Roberto Rillo Bíscaro
TVs e rádios mais comerciais (a maioria) não dão espaço
pro que não seja vendável e atraia a audiência pra seus patrocinadores. Assim,
predominam o sertanejo isso ou o arrocha aquilo. Não escondo que não vejo essas
TVs (não vejo TV nenhuma, na verdade), tampouco escuto rádio, porque desgosto
dos subgêneros ora hegemônicos.
A internet tem sido canal privilegiado pra artistas de
qualquer estilo lançarem seu som. Se não há gravadora interessada, pode rolar
produção independente e depois divulgação e venda online. Cada vez mais
artistas disponibilizam seus álbuns gratuitamente e/ou pode-se ouvi-los sem
gasto. Spotify, Deezer, Bandcamp, Soundcloud, Youtube são apenas alguns canais
onde se consegue/ouve música grátis. Lembro-me de já ter resenhado trabalhos de
Karina Buhr, Theo, 5 A Seco, Thieves’ Kitchen, Not Blood Paint, Silhouette e
Paradigm Shift, além do projeto As Mulheres de Péricles, que podem ser
ouvidos/adquiridos/baixados (de graça ou não) num desses canais.
Pra nós que vivemos longe de grandes centros e não podemos
ir a shows facilita; pra artistas longe do eixo Rio-SP, no contexto brasuca, alarga
horizontes estar disponível na internet. Como eu conheceria o belo álbum
homônimo d’A Troça Harmônica se não fosse pela rede (e eu não fosse curioso)? A
estreia em LP pode ser baixada gratuitamente no site do quarteto.
Chico Limeira, Gustavo Limeira, Regina Limeira e Lucas
Dourado estrearam seu som, influenciado por Chico Buarque e o Clube da Esquina,
nos palcos de João Pessoa, em 2013. Gravado e mixado na capital paraibana, o
álbum A Troça Harmônica saiu ano passado. A boniteza dalgumas melodias, as
harmonizações vocais aliadas a boas letras honram as citadas influências, que
se confluem em Dúvida, onde um trecho diz “não tem governo, nem nunca terá”,
parafraseando O Que Será, dueto de Milton e Chico.
Num álbum cheio de belas canções, vou logo pra jugular:
Maria Vem, Barbante Prateado e Mel de Sal. A primeira é o nome mais cantado de
nosso cancioneiro e é melodia mansa de corda, que vira guitarrinha, mas sempre
mansa. Barbante Prateado poderia tranquilamente estrelar em qualquer álbum da
fase áurea de qualquer mineiro da esquina; um milagre de cantos, contracantos e
palmas. Mel de Sal, além da estupenda metáfora de imaginar o mar como mel de
sal, dá vontade pular ondas jongando e desejando boa sorte pros pescadores.
A Pele vai dar banzo nos
oitentistas quando o Roupa Nova ainda não bregueara e gravava delícias como Bem
Simples. Não Deixe o Passo Se Quebrar é partido alto e Vertigem da Inocência
traz o gosto da tradição do psicodelismo nordestino, na inquieta guitarra, mas
que nunca transforma o regionalismo em rock. O momento menos inspirado é a
piada de Rapaz Solucionado, com sua instrumentação e letra cômicas. Chistes
perdem a graça depois de poucas audições, mas tá valendo.
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