5 marcas de protetor solar são reprovadas em teste de qualidade
A Associação Brasileira de Defesa de Consumidor (Proteste) realizou um teste de qualidade com dez marcas de protetores solar para rosto. Cinco delas apresentaram fator de proteção inferior ao indicado na embalagem e uma também apresentou menor proteção do que prevê a legislação contra raios UVA. São elas: Sundown, L’Oreal, ROC, Sunmax e La Roche Posay --este último possui FPS 42% menor do que o indicado.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite uma variação de até 17% em relação ao que é informado na embalagem e na formulação do produto, mas nas marcas citadas acima a diferença foi superior à permitida.
Eles avaliaram ainda a proteção UVA. Desde 2012, a legislação brasileira determina que a proteção UVA deve ser um terço do FPS nos filtros solares. Por exemplo, um protetor com FPS 60 precisa ter proteção UVA igual a 20, no mínimo. O protetor da L'Oreal foi considerado inferior por apresentar 26% do FPS rotulado ao invés dos 33% exigidos para UVA.
Por outro lado, o protetor solar Nivea apresentou uma proteção UVA excelente. Como os raios UVA atingem as camadas mais profundas da pele, são os principais responsáveis pelo envelhecimento precoce, bronzeamento, além de contribuírem para o câncer de pele.
Em contato com o UOL via comunicado oficial, a L’Oréal posicionou-se contra os dados. "Refutamos, de forma absoluta, os resultados apresentados pela Proteste e desconhecemos os critérios utilizados na realização dos testes em protetores solares conduzidos por esta entidade. O Grupo e suas marcas La Roche-Posay e L’Oréal Paris não foram informados sobre o laboratório no qual foram feitos esses testes, tampouco as condições e os resultados detalhados dos mesmos. Todos os testes de nossos produtos solares --em particular os referentes a segurança e eficácia-- foram analisados e aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme regulamentação sanitária vigente."
De acordo com a marca, os testes realizados nos laboratórios Dermscan, IEC France e Poland Dermscan apresentam resultados diferentes dos apresentados pela Proteste. Anthelios XL Fluide FPS 70, de La Roche-Posay, possui FPS 85,4 e UVA 44,5. E Solar Expertise Invisilight FPS 50, de L´Oreal, oferece FPS 58,9 e UVA 23,2.
Tendo como fio condutor a meditação sobre o Saci, hoje tão recriado e propagado em diferentes suportes, me perguntava se seria possível explicar suas mutações, vistas dialeticamente, na relação mudanças X resistências. A proposta ia se firmando na medida em que partia de um pressuposto que reconhecia no passado um Saci amedrontador - ente das florestas temíveis e inconquistáveis, dono de assovio tétrico e ensurdecedor -, até a formulação de um simpático personagem - menino maroto, mulato gracioso, perfeitamente integrado no gosto nacional. Dizendo de outra forma, me inquiria sobre a coerência entre tais variações e o “jeito maleável” que, de regra, nos remete à interpretação da cultura brasileira como: incruenta, sem violência ou preconceito, esvaziada de agressividades e, sobretudo, destituída de percepções de luta de classes. Haveria relação entre as transformações do Saci e o “jeitinho brasileiro”?
Frente a esse questionamento, aprofundava a questão indagando sobre sua aproximação e o processo de mestiçagem, e, então queria saber de onde teria vindo a lenda do Saci? Das três alternativas mais usuais – indígena, africana ou europeia – tive que prezar todas. Pensei de saída que, ante a impossibilidade de precisão, era obrigatório apoiar-me, comodamente, no conceito de “metamorfose”. Pensando na gravidade da leitura crítica sobre tal posicionamento, restou apelar para o cenário antropofágico que caracteriza a moderna percepção da cultura brasileira como um todo. Sim, é inegável que a imprecisão da origem de figuras como o Saci leva à formulação de um modelo hegemônico que se materializa na conceituação do que é nacional. Nesse contexto, reina a estratégia das negociações, ou da incorporação e da reversão de tudo que vem “de fora” em nacional, brasileiro. Em certa medida, isto explicaria a preocupação de Lobato que foi pioneiro na busca de definição do sentido do Saci em nossa cultura. Mas, como nem só do “Inquérito sobre o Saci” se nutre a argumentação, me vi na contingência de complementos informativos.
A fim de dar contorno analítico para a construção do Saci como personagem nacional, parti do pressuposto de que hoje ele é figura palatável, aceito, principalmente fabricado para crianças, ainda que a oficialidade se valha dele como referência “exaltativa”, atestado de certa brasileiridade nacionalista e malandra. Fala-se, aliás, de uma dupla infantilização: do Saci adulto, negro raivoso, senhor das matas, tornado menino arteiro; e dele como personagem destinado ao entretenimento. As duas faces dessa moeda negociam um longo processo de apresamento e construção do personagem, estabelecido segundo a imagem e semelhança da cultura que atesta o perfil brasileiro negociador. Outro elemento considerável nesta análise é o fato desse personagem caminhar progressivamente como tema pedagógico, lúdico, e, nesse processo, validado como estratégia ideológica, se confirmaria o princípio da antropofagia, pois a imagem que hoje temos do Saci é de uma figura transformada. Sem dúvida, o padrão dado pela Rede Globo de Televisão nas várias versões do programa “Sítio do pica pau amarelo” mostra um garoto negrinho, de uma só perna, capuz e calça vermelhos, mas pouco assustador. O Saci de nossos dias, não é mais o maldoso ente que atormentava a todos, mas um cativante tipo que faz suas travessuras engraçadas. De maneira sorrateira, em favor do “politicamente correto”, foram aliviados o olhar ameaçador e retirado o “condenável” pito/cachimbo e ele não mais solta fumaça pelos olhos.
