Roberto Rillo
Bíscaro
Músicos
aprimoravam suas habilidades no circuito de shows. O ofício era aprendido por
imitação de ídolos e ralação dura. Desde os anos 60, o número de cantores e
instrumentistas com educação formal só aumenta, vide o caso do elitista rockprogressivo, nicho pronde foram vários alunos de conservatórios e escolas de
arte. Maldosos afirmam que os músicos clássicos frustrados foram fazer prog.
No mundo do jazz e
R’n’B o fenômeno da educação formal em música pode ser mais recente, devido ao background socioeconômico de muitos
artistas, oriundos da classe baixa. Diploma não assegura brilho ou carisma, mas
no caso de Ashleigh Smith, ter estudado música clássica em universidades na
Georgia e no Texas ajudou imenso, porque o treinamento somou-se a uma vida
cercada de música via audição de gente como Ella Fitzgerald e Sting e a herança
de uma família incentivadora, porque composta por gerações de musicistas.
A jovem de 27 anos
trabalhou como vocal de apoio de Chrisette Michelle e em 2014 tirou o primeiro
lugar no Sarah Vaughan International Vocal Competition. Educação + ralação
valeram a pena e Ashleigh conseguiu contrato com a gravadora Concord, por onde
estreou em LP com Sunkissed, em agosto.
A norte-americana
chamou seus companheiros de classe, guitarrista Joel Cross e baixista Nigel
Rivers, para produzir as 10 faixas e juntos escreveram meia dúzia, as demais
são regravações. Além do mérito da boa qualidade, Sunkissed traz sangue novo e
bom pro jazz.
O álbum abre com
um dos 2 destaques, a faixa Best Friends, onde batida de bossa nova coexiste
com batuquinho afro; muito brejeira. No final um solaço de gaita; é como se
Steve Wonder participasse de um álbum do Matt Bianco. E por falar no influente
músico cego; é ele quem informa parte da sonoridade de Smith, que traz a
malemolência do R’n’B e do funk pro jazz. Into The Blue é o outro pico de
Sunkissed: lenta arrasante com naipe de metais e baixo funk. Se esse trio
amadurecer junto, poderemos ter obra-prima a médio prazo.
As demais
composições não atingem o nível desse par, mas estão longe de fracas. A
faixa-título está na medida pra fãs de sophistipop
e dá pra se perder em seu labirinto de vocalizações e contracantos. The World
Is Calling é urban jazz irresistível
pra nós que crescemos com Everything But The Girl e toda aquela elegância da
Quiet Storm e do jazz popificado pra tocar em FM descolada.
Pra conferir o
