segunda-feira, 19 de setembro de 2016

CAIXA DE MÚSICA 236

Resultado de imagem para a troça harmonica album
Roberto Rillo Bíscaro

TVs e rádios mais comerciais (a maioria) não dão espaço pro que não seja vendável e atraia a audiência pra seus patrocinadores. Assim, predominam o sertanejo isso ou o arrocha aquilo. Não escondo que não vejo essas TVs (não vejo TV nenhuma, na verdade), tampouco escuto rádio, porque desgosto dos subgêneros ora hegemônicos.
A internet tem sido canal privilegiado pra artistas de qualquer estilo lançarem seu som. Se não há gravadora interessada, pode rolar produção independente e depois divulgação e venda online. Cada vez mais artistas disponibilizam seus álbuns gratuitamente e/ou pode-se ouvi-los sem gasto. Spotify, Deezer, Bandcamp, Soundcloud, Youtube são apenas alguns canais onde se consegue/ouve música grátis. Lembro-me de já ter resenhado trabalhos de Karina Buhr, Theo, 5 A Seco, Thieves’ Kitchen, Not Blood Paint, Silhouette e Paradigm Shift, além do projeto As Mulheres de Péricles, que podem ser ouvidos/adquiridos/baixados (de graça ou não) num desses canais.
Pra nós que vivemos longe de grandes centros e não podemos ir a shows facilita; pra artistas longe do eixo Rio-SP, no contexto brasuca, alarga horizontes estar disponível na internet. Como eu conheceria o belo álbum homônimo d’A Troça Harmônica se não fosse pela rede (e eu não fosse curioso)? A estreia em LP pode ser baixada gratuitamente no site do quarteto.
Chico Limeira, Gustavo Limeira, Regina Limeira e Lucas Dourado estrearam seu som, influenciado por Chico Buarque e o Clube da Esquina, nos palcos de João Pessoa, em 2013. Gravado e mixado na capital paraibana, o álbum A Troça Harmônica saiu ano passado. A boniteza dalgumas melodias, as harmonizações vocais aliadas a boas letras honram as citadas influências, que se confluem em Dúvida, onde um trecho diz “não tem governo, nem nunca terá”, parafraseando O Que Será, dueto de Milton e Chico.
Num álbum cheio de belas canções, vou logo pra jugular: Maria Vem, Barbante Prateado e Mel de Sal. A primeira é o nome mais cantado de nosso cancioneiro e é melodia mansa de corda, que vira guitarrinha, mas sempre mansa. Barbante Prateado poderia tranquilamente estrelar em qualquer álbum da fase áurea de qualquer mineiro da esquina; um milagre de cantos, contracantos e palmas. Mel de Sal, além da estupenda metáfora de imaginar o mar como mel de sal, dá vontade pular ondas jongando e desejando boa sorte pros pescadores.
A Pele vai dar banzo nos oitentistas quando o Roupa Nova ainda não bregueara e gravava delícias como Bem Simples. Não Deixe o Passo Se Quebrar é partido alto e Vertigem da Inocência traz o gosto da tradição do psicodelismo nordestino, na inquieta guitarra, mas que nunca transforma o regionalismo em rock. O momento menos inspirado é a piada de Rapaz Solucionado, com sua instrumentação e letra cômicas. Chistes perdem a graça depois de poucas audições, mas tá valendo.

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