quinta-feira, 22 de setembro de 2016

TELONA QUENTE 171

Roberto Rillo Bíscaro

Representações dinamarquesas nos noticiários dão conta dum país com elevado índice de qualidade de vida. A onda Nordic Noir mostrou uma Escandinávia mais violenta, mas o subgênero é altamente estilizado. Não dá pra negar que Forbrydelsen ou Bron/Broen sejam violência de butique, por mais densos e bem feitos os roteiros. Em 2012, resenhei Broderskab, que mostra que a rica península não é arco-íris de rosas pros gays. Chega a vez de Nordvest (2013), que mostra uma face de Copenhague ausente dos estilosos Nordic Noir.
Michael Noer roteirizou e dirigiu a ascensão e queda de Caspar, jovem que começa numa gangue dirigida por um descendente de árabe pra acabar numa comandada por um dinamarquês “puro sangue”. Embora a ênfase de Nordvest seja no lado pessoal do jovem careca, não dá pra escapar da leitura étnica, porque nem na pobreza escandinava, todo mundo é igual. Raios, nem a miséria dinamarquesa é tão suja quanto a nossa ou mesmo a norte-americana. O distante bairro Nordvest é tão limpinho, a despeito da modéstia das habitações...
Na tradição do Neorrealismo, Cinéma Vérité e do conterrâneo Dogma, Nordvest é filmado em estilo documental, então por mais limpo que seja o subúrbio, se o mané faz cocô na calça, a merda aparece. Pena que já vimos essa história mais de uma vez e a ênfase em Caspar deixe as demais personagens meio unidimensionais.  
Nordvest não consegue arranhar a alta criatividade de seus irmãos televisivos chiques, mas pra interessados em distintas facetas da complexa Escandinávia e cinema fora do circuito crime de luxe pode ser boa pedida.

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