Roberto Rillo Bíscaro
Jazz e sons vintage
misturam-se ao pop desde os anos 60, quando a explosão dum certo tipo de pop music tornou obsoleta a sonoridade
pré-50’s. Talvez isso tenha ocorrido em algum momento da carreira dos Beach
Boys ou Beatles, provavelmente com os álbuns Pet Sounds e Revolver.
Nos anos 80, a New Bossa britânica fusionou pop com jazz,
samba, ritmos latinos, funk, soul, reggae, ocasionando grupos chiques e
deliciosos como Style Council, Everything But The Girl, Working Week, Matt
Bianco, Sade (Sade Adu é a vocalista), Swing Out Sister, Kid Creole And The
Coconuts e mais. Sting tanto flertou com o jazz, que em 86 lançou o duplo Bring
On The Night, repleto de jams e até
botando rap na jogada. Mesmo na seara
radiofônica mais comercial ouvia-se pop jazzificado de quando em vez, nos
sucessos esporádicos do suíço Double (The Captain Of Her Heart) ou do inglês
Fine Young Cannibals (Johnny Come Home) ou na onipresença do Simply Red.
Com a crescente
eletronização e danceficação do pop, culminando com o verão do amor acid house, de 1989, um subgênero que
florescia no underground londrino
ganhou relevância: o acid jazz.
Grupos como Brand New Heavies, Incognito, Jazzanova, Jamiroquai e até nosso conterrâneo
Marcos Valle destacaram-se com sua mistura de jazz, soul e eletrônica. Nas
rádios, estouros como o Soul II Soul (que não era acid jazz, mas usava elementos) e Cantaloop (Flip Fantasia), enorme
sucesso do inglês Us3, marcaram o período de ouro do subgênero: os anos 90.
Nos 2000’s, o termo acid jazz praticamente se extinguiu e desde a loucura rave, a dance eletrônica tem se fragmentado em tantos sub-subgêneros que fica até difícil manter-se em dia. Grime, electro, UK Garage, drill’n’bass, drum’n’bass, dubstep, nossa, um turbilhão. A decadência do acid jazz não significou que DJs tenham parado de remixar sons vintage com batucada digital.
Eles
foram pros anos 40 e começaram a samplear e remixar (n)o farto material das big bands e do swing, aquela forma de dance music dos anos de Grande Guerra.
Porque as bisavós urbanas dos EUA e Europa já batiam cabelo e balançavam o bundão!
Confira essa playlist e já na
primeira faixa visualizará o que afirmei:
Desenvolvido em clubes da Europa continental, o estilo foi batizado de electro swing, porque realmente é distinto do finado acid jazz, que embora misturasse electronica, enfatizava muito a mixagem com o funk. O electro swing é mais pegar diversos estilos de música eletrônica e usar com samples de música antiga, tipo jazz ou até mesmo blues. Em 2010, a Time Out chamava a atenção pro subgênero, que já teve até hit. We No Speak Americano, da dupla australiana Yolanda Be Cool, já foi usada fartamente até no programa do Rodrigo Faro.
Olha donde saiu a versão electro swing:
Tenho ouvido bastante, especialmente na esteira, 2 coletâneas de electro swing.
Best Of Electro Swing By Bart&Baker tem 40 faixas e é
fatia da farta produção dos DJs franceses Bart e Baker, que mixam sons da
década de 20 a 50 e se apresentam de smoking
e cartola. Pra quem só conhece We No Speak Americano e nem sabia que era electro swing, essa coletânea é
excelente porta de entrada, porque quase tudo são montagens sobre as faixas
originais, num processo bastante similar ao que fez o Yolanda Be Cool. Você
terá big bands, Fred Astaire, Gene
Kelly, as Andrews Sisters, tudo em ritmo mais moderninho e mais dance ainda. Um monte de canções
obscuras, porque muito antigas, que podem até te dar vontade de se vestir de
melindrosa, fazer cabelo pega rapaz e fingir que está numa festa em Manhattan,
pré-Crise de 29.
Confira o site de Bart&Baker pra conhecer a discografia:
Electro Swing Of Berlin requer grau um bocadinho mais
avançado de imersão no universo de beats
repetitivos da dance music. Dentre as
33 faixas, também há os remixes e releituras mais “simples”, como o Musik For
Kitchen, que transforma Smoke On The Water, do Deep Purple, em folk bávaro, mas
também há os 8 minutos de Jazz My Ass, que repetem 2 ou 3 acordes dalgum jazz
acompanhados com batida house
minimalista e um diálogo igualmente repetido.
Não estou familiarizado com
eles, mas no Youtube há alguns mixes:
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