Roberto Rillo Bíscaro
O horror é subgênero que comporta diversos
sub-subgêneros, como vampiros, lobisomens, fantasmas, casas mal-assombradas,
zumbis, slashers e mais tantos. Um deles é o da cabana no meio da floresta,
onde incautos são fustigados por forças que podem ser naturais que se revoltam
ou do Tinhoso, cenário mais comum. Fundado no nosso medo ancestral da solidão
desprotegida em meio a um mundo (sobre)natural hostil e desconhecido, com
criaturas muito mais fortes que nós, indefesos seres humanos, esse
sub-subgênero já rendeu obras-primas como A Morte do Demônio e muito fogo de
artifício superestimado, como Cabin In The Woods, só pra ficar nos já
mencionados no blog.
Ano passado, A Maldição da Floresta engrossou a lista de
boas produções do tipo, além de revelar promissora carreira, a do diretor e
roteirista Corin Hardy. Hardy, em parceria com Felipe Marino, utilizou a tendência
de usar elemento histórico que dê cor local. Nada tão sobressaído como no
espanhol No + Do ou no argentino Aparecidos, mas The Hallow (título original)
aproveitou a ideia frustrada e frustrante do governo irlandês de privatizar os
direitos de exploração madeireira das florestas da ilha.
A Maldição da Floresta interlaça a tradição da cabana
isolada na mata, com o horror ecológico e a dos filmes de monstro de modo muito
eficiente e que de vez em quando deixa o espectador na ponta da poltrona de
ansiedade. Um casal londrino troca o burburinho metropolitano pelo silêncio
verde do interior duma floresta nos confins da Irlanda. O maridão veio
investigar as árvores ou algo assim e isso inquieta os locais, que acreditam
que a floresta é habitada por criaturas mágicas que retaliam caso seu
território seja invadido. Pouca informação ou investimento na criação dos
adultos, mas o filme aposta que nos importemos com Finn, o bebê, manipulando
nosso insano amor por infantes indefesos, pelo efeito fofura de mãozinhas e
carinha gorducha e nossa preocupação com os pequenos que garantem a preservação
de nossa espécie. Dá certo.
O começo é algo lento e poderia ter sido preenchido com
mais informação, mas conforme a floresta vai se impondo aos humanos que
insistiram em permanecer a despeito das advertências, A Maldição da Floresta
ensandece e a meleca jorra num festival de criaturas, fungos que se apropriam
de cérebros e objetos pontiagudos aproximando-se de olhos. Não chega ao nível
d’A Morte do Demônio, mas há potencial pra desenvolver mitologia de franquia.
Com cinematografia
caprichada, efeitos especiais decentes e um final que seria melhor ver até o
fim dos créditos com imagens, A Maldição da Floresta é outro competente horror
da Irlanda, já destacada no blog, por causa de The Canal.
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