Talvez os mais convincentes argumentos demonstrativos do processo de “adocicação” do Saci e de seu endereço para uma cultura infantilizante sejam as leituras procedidas tanto por Maurício de Souza como por Ziraldo que o tornaram personagem de Quadrinhos. Por lógico, tudo ocorreu em consonância com as séries patrocinadas pela televisão nos episódios do “Sítio”. A importante sequência de histórias feitas para crianças, no Brasil, se inaugurou em 1952, na TV Tupi. O programa ficou no ar por 11 anos se constituindo enorme sucesso. Em 1964, na abertura da ditadura militar, o programa infantil que contextualizava o Saci, ganhou versão da TV Cultura de São Paulo e, em 1967, na TV Bandeirantes. Ainda que com intervalos, de 1977 a 1986, a Rede Globo de Televisão produziu o “Sítio”, com destaque para a presença do Saci. Estava então caracterizado o novo Saci, nascido para entreter, não mais para criar problemas. E a figura do negrinho domesticado estava fixada, feliz ou infelizmente.
Outro dia, liguei a Netflix, fui à categoria séries e vi
o título Paranoid. Como aprecio horror, suspense, histórias de detetive,
cliquei pra ler a sinopse e gostei. Botei o capítulo 1 e quase de imediato
supus que era britânica. Não demorou a confirmação: bastou a primeira
personagem abrir a boca. A essa altura já não mais segurava o controle-remoto e
em menos de 10 minutos mergulhara no mistério de quem esfaqueara a mãe no
parquinho cheio de crianças e outros pais. Mas, isso é a pontinha do iceberg. Paranoid é uma minissérie em 8
capítulos, exibida entre setembro e novembro pela ITV, em coprodução com a
Alemanha e provavelmente com a Netflix, porque o serviço de streaming a chama de “original Netflix”.
Logo no capítulo inicial, a história já se ramifica pra
Dusseldorf e pouco depois um grande thriller
de conspiração é montado, envolvendo megacorporação farmacêutica, profissionais
de saúde corruptos, mãe mitomaníaca e até uma Quaker (eles ainda existem!) numa
trama envolvente, ainda que deliciosamente inverossímil. Embora sombrio,
Paranoid não é construído do mesmo material niilista de conterrâneos como Happy Valley, Hinterland ou Broadchurch, basta comparar os finais. O diferencial da
série é a construção do par central de detetives e o preço pago por se
desviarem da convenção do policial atormentado, também presente em Paranoid.
O roteirista Bill Gallagher colocou uma trinca de
policiais pra resolver o caso e não o costumeiro par. Nina Suresh e Alec
Wayfield são a atraente dupla de tiras sarados a frente do mistério.
Competentes profissionalmente, são bastante infantis e falíveis no privado. Ele
é filhinho da mamãe; garotão ainda na mamadeira. Nina beira o bullying com os companheiros para
minutos depois aparecer supercompreensiva com o pai duma vítima. Sua
insegurança e comentários infantis, contrastados com sua destreza ao lidar com
seu ofício, sem dúvida, tornam-na mais multidimensionalmente humana. Mas, será
que é isso que queremos de um par de policiais que precisa consertar o mundo,
restaurar a ordem pra que vivamos em paz? Na maior parte do tempo, Nina irrita
e Alec não fede nem cheira.
O terceiro é o arquétipo do investigador desiludido,
atormentado e doente. Bobby Day é o cinquentão calvo com ataques cada vez mais
agudos de pânico. Ele também tem sua vida particular destroçada, mas é em quem,
em última análise, podemos confiar, porque não é um adolescente com um
distintivo; é o cara que segue ao pé da letra o beabá da cartilha dos policiais
desde o cine noir. É o que, mesmo fragilizado, coloca um par de dedos nas
têmporas e diz que não descansará até pegar o criminoso, enquanto suas mãos
tremem segurando o frasco de antidepressivos. Bobby Day é aquele que sacrifica
sua própria sanidade e saúde pra nos proteger. Dá impressão que Nina e Alec
estão ali mais porque são mais comercialmente atraentes do que o maduro Bobby
Day. Mas, Robert Glenister rouba todas as cenas e engole Indira Varma e Dino
Fetscher, cujas personagens se dariam melhor numa comédia romântica. Note de
quem é a última cena e como Bobby Day cresce ao longo dos capítulos pra
perceber como a fuga da convenção do policial atormentado não deu certo. É ele
quem segura a parte realmente policial de Paranoid.
Outro ponto discutível é a representação dos detetives
alemães. Percebe-se a mesma tentativa de construí-los como “gente como a
gente”, o que os faz parecer idiotas boa parte da história. Linda Felber é
inacreditavelmente tola, quando conversando com seus colegas britânicos. E o
que dizer de quando apresenta o parceiro a Bobby Day?: “este é o fulano; ele é
gay”. Come the fuck on! Considerando-se que o show é predominantemente anglófilo, dá até sensação de
paternalismo. Até parece que os eficientes germânicos são tão despachados e
bobinhos assim. Mas, quando o passado dá um soco no estômago de Linda, daí ela
engata na convenção e se torna policial eficaz. E quem alerta o espectador para
que confie em Linda? Bobby Day, claro.
