Roberto Rillo Bíscaro
Duns 10 anos pra cá, tem havido sucessão de (mini)séries
policiais e de mistério excelentes. O influxo escandinavo foi bastante
responsável por isso e a Inglaterra seu principal tributário, embora as sombras
do Nordic Noir tenham escurecido a Espanha, Austrália, Nova Zelândia, França,
Alemanha e EUA. Mas, nem tudo é Scandidrama; tem coisa que vai pro lado dos Law
And Order e CSI da vida e às vezes mistura até soap. É o caso dos 10 episódios de Guilt, exibidos entre junho e
agosto pelo canal Freeform. O título Culpa me pegou de chofre. Pra quem ama
Scandal e tentou até as fracassadas Betrayal e Deception, Guilt tinha que
passar adiante na longa fila de arquivos.
A coprodução anglo-estadunidense começa com o brutal
assassinato da norte-irlandesa Molly. Sua melhor amiga, a ianque Grace, é
acusada pelo assassinato. A partir daí, desvela-se um mundo de mentiras e
perversão, envolvendo clubes de sexo pra elite e até o Príncipe de Gales. Quase
tudo subaproveitado. A opção pelo tom mais tabloideiro enfatiza as revelações
bombásticas ao invés de aprofundar aspectos. O padrasto de Grace tem todos os
elementos pra ser um personagem altamente dúbio, mas a trama o descarta sem
explicação. Pode ser que estejam esperando segunda temporada pra aproveitá-lo,
porque nessa nem entendi porque apareceu. Mas, a audiência não foi lá aquelas
coisas, então, sei não...
Como diversão, Guilt é competente e não se deve esperar
mais do que isso. As personagens são unidimensionais e algumas até bobas. Sem
contar a tentativa desesperada de chocar, como numa revelação de paternidade no
capítulo final, sem preparo algum; enxertada mesmo pra seguir a trama. Também não
consegui empatizar com Grace; muito sem-noção a mina. Não dá pra se importar
muito com ninguém, pois todos são de plástico.
A edição é veloz, daquelas de filmar a cidade em câmera
rápida; até os barcos no Tâmisa parecem lanchas em competição. Por falar na
urbe, a Londres é a dos pontos turísticos, dá a impressão dum olhar de turista.
Em toda cena tem que constar o Big Ben, Westminster. Também nada contra, mas
mostra a diferença pra séries autóctones que não precisam se apoiar em clichês
visuais pra marcar território, porque o que importa é mais a trama.
Se seu negócio é só desligar do mundo e ver clichê, Guilt
compensa. Mas num planeta com séries tipo Shetland, Hinterland, Broadchurch, River, Happy Valley, Forbrydelsen e Bron/Broen, vê-la antes (ou apenas) é criminoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário