Roberto Rillo Bíscaro
A julgar pelo documentário sobre filmes trash
australianos (resenha aqui) e pelas 2 dobradinhas com películas de horror de lá
(aqui e aqui), a impressão é de que o país-continente é paraíso pra amantes
desse subgênero. Engano ledo. O criticamente aclamado The Babadook, por
exemplo, mal conseguiu salas de exibição em seu país natal. Então, produtores
priorizam mercados externos ou tentam contatos mais personalizados com público
e exibidores locais via redes sociais. Esse é o caso dos irmãos Cameron e Colin
Cairnes, roteiristas-diretores de Scare Campaign (2016), ainda praticamente
desconhecido, mas que terá sua popularidade aumentada assim que lançado nos
EUA, semana que vem.
Scare Campaign é um programa de TV especializado em
pregar peças de mau gosto envolvendo temas sobrenaturais, sustos e as
humilhações públicas que a era digital tanto incentiva. A audiência está
caindo, porém, porque os jovens cada vez mais assistem a programas feitos pela
mídia alternativa, via computadores. Seu rival mais poderoso é Masked Freaks,
que apresenta assassinatos online, captados no mundo todo. Algo como a
globalização dos snuff films mediante
facilitação de acesso à internet profunda. Filmes snuff mostram mortes ou
assassinatos reais de uma ou mais pessoas, sem a ajuda de efeitos especiais,
para o propósito de distribuição e entretenimento ou exploração financeira.
Cercados por forte névoa de lenda urbana, os snuff films estão há décadas no imaginário do horror.
Os produtores decidem alavancar a audiência utilizando
como locação um desativado hospital psiquiátrico e como “trouxa” (eles se
referem aos recipientes das brincadeiras como “stooges”) um ex-funcionário,
também ex-paciente. É óbvio que tudo desanda e acaba em carnificina.
Utilizando elementos snuff e uma pitada de found footage
film (câmeras que dão pau, coisas assim, não se preocupe quem não guenta mais
esse tipo de produção!), Scare Campaign é um bom slasher, que acorda um pouco
do torpor dos filmes de horror deste ano. Uma das reviravoltas da trama,
percebe-se logo de cara, mas a segunda, não necessariamente.
O orçamento bem zerado impediu que as mortes fossem mais
legais, mas só o fato de terem fugido um pouco dessa tendência de horror
mediante tortura (acho um porre!) e colocarem gente correndo, sendo perseguida,
assassino aparecendo do nada, corpo descoberto pendurado, enfim, elementos de
slasher clássico, já recomenda Scare Campaign, que poderia ter caprichado um
pouco no aproveitamento das personagens inseridas com a segunda plot twist. O final podia ser menos
preguiçoso.
Não vai mudar sua vida ou reposicionar a Austrália
na geopolítica do horror, mas entreterá por uns 80 minutos.
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