Esse abalo sísmico formal não destrói Paranoid. Pelo
contrário. Porque a trama é bem urdida, ver o feroz embate entre diferentes
convenções de personagens foi uma das experiências mais fascinantes deste
semestre. Amei a série, amei o triunfo do enrugado Bobby Day sobre seus
parceiros tão bonequinhos. Bem feito.
2016 tem sido generoso para fãs de rock progressivo, com
excelentes lançamentos de veteranos como Jon Anderson, grupos de longevidade
intermediária como o Big Big Train e de promessas como o Paradigm Shift. Novembro
pare outro grande álbum: The Similitude Of a Dream (TSOAD), segundo da The Neal Morse Band, formada por Neal Morse (guitarras, teclados e vocais), Mike Portnoy
(bateria e vocais), Randy George (baixo e vocais), Eric Gillette (guitarras e
vocais) e Bill Hubauer (teclados e vocais).
Por terem pertencido a bandas famosas em seus nichos –
Morse, às prog Spock’s Beard e Transatlantic e Portnoy à prog-metálica Dream
Theater – TSOAD era aguardado com inquietação, aquilatada quando o baterista
bombasticamente afirmou que o álbum era perfeito em todos os sentidos e
ultrapassava as 2 obras-primas das quais participara: Scenes From a Memory, do
Dream Theater e The Whirlwind, do Transatlantic. Descontado o costumeiro exagero
de Portnoy – se The Whirlwind é obra-prima, Close To The Edge é o quê? Bíblia
Sagrada? – TSOAD é excelente, praticamente sem gordura e livre de vinhetas-enchem-o-saco.
E isso não é pouco, para um CD duplo, de 23 canções, que dura mais de hora e
quarenta.
Neal Morse não perde oportunidade de pregar sua fé
religiosa e encontrou no autor britânico John Bunyan veículo perfeito. TSOAD é
conceitual, baseado no influente The Pilgrim's Progress From This World To That
Which Is To Come; Delivered Under The Similitude of a Dream (1678). Conhecido
simplesmente como The Pilgrim’s Progress essa alegoria cristã narra a trajetória
de um homem comum, Christian, que vai da Cidade da Destruição (nosso mundo)
para a Cidade Celestial (O Paraíso).
O vibrante álbum não dá conta de todo o alento da obra,
mas parte da trajetória está lá, cantada por todos os membros da banda. Essa
alternância vocal, aliada à perícia musical de todos dão enorme vantagem à The
Neal Morse Band. Quando isso é combinado com composições inspiradas e bem
arranjadas e dispostas, o resultado é alta qualidade.
A curta Long Day começa a jornada, estabelecendo o leitmotiv temático e musical. O narrador
diz que apesar de ter sido um dia exaustivo, tem que viajar, porque sua vida
não está boa. Antes de ser reprisada no encerramento do álbum-viagem, a melodia
reaparece em diversos momentos, especialmente a partir da lenta Sloth, no
segundo disco, preparando a narrativa para sua conclusão.
Dado o passo primeiro, entra a esfuziante Overture, instrumental
pra fã nenhum de prog sinfônico botar defeito. Neal Morse ser guitarrista e
tecladista talvez explique o equilíbrio entre os dois instrumentos, que
disputam o favoritismo de muitos prog-adictos. Sou da facção que prefere
corredeiras e cascatas de teclados e TSOAD proporciona momentos assim, bem como
ótimos solos de guitarra. Na Overture isso já está codificado.
TSOAD nunca cai na mesmice: quando a semilonga Breath Of
Angels ameaça começar a encher, entra coro feminino gospel à Pink Floyd, solo
de guitarra e orquestra. O álbum vai de momentos quase pastorais a quase prog
metal. We Have Got To Go vai de AOR à Extreme a solaço de teclado à Tony Banks,
fase início dos 80’s. The Neal Morse Band não copia essa ou aquela
banda-madrinha do prog rock, mas certamente traz elementos de quase todas as
bem-sucedidas comercialmente. Veja se Slave To Your Mind não lembra Genesis e
The Who tocando em Thick As A Brick. Aliás, I’m Running, é bem Who. The Neal
Morse Band conhece a tradição à qual pertence. The Ways Of a Fool é um primor
de harmonias vocais à Beach Boys e melodia Beatles, aquele Pop-Hall
popularizado pelos históricos britânicos. Difícil resistir e não cantarolar,
estalar dedos, bater pé ou repetir o oooh oooh oooooh. Freedom Song tem
entonação guitarrística country; The Man In The Iron Cage é blues rock pra
metaleiro macho cantar batendo o cabelo (ui!) e Shortcut To Salvation
orgulharia Elton John nos anos 70, com sax e tudo.
The Mask inicia com piano
clássico pra abrir a seção de encerramento da peregrinação, que passa por
momentos céleres até culminar nos quase 10 minutos de Broken Sky – Long Day
Reprise, que ao contrário da Overture, é lenta e solene; afinal Morse nos
mostra a luz divina e isso requer clima semicontrito de louvor.
Depois de ficar tetraplégico, Márcio Vaz não acreditava que servisse para alguma coisa. Mas, por necessidade, teve que sair da posição de vítima e foi a luta. Hoje, é psicólogo, autor, faz aconselhamento profissional e palestras. Conheça sua história e inspire-se:
Imigração e tráfico de mulheres têm sido temas
recorrentes em filmes e séries europeus a ponto de já se poder elaborar
compêndio a respeito. Correlata a esses fenômenos globalizantes, está a questão
da adoção de crianças de países periféricos por pais de nações abastadas. Isso
envolve temas polêmicos como a transformação do corpo em mercadoria e a
rapinagem de centros afluentes sobre seus congêneres pobres (afinal, por que
franceses normalmente não compram crianças de orfanatos dinamarqueses?), além
de pontos, tipo, como negar que bons pais ingleses proporcionarão futuro com
mais chances do que nenhum pai em Uganda?
