A revista Dazed publicou matéria com o trabalho da fotógrafa Anna Mascarenhas, que tenta conscientizar sobre a necessidade de inclusão no mundo da moda, através da história das gêmeas albinas brasileiras que querem ser modelo. Leia a tradução da reportagem e veja as lindas fotos.
As Gêmeas Albinas Brasileiras Que Sonham Com o Mundo da
Moda
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)
A fotógrafa Anna Mascarenhas encontra uma família
brasileira que não se encaixa nas categorias fixas de beleza do país – mas a
profissional esperar alterar esse quadro
Sendo um país com população procedente de grupos étnicos
muito variados, o Brasil tem uma longa e complicada história de desigualdade
racial, a qual não é frequentemente abordada pela mídia cultural de massa. Paradoxalmente,
é o país de origem de versões-padrão de beleza branca, nas figuras de
supermodelos como Gisele Bündchen e Alessandra Ambrosio. Mas, a fotógrafa Anna
Mascarenhas está tentando promover um tipo diferente de beleza, através da
divulgação da aparente pequena história de uma família.
Mascarenhas, de 22 anos de idade, se interessa por
fotografia desde os 10 anos, quando brincava com uma câmera analógica portátil
e a câmera de vídeo de sua mãe. Depois de concluir a faculdade de Comunicação,
retomou sua obsessão infantil com o objetivo de salientar a diversidade de seu
país. Seu projeto com as irmãs Sheila, Lara e Mara mostra como as redes sociais
e a nova abordagem não hierárquica da moda podem potencialmente mudar as
coisas.
“Descobri as meninas através de meu Instagram”, recorda. “Seus
pais vieram da Guiné Bissau em busca de oportunidades, quando a mãe estava
grávida de Sheila, a mais velha. Pouco tempo depois, ela teve as gêmeas, Lara e
Mara. Como elas são albinas, o pai pensou que havia sido traído, por isso,
abandonou a família. Eles se separaram e ela criou as meninas sozinha. A mãe é
cabeleireira no centro de São Paulo e sua especialidade é cabelo afro. A filha
mais velha – Sheila, de 14 anos – sonha em ser modelo, assim como suas irmãs
menores. O problema é que parece que elas não se encaixam em categoria alguma.
Morando numa favela e tendo apenas uma mãe-solteira para pagar todas as
despesas, esse sonho tem tudo para fracassar.”
Logo de cara, Mascarenhas sentiu vontade de ajudar as
irmãs a realizarem seu sonho. Quando ela as fotografou, mal as conhecia, então
quis explorar o processo do desenvolvimento da intimidade entre elas. “As
gêmeas são muito hiperativas, embora sensíveis. As três são fantásticas e muito
amorosas.” No cerne da história, há as identidades emergentes das garotas e sua
percepção de beleza. “Quis mostrar como elas se enxergam como irmãs, como afrodescendentes,
como indivíduos. Como se relacionam com o que a sociedade espera delas, sendo
marginalizadas por sua classe e cor. E, mais importante, como se relacionam com
o que vêm no espelho”.
Trabalhar com as adolescentes, levou Mascarenhas a
refletir novamente sobre as dificuldades de se inserir no mundo da moda no
Brasil e na falta de diversidade da indústria. “Ao conhecê-las, comecei a
cogitar por que tinha que ser tão difícil para elas. Entrar nesse mundo é duro
para qualquer um, mas por que tem de ser ainda pior para elas? Temos uma
população multicultural no Brasil, mas quando falamos em publicidade e moda em
geral, ainda temos um longo caminho a percorrer. Tudo ainda é muito branco e
magro, como se estivéssemos presos a um quadrado que não conseguimos abandonar.
Na São Paulo Fashion Week, por exemplo, um acordo foi assinado em 2009 para que
10% das modelos fossem de descendência negra ou indígena, mas ano passado a ONG
Educafro denunciou que isso não estava sendo seguido pelas marcas. Você
consegue imaginar agências contratando gêmeas albinas para vender jeans para
mães de classe média? Nao consigo. Por isso quis contar a história delas; não acho
que alcançariam seu sonho pelas vias regulares”.
“A indústria da moda está tentando mudar, mas vai muito
devagar se comparada ao resto do mundo. Marcas novas e alternativas são mais
contestadoras, mas ainda há muito o que fazer quando o tema é inclusão. Posso
te enviar uma revista de moda padrão para contarmos quantas modelos negras
aparecem nos anúncios, em comparação com as brancas. Isso não é legal,
especialmente em um país tão negro como o Brasil”, acrescenta.
Felizmente, Mascarenhas e seus seguidores estão
levantando o assunto e esse parece o modo adequado de agir. “O melhor jeito de
mudar essa situação é falar muito a respeito para chamar a atenção de pessoas
importantes na indústria, cujas decisões fazem a diferença”, arremata.
Confira o trabalho da fotógrafa em seu site:
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