Roberto Rillo Bíscaro
O pavor de que invadam nosso lar é um dos mais fortes e
mais relembrados pela cultura de massa através de seus programas policiais e
dicas de como proteger a casa durante as viagens de fim de ano. A indústria de
segurança tem registrado lucros astronômicos, driblando crises que nunca são
ruins pra todos.
No cinema, os home
invasion films são constantes. Pouca coisa é mais sagrada que nosso
castelo, então, representações de intrusão desse espaço abundam, indo de thrillers a comédias. Há uma geração, Macauley Culkin dominou o mundo por uns 3 anos,
na carona do sucesso de Home Alone (sozinho em casa), aqui batizado de
Esqueceram de Mim. Em clima de desenho de Tom e Jerry, ele barbarizava uma
dupla ou trinca de larápios que tentava invadir sua casa. Esta semana vi um
Home Alone contemporâneo, mas do mal.
3 jovens que vivem de roubos a casas na dilapidada
Detroit, decidem que seu último trabalho será entrar na residência dum veterano
de guerra cego, solitário após a morte da filha, que lhe gerou uma bolada de
indenização. Eles o fazem, mas ao tomar ciência de que sua fortaleza fora
conspurcada, o coroa começa a mostrar mais de um ás na manga, além dum
cachorrão à Cujo (reparem na referência à obra de Stephen King). Essa é a
premissa de Don’t Breathe (2016), dirigido por Fede Alvarez. Pra quem não sabe,
em 2009, o uruguaio postou um curta sci
fi muito criativo no Youtube, que chamou tanto a atenção, que ele acabou
estrando no farto mercado estadunidense dirigindo o remake d’A Morte do Demônio. Sam Raimi deve ter amado o jovem, porque é um dos
produtores-executivos de Don’t Breathe.
O roteiro tenta sacanear o espectador a torcer pela
“mocinha-bandida”. Seus companheiros-homens não são contemplados com quase nada
de informação de apoio pra construir nossa empatia, ao passo que a moça tem
irmãzinha fofa e carente, mãe dominadora e quer livrar a mana disso tudo
levando pra ensolarada Califórnia. Então, roubar a casa dum ancião deficiente
visual parece justificável, ainda mais porque no meio da história há uma
reviravolta e ele também não é a vítima que aparenta. Concordo, mas a moça também
não, então, meu lado bolsomito falou mais elevado e curti vê-la em apuros.
Don’t Breathe é um thriller de gato e ratos quase sempre
eletrizante, que aproveita bem o espaço da casa, tem atuações sólidas e até me
fez rir com uma malvadeza envolvendo uma seringa com sêmen (ugh!).
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