La Adopción (2015), baseado em experiências da diretora Daniela
Féjerman, na Ucrânia, não se propõe a abordar macroquestões; apenas numa
discussão entre personagens a intermediária lituana (provavelmente) joga na
cara do casal espanhol, que estes se aproveitam da pobreza do país pra
comprarem suas crianças. Ao invés disso, oferece em tom quase documental, uma
visão da agonia que o processo de adoção pode se tornar para pais de classe
média europeus ocidentais que vão pro empobrecido leste e caem na teia de
burocracia e corrupção.
Daniel e Natália (Francesc Garrido e Nora Navas, ótimos,
especialmente ela) vão a um país do leste europeu ou ex-república soviética pra
adotar um bebê. Há breve menção à Lituânia, então pode ser lá. Sob o intenso
frio e neve das festas de fim de ano, logo de início intuímos que a jornada
será odisseia hercúlea (porque sem direção), quando ainda no aeroporto as malas
do casal são extraviadas propositalmente. Quando começam as intermináveis e
frustrantes audiências com autoridades locais, o casal se dá conta de que terá
que desembolsar mais euros do que imaginava, além de enfrentar o estresse de
estar longe de casa, num local onde não fala o idioma.
Problemático pela generalização do que não é ocidental e
pelo tempo todo se referir ao local como corrupto, ao mesmo tempo em que mostra
Dani e Natália molhando mãos de locais com euros, La Adopción tem seu ponto
positivo especialmente na força e realismo com que nos faz compartilhar com o
casal a sensação de impotência e de estar isolado, perdido. A chapante e
chapada brancura da neve, a desorientação de diversos idiomas misturados [espanhol,
inglês, italiano e lituano (?)], o frio intenso e a dubiedade dos autóctones
nos deixam tão desorientados quanto os simpáticos Natália e Dani. Como a
película é narrada sob o ponto de vista deles, a questão da percepção do meio
como corrupto até se entende.
Tópicos como o relacionamento difícil com o pai médico,
que não levam a lugar algum, poderiam ter sido trocados em favor de nuançar um
bocado mais a situação, afinal, se a população local é tão propensa a aceitar
propina pode ter motivos tão válidos quanto o dos estrangeiros lá comprando as
crianças feito bonecos, mesmo que seja pra lhes proporcionar amor e vida
melhor.
Não dá muito mais pra
reclamar da inacessibilidade dalguns filmes resenhados no blog. Vi La Adopción
via Netflix, superuniversal em lares da classe média.
Filhote de elefante albino é avistado em parque africano
Um elefante albino extremamente raro foi visto no Parque Nacional de Kruger, na África do Sul. O pequeno animal chamou a atenção por se destacar dos demais com sua pele rosada contrastando com a coloração cinza de sua mãe e dos outros elefantes africanos de seu rebanho. O bebê foi avistado por turistas perto do rio Shingwedsi.
Segundo o site Reshareworthy, Nicki Coertze, de 58 anos, foi o primeiro a ver o animal. Coertze declarou que, em todos os seus anos frequentando o parque, nunca um elefante albino foi encontrado antes.
O albinismo é causado pela falta de pigmentos na pele. A condição também pode provocar deficiência visual e, eventualmente, levar à cegueira, algo comum em animais albinos. Muitas vezes rejeitados por sua própria espécie, os animais albinos sofrem por conta de sua aparência incomum. Felizmente, este não parece ser o caso do pequeno filhote de elefante, que esta totalmente integrado ao rebanho, sendo cuidado por sua mãe.
A COR DA CULTURA BRASILEIRA: entre o preto e o negro.
José
Carlos Sebe Bom Meihy
Atualmente, muito se tem falado sobre questões afeitas ao
racismo e preconceitos no Brasil, em particular em vista de manifestações
discriminatórias marcadas pela cor da pele. Agora, mais do que nunca, o tema se
faz importante e necessário, em vista de casos que beiram a fronteira do
inacreditável, envolvendo a população comum e até celebridades. E isso é um
tanto histórico, plasmado em nosso inconsciente cultural. Lembremo-nos, à guisa
de introdução, que demorou mais de 60 anos desde a Abolição da Escravatura, em
1888, até que, em 1951, fosse promulgada a Leia Afonso Arinos – que, pela vez
primeira, criminalizava atos excludentes de negros. Felizmente, contudo,
caminhamos para a reversão dessas atitudes que, afinal, se expressam como
espécie de avesso compensatório da demanda reprimida, do inexplicável silêncio
e da manutenção de práticas inadequadas. Sim, é inegável que toda euforia
verborrágica em favor dos negros provoca alguns exageros na abordagem do tema,
e, nessa linha, um dos mais expressivos desvios passa pela cobrança de
argumentos legitimados em outras épocas que são aferidos com valores de hoje. O
mais exuberante exemplo remete a Monteiro Lobato que, de acordo com os pressupostos
vigentes em seu tempo, referia-se aos negros de maneira coerente com os
costumes da época, mas que, perfilado nos dias de hoje se mostrariam negativos,
preconceituosos. Em termos técnicos é conhecido como anacronismo, ou seja, algo
visto fora de seu tempo.
A par de comentários diagnósticos, precisamos ver como se
constituíram os ingredientes que hoje motivam pechas correntes em nosso
vocabulário cotidiano. Notemos, por exemplo, que é comum dizer que alguém em
desgraça tem sorte negra e que pessoas
que erraram têm passado negro e
carregam em suas vidas manchas negras.
