Roberto Rillo Bíscaro
Há anos lia o nome Devious Maids em sites sobre séries e meio que me interessava pelo devious, algo como safado, tortuoso. Por
sinopses, sabia tratar-se duma mistura de soap
com telenovela mexicana, porque a série da Lifetime baseou-se na novela Ellas
Son...La Alegria Del Hogar, da Televisa. O título da adaptação ianque me
animava mais, porque supunha sordidez. Demorei, mas agora que a série foi
cancelada ao final da quarta temporada, assisti aos 49 episódios e me diverti
sobremaneira.
Downton Abbey encontra Melrose Place encontra Maria Del
Barrio encontra Hot In Cleveland. Isso é Devious Maids. 4 empregadas latinas
trabalhando em mansões em Beverly Hills são o centro desse delicioso show abarrotado de frases de efeito
sensacionais. O relacionamento delas com os patrões, os inter-relacionamentos
desses últimos e em toda temporada um mistério compõem o miolo da meada
dramática. Como em toda boa soap, as
personagens principais intercambiam de posição às vezes, mas os culpados pelos
mistérios sempre são personagens novatos, porque essa é realmente sua função:
poupar o núcleo duro.
Como o tom é de ferveção cômica/farsesca/paródica, não há
verdadeiramente um vilão no conjunto. Mesmo quem sempre torce pra mocinhos/as,
não odiará Adrian e Evelyn Powell, porque são muito engraçados. A canalhice
desses ricaços é distinta da de JR Ewing ou Alexis Morel Carrington Colby Dexter. Os das soaps clássicas são
malvados sérios, os Powell são tão caricatos que rimos apenas. Como amo quem
não presta, apesar de Devious Maids ser das mucamas, meus favoritos foram
Adrian e Evelyn. Adrian 4ever! A picardia também nos deixa aceitar que uma mansão
com 9 quartos tenha apenas uma faxineira.
Sonho que dificilmente realizarei é ver na íntegra uma
das soaps clássicas exibidas no
período vespertino nos EUA. Mesmo em tempos de acesso digital, ainda considero
distante a possibilidade de ver os 40 anos de All My Children, por exemplo. As daytime soaps – hoje combalidas e
condenadas à extinção nesse formato geracional – são instituições do folclore
televisivo estadunidense e geraram ícones como Susan Lucci, a Erica Kane, de
All My Children, entre 1970 e 2011. Imagine passar praticamente uma vida profissional
inteira num único show; envelhecer
vivendo uma só personagem (Lucci é sempre ela mesma, anyway). Se os gurus do capitalismo dizem que a era dos empregos de
décadas já era, no mundo das soaps há
de ser o mesmo.
O que importa aqui é que mesmo inabilitado pra ver All My
Children, vi Lucci nas 4 temporadas de Devious Maids. Que sonho! Nêmesis de
Victoria Chase, em Hot In Cleveland, Lucci interpreta Genevieve (pronunciado
Janviév) Delatour. Com esse nome, preciso dizer o quê sobre a ricaça? Luxo só.
Confirmando o pedigree soap, Grant
Show, o Jake Hanson, de Melrose Place e a linhagem sitcom, Ana Ortiz, a irmã de Ugly Betty.
Guilty
pleasure é o termo que pseudoculturetes encontraram pra
justificar alguma bobagem muito ostensiva de que gostem. Não tenho tais
veleidades, não vi Devious Maids com culpa; é puro entretenimento é besteirol e
é uma delícia.
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