeitão algo
catatônico até curto (ou me acostumei).
O diferencial da dezena de capítulos de Jordskott pros
demais Nordic Noirs é a adição do fantástico/sobrenatural, mediante alusão ao
folclore escandinavo, como à serpente Jörmungandr, criada numa banheira por uma
anciã. Pelo menos, intuo que seja a cobra, filha de Loki. Esse foi meu
principal problema: ficar na névoa como a exuberante região florestal onde se
passa a trama.
Tudo começa em Estocolmo, quando a policial Eva Thörnblad
leva tiro dum sequestrador e tem que se afastar das atividades. A morte de seu
pai leva-a de volta à distante cidadezinha de origem, onde sua família é
importante na exploração florestal. No dia seguinte a sua chegada, crianças
começam a desaparecer, assassinatos inexplicáveis pipocam e muita bizarrice
toma o cotidiano de Silverhöjd. Aos poucos concluímos que o “inimigo” pode ser
a própria floresta e que a fábrica de celulose e sua depredação da Natureza
podem ser os responsáveis por iminente guerra entre humanos e seres míticos.
Comparada a Twin Peaks – bastou ser esquisito, já se
compara à obra de David Lynch – Jorskott deixa o espectador durante quase
metade sem saber porquês e com uma protagonista tão perdida quanto o
telespectador. Eva demora ainda mais do que a metade pra fazer algo; passa quase
todo o tempo reagindo e não protagonizando. Devo estar soando demasiado careta,
mas 10 capítulos de personagens com os quais pude pensar em começar a empatizar
apenas lá pelo oitavo não são pra mim.
Devo, porém, ser justo. Jordskott não é ruim. Não parei
de vê-la, apenas não ansiava por um próximo episódio e adoro quando isso
acontece. A minissérie me deu algum prazer intelectual, mas não me agarrou
pelas bolas e preciso disso quando se trata de capítulos.
Pleonasmo vicioso dizer que o cenário natural sueco é
arrasante, né? A Escandinávia esculacha, nossa!
O clima de vingança natural e da presença do folclore me
lembraram do ciclo de horror ecológico dos anos 70 e, daquela mesma década, um
microciclo britânico, que misturava paganismo celta com horror, tipo O Homem de
Palha. Fãs de Arquivo X também deverão gostar. Não sou experto nos agentes Fax Moden,
mas pelo que me lembro dum deles, o jeito mortiço do Wass (Göran Ragnerstam) se
encaixa bem. Além do mais, quem curte pássaros se comunicando com humanos,
gente caçando não-humanos disfarçados de humanos, poções mágicas e eventos que
só serão explicados dali a 6 capítulos desfrutarão Jordskott.
Não é pra mim, mas reconheço a qualidade e que a maldita
canção de ninar folclórica me assombrou durante dias.
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