E cor da morte qual é mesmo? E a da miséria, da doença, da dor e da fome, não é
negra? O que significamos quando fazemos uma “lista negra”? É assim que na cultura em geral, no linguajar do dia
a dia, proliferam circunstâncias que dimensionam impressões que vão do clima até
economia, passando por temperamentos e atos místicos: nuvens negras, dia negro, humor negro, magia negra, página negra, câmbio
negro, mercado negro, ovelha negra, humor negro. É incrível, mas até mesmo sangue negro serve de referência à cor
da pele.
É interessante notar que há diferença entre o uso de preto e negro. Isso, aliás, é muito cultural, e difícil de explicar para
estrangeiros. Mas, mesmo para nós brasileiros presidem muitas sutilezas que
demandam cuidados especiais, pois uma coisa é dizer que alguém é preto e outra que é negro. Muito depende do tom da fala, mas, ao mesmo tempo, nem tudo
se explica pela garantia da palavra expressa. Muito remete a gestos, olhares e
até mesmo a movimentos corporais. Tudo depende do contexto, é verdade, e isso
exige também apuro quando a referência é positiva, pois há expressões que
qualificam dubiamente os casos: café ou chá pretos,
carros também; as mulheres sabem que é sempre elegante usar os famosos pretinhos básicos. E o que dizer de custar
ou ganhar uma “grana preta”?
Situações existem em que se prezam afetos e então
adocicam-se termos como moreninho, escurinho, marronzinho. O diminutivo,
contudo, não alivia muito quando se traduz a referência para a vida de uma
cultura que se diz democraticamente liberta de preconceitos, mas que, na
prática... na prática ou é preta ou negra.
Yulia Taits, designer gráfico e fotógrafa de Israel, decidiu criar um projeto fotográfico para enaltecer a beleza hipnotizante e única de pessoas albinas, pois para a artista, o albinismo tem uma estética pura e fantasiosa, como se tivesse saído de algum conto de fadas.
Sendo uma artista adepta ao Photoshop, Yulia decidiu abrir mão do software, com isso, mostrando a beleza pura e real.
As fotos foram feitas unicamente em tons brancos, sem adição de cor, o que prova que branco não é somente uma cor, pois possui diversos tons, segundo a fotógrafa.
Ao final da temporada 2 de Scream, fomos avisados que
haveria um especial de Halloween que responderia muitas de nossas perguntas.
Não sei quais indagações poderiam haver a partir dum show tão estapafúrdio, a não ser o porquê insistimos nele, mas, de
qualquer modo, ansiei pelo dia das bruxas, que sei ser no fim de outubro,
início de novembro – devo ser o único professor de inglês e fã de horror que
não sabe a data de cor.
Outro dia, vi as 2 horas do Halloween Special, de Scream. Meses após a conclusão da mais
recente onda de assassinatos envolvendo os adolescentes de Lakewood aka Murderville, Noah e um amigo estão
faturando horrores com quadrinhos a respeito do serial killer. Que tenha perdido a namorada, enterrada viva, e
esteja usando a tragédia de seus amigos pra fama e bufunfa não importa. E como
culpá-lo, se nenhum dos envolvidos guardou sequela alguma ou conseguiu que seus
pais estivessem presentes em suas vidas? Esse é o mundo que você tem que
aceitar em Scream; e isso é apenas um dos motivos pelos quais slashers não funcionam bem em séries – o
próprio Noah o dissera no primeiro episódio da temporada um.
Mas, aceitamos isso e mais. Noah está com bloqueio de
escritor e pra demoli-lo seu editor oferece a ele e convidados uma viagem a uma
ilha, onde existe uma mansão, em que uma série de assassinatos foram cometidos
por uma garota mascarada. Ocultando esse “detalhe” dos amigos que, como ele,
quase foram exterminados por um maníaco mascarado, todos vão à ilha. Os pais
nem procuraram obter referências sobre o lugar. Aliás, Brooke perdera o pai no
massacre da temporada 2 e seguia vivendo independente, mesmo sendo menor. Uma
peneira tem menos furos que Scream, a Série.
Pouco depois da chegada, os assassinatos começam, ninguém
esperaria diferentemente. Se for pelo critério das decisões estúpidas, não
teríamos chegado ao fim do primeiro capítulo há 2 anos, então deixemos isso de
lado. O Halloween Special funciona melhor no terço inicial, quando mais mortes
ocorrem. Uma vez dentro da mansão, a maior parte das personagens é do elenco
fixo. Como imaginar que a MTV eliminaria Noah (eu pararia de assistir!), Emma,
Audrey ou Brooke? Assim, depois do surto inicial de mortes, o episódio fica no
blá blá blá, revelações e descobertas nada novidadeiras pra fãs de slashers e clima de suspense que prova
ser mais alarmismo do que fato. Esse episódio meio Jason encontra Os Dez Negrinhos desvia da mitologia que a série tentou criar (mas é confusa demais
pra se ater), mas deixa a deixa pra temporada 3, já anunciada, embora pareça
que será júnior, apenas 6 episódios.
Fãs não se decepcionarão. Novatos
não ficarão perdidos. E entretém.
Rejeitada por ser albina, jovem africana encontra paz em Jesus: “Deus me fez bonita”
A mãe da jovem Christine Nabukenya morreu quando ela tinha apenas oito anos de idade, durante o parto de um de seus irmãos.
Ela temia ir à escola por causa de um estigma que carregava desde o nascimento, por ser uma albina nascida na África.
Na África Subsaariana, pessoas com albinismo foram perseguidas, mortas e desmembradas. Além disso, túmulos de pessoas albinas também foram profanados.
Os curandeiros (bruxos) africanos disseminaram as superstições que as partes dos corpos de albinos contêm certos poderes mágicos. Segundo suas crenças, quando essas partes do corpo são usadas em seus rituais, essa “magia” é liberada e traz prosperidade a quem realiza o procedimento.
Por outro lado, as pessoas com albinismo também foram rejeitadas ou mortas pela razão oposta: eram apontados como amaldiçoados ou “pessoas que trazem má sorte”.
Também existe a crença de que “o albinismo é uma punição de Deus” e que essa “doença” pode ser contagiosa. Essa era outra razão pela qual Christine temia ir à escola.
Após a morte de sua mãe, Christine foi encontrada pela missão ‘Every Child Ministries’ (ECM) e se envolveu em seus programas de sábado, dedicando-se à leitura da Bíblia, artesanato e alfaiataria.
Com seu envolvimento no ministério, ela acabou encontrando o amor de Deus e sua verdadeira identidade como filha dEle, por meio de um relacionamento com Jesus. Agora, ela quer transmitir essa verdade para outras crianças que se sentem desprezadas pela sociedade onde vivem.
Aos 14 anos, Christine exala confiança e hoje sonha com uma carreira profissional bem sucedida. Seu objetivo é se matricular em uma universidade para se tornar designer de moda e escritora, de acordo com a ‘ECM’.
Ela também quer se envolver em programas de caridade para que ela possa “ajudar as crianças esquecidas da África a se tornarem crianças felizes e restauradas”, como ela.
“Adoro conversar com as crianças sobre o albinismo. Eu tenho lhes trazer a auto-estima que eu tenho porque isso me ajudou a superar momentos difíceis. Se não fosse por isso, eu seria estigmatizada e não iria à escola”, contou.
Hoje Christine fica maravilhada ao ver provisão de Deus e a maneira como Ele transformou sua vida.
“Se não fosse por Ele, talvez eu não tivesse ido à ECM. Creio que Ele me fez sentir bonita como eu realmente sou. Muito obrigado, Deus. Eu bendigo o seu nome”.
Como os álbuns sobre os quais quero comentar acumulam-se,
nada melhor que uma dobradinha. O elo é que ambos são de cantoras estreantes.
Izzy Bizu ganhou apoio da BBC, incentivo de críticos como
artista promissora e até descolou vaga pro badalado festival de Glastonbury.
Dia 2 de setembro, saiu A Moment Of Madness, que em sua versão Deluxe tem 17
faixas e é excessivo; ela ainda não possui força/material pra tantas canções.
Com o pop voando à frente da velocidade da luz, a inglesa
soa retrô, porque remete à fase da primeira Adele ou quando Amy imperava com
seu Back To Black. Mas Bizu carece da potência vocal da superestrela Adele e
quanto a Amy nem é preciso comentar, porque nem Adele lhe faz sombra. Faixas
como Diamond e What Makes You Happy atestam essa falta de madureza vocal. Nessa
última, arremedo de blues, a comparação chega a ser dolorosa; JJ Thames daria
conta, mas quando o material é um bocadinho mais denso, Bizu derrapa. Dessa
canção adiante, a sucessão de faixas apenas OK torna A Moment Of Madness quase
entediante.
Pra material mais pop, a moça manda bem, e isso não é
defeito. A Criação precisa de boas cantoras pop. White Tiger é uma delícia com
suas palminhas e piano saltitante. Skinny é pastiche Motown com pandeiro e
tudo; é muito legal, mas mesmo nesse bom momento, uma voz mais maturada faria
bem. Adam & Eve é chamber pop
anos 60, com o tipo de guitarra que Belle & Sebastian ama. Gorgeous é
totalmente patinável com seus metais gospel.
Oh, gorgeous, everyone around you just adores ya; não paro de cantar. Com
boa edição nos arquivos, dá um EP muito agradável, porque mesmo momentos em que
ela descaradamente tenta imitar Amy, como Lost Paradise, soam simpáticos.
Potencial existe; esperemos
que não ocorra o mesmo que com Dionne Broomfield, outra promessa de sucessora
de Amy, que naufragou em 2011 e ainda não conseguiu lançar outro LP.
Flora Martinez nasceu em Montreal, filha de mãe canadense
e pai colombiano. De país e pais bilíngues e tendo passado anos em Bogotá, a
jovem é trilíngue e atua como atriz em ambos países. Em setembro lançou-se como
cantora com álbum homônimo.
Sua pegada é transformar canções dos mais variados
estilos e épocas em elegantes melodias jazz ou bossa-nova. Fica tudo bem chique
e apropriado pra vernissages, com muito sax, pistão e vozinha maviosa. Não é
novidade, porque os franceses do Nouvelle Vague e a argentina Sarah Menescal já
fazem isso, mas é muito agradável. Fãs de lounge,
tipo Simona, também gostarão.
A dezena de regravações transforma em jazz/bossa números
dançáveis como Happy (Pharell Williams) e Safe And Sound (Capital Cities);
rocks, como Gimme Shelter (Rolling Stones); indie rock, como The Scientist
(Coldplay); R’n’B, como Let’s Stay Together (Al Green, mas repopularizada nos
80’s por Tina Turner) e até a já jazzística The Captain Of Her Heart, sucesso
oitentista do suíço Double (pra quê, não se sabe bem). Sua proficiência linguística
permite-lhe revisitar clássicos latinos como Los Aretes de la Luna (Célia Cruz)
e o pop-rock argentino do Soda Stereo, cuja De Música Ligera é uma das
exceções: vira meio downtempo eletronizado,
boa pra chill ins e chill outs.
Com xilofones, pianos, bongôs
e violões, Flora Martinez relaxa, proporciona bom ambiente, deixa reuniões mais
sofisticadas. E está no Youtube:
O Domingo Espetacular visitou o menino que nasceu sem a maior parte do braço direito e emocionou a internet ao ganhar uma prótese. O vídeo já foi visto mais de cinco milhões de vezes. Nele, o menino Vanclever, de 13 anos, ganha um braço de super-herói. Conheça essa história de superação e aventura.
Conheça a bonita história de superação que vem de Boraceia (SP). Dorivaldo tem Esclerose Lateral Amiotrófica, mais conhecida como ELA. A doença piorou rapidamente, depois de dois anos do diagnóstico, e ele perdeu os movimentos do corpo e também não consegue mais falar. O incrível é que nada disso o impediu de realizar um grande sonho: o de escrever um livro.
Rachel acorda. E bebe um tipo de veneno que lhe dá a sensação de estar sorvendo um suco de urtigas. À medida que o líquido desce pela garganta, ela sente a pele queimar, bem como a formação de uma trilha de marcas vermelhas. Horas mais tarde, gotas abrasadoras caem do céu e, em um clube local, ela assiste pessoas se banhando em piscinas da substância irritante. Para eles, não é problema algum, mas se Rachel ousar tocar a substância, sofrerá a dor da queimadura.
Não se trata de nenhuma bizarra realidade alternativa. Este é o mundo da britânica Rachel Warwick, que é alérgica a água. É um mundo em que banhos de banheira são situações de pesadelo e que um mergulho no mar é uma ideia tão pouco atraente quanto deslizar por um tobogã de gilete. "Essas coisas são minha ideia de como deve ser o inferno", diz a mulher.
Qualquer contato com a água, incluindo seu suor, deixa Rachel com irritações doloridas, inchaços e coceiras que podem durar horas. "É como se eu tivesse corrido uma maratona. Fico cansada e tenho que me sentar para recuperar a energia. É horrível, mas seu eu chorar as coisas só pioram: minha cara incha", explica.
A condição é conhecida como urticária aquagênica. Está certamente longe de ser prazerosa, mas você deve estar mais interessado em saber como Rachel consegue sobreviver. Afinal, todos os dias algo nos lembra de que a água é a necessidade mais básica da vida - tanto que a Agência Espacial Americana (NASA) baseia sua busca por vida extraterrestre na existência de água. Pelo menos 60% do corpo humano é composto de água. Um adulto de 70kg contém 40 litros do líquido.
Mas a água em nosso corpo não parece ser um problema para quem sofre da urticária aquagênica. As reações alérgicas são detonadas pelo contato com a pele e ocorrem a despeito de temperatura, pureza ou salinidade. Mesmo a água destilada várias vezes vai causar problemas.
"Quando as pessoas sabem da minha condição, elas fazem perguntas do tipo 'como você faz para comer ou beber' ou 'como toma banho'. A grande verdade é que você precisa aguentar a dor e seguir a vida", diz Rachel.
A doença confunde os cientistas tanto como nós. Tecnicamente, a urticária aquagênica não é uma alergia, pois é uma provável reação imunológica despertada pelo corpo em vez de uma reação a agentes externos, como pólen ou amendoins.
Uma das primeiras teorias para explicar como a doença funciona é que a água interage com a camada mais externa da pele, composta majoritariamente de células mortas e substância oleosa que mantém a pele úmida. Contato com a água pode fazer com que esses componentes liberem compostos tóxicos, levando a uma reação imunológica. Especialistas também sugerem que a água simplesmente pode dissolver elementos químicos na camada de pele morta, fazendo com que eles penetrem em camadas mais profundas, onde causam a reação imunológica.
A teoria mais ousada é que a condição é deflagrada por diferenças de pressão que acionam por osmose o alarme imunológico quando a água deixa a pele.
Quaisquer que sejam as causas, porém, a urticária é uma doença devastadora e que pode transformar vidas, como explica o dermatologista Marcus Maurer, fundador da ECARF, um centro alemão de estudos de alergias. "Tenho pacientes que sofrem de urticária há 40 anos e que ainda acordam com manchas e edemas diariamente", explica.
Pessoas que sofrem deste mal pode desenvolver ansiedade ou depressão, preocupando-se constantemente com o próximo ataque. "Em termos de qualidade de vida, é um das piores doenças de pele que se pode ter", acrescenta Maurer.
Rachel tinha 12 anos quando foi diagnosticada, depois de perceber uma irritação na pele quando nadava. Ela não foi enviada para testes. O método padrão de diagnóstico é manter a parte superior do corpo molhada por meia hora e ver o que acontece. "Meu médico conhecia a condição e me disse que o teste seria pior".
Sobreviver com a urticária não é um problema, mas suportá-la diariamente é outra história. Em períodos de muita chuva, por exemplo, Rachel não pode sair de casa. Atividades corriqueiras como lavar a louça precisam ser executadas pelo marido. Ela limita os banhos a apenas um por semana. Para minimizar o suor, ela usa roupas leves e evita exercícios.
Assim como outras pessoas com a condição, Rachel bebe muito leite, já que a reação não é tão ruim quanto com a água. E ninguém sabe o porquê. O tratamento até agora é feito basicamente através do uso de anti-histamínicos, e para entender a razão da pouca evolução da busca por uma cura, é preciso primeiro entender o que acontece durante uma reação.
Tudo começa quando células imunológicas na pele, conhecidas como mastócitos, liberam proteínas inflamatórias (histaminas). Em uma reação imunológica normal, as histaminas são extremamente úteis, fazendo com que os vasos sanguíneos se abram o suficiente para a entrada de glóbulos brancos, que atacam invasores. Mas durante uma reação à água, tudo o que você recebe são os efeitos colaterais: os fluidos causam inchaços na pele. Ao mesmo tempo, as histaminas ativam neurônios cuja principal função é fazer com que tenhamos coceiras. Isso provoca as lesões conhecidas como vergões.
Na teoria, os anti-histamínicos deveriam funcionar todas as vezes, mas na prática as drogas tiveram resultados mistos. Em 2014, Rachel foi enviada para o ECARF, em Berlim, como parte de um documentário. Médicos sugeriram que ela tomasse uma dose maior do remédio. Ela fez isso e, a pedido dos médicos, nadou em uma piscina. Não funcionou. "Fiquei me coçando loucamente e parecia que tinha uma doença horrível de pele", lembra Rachel.
Mas, desde 2008, o ECARF vinha estudando uma alternativa aos anti-histamínicos, concentrando-se nos mastócitos - mais precisamente no que poderia acionar a produção de histaminas. Estudos em laboratórios apontaram para um culpado - o anticorpo IgE, responsável por alergias "verdadeiras", como a pólen ou pelos de animais. "Em vez de reagir a algo do mundo exterior, essas pessoas (os portadores de urticária aquagênica) estão produzindo IgE em resposta a algo acontecendo no interior de seus corpos", diz Maurer.
Tudo do que precisavam era de uma droga que pudesse bloquear os efeitos do IgE. E já havia uma no mercado. O Omalizumab foi originalmente desenvolvido como tratamento para asma. "O laboratório que produzia a droga não acreditou quando pedimos para usá-la", lembra o dermatologista. Em agosto de 2009, os médicos testaram o Omalizumab em uma mulher de 48 anos com outra forma rara de urticaria, acionada por pressão. Por três anos, a paciente desenvolvia irritações na pele com o mínimo toque. Era ruim ao ponto das irritações aparecerem até quando se vestia ou penteava.
Mas após apenas uma semana de tratamento, os sintomas diminuíram sensivelmente. No final de um mês, desapareceram. Desde então, os cientistas descobriram que o Omalizumab é eficaz contra mesmo as formas mais obscuras de urticária. "Essa droga mudou o jogo completamente", diz Maurer.
Um de seus primeiros pacientes foi um professor que reagia ao próprio suor. Não podia mais dar aulas porque seu rosto inchava durante as aulas. Mas apenas uma semana de tratamento mudou sua vida.
Isso deveria ter representado um final feliz para Rachel. Mas há um porém: a droga ainda não passou por testes clínicos extensivos que comprovem sua eficácia e, por isso, sistemas de saúde pública como o NHS britânico não custeiam seu uso. Esse foi o problema que Rachel encontrou em 2014 quando teve o Omalizumab receitado. Sem cobertura do NHS, a droga custaria milhares de euros por mês.
Como a urticária aquagênica afeta apenas uma em cada 230 milhões de pessoas no mundo, isso significa que apenas 32 pessoas no planeta sofrem da doença. Um número insuficiente para grandes testes clínicos. E a droga está chegando ao fim de sua patente, o que faz com que a Novartis, a empresa que fabrica droga, não pense investir pesadamente em testes ou mesmo no desenvolvimento de novos tratamentos. A barreira final para cuidar da urticária aquagênica não é científica, mas sim econômica.
Pelo menos por enquanto, Rachel vai ter que esperar para realizar o sonho de poder fazer natação. Ou dançar debaixo da chuva.
Mais um cidadão albino morto e mutilado na Zambézia perante ausência do grupo de protecção criado pelo Governo
Um homem com problema de pigmentação da pele, identificado pelo nome de N. Câmara, de 39 anos de idade, foi assassinado por indivíduos ainda a monte, há dias, em Quelimane, província da Zambézia, e o seu corpo foi achado sem os membros superiores.
As autoridades policiais não forneceram pormenores sobre o homicídio praticado com recursos a catanas, mas avançaram que o mesmo aconteceu a 06 de Novembro corrente, na localidade de Zavala.
O Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) disse que a vítima é de nacionalidade moçambicana e decorrem diligências com vista a neutralizar os autores do crime.
Este caso, aparentemente isolado, sugere que a barbárie contra as pessoas com uma anomalia orgânica caracterizada por ausência ou grande falta de pigmento na pele, nos olhos, nos pêlos e no cabelo continua no país.
Aliás, em Setembro de 2015, o Governo criou um grupo multissectorial de trabalho para encontrar medidas de protecção às pessoas com albinismo. A equipa, liderada pelo Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, foi criada numa altura em que os albinos eram alvos de perseguição para fins ainda não apurados.
Volvido mais de um ano de trabalho, o referido grupo ainda não apresentou, publicamente, o que tem estado a fazer.
Enquanto isso, os agentes da Lei e Ordem detiveram oito indivíduos acusados de assassinar um cidadão na sua própria residência e ferir gravemente a mulher, no último sábado (12), no distrito de Magude, província de Maputo.
A Polícia naquele ponto do país disse ao @Verdade que os presumíveis bandidos, com uma pistola em punho, apoderaram-se ainda de um carro e diversos bens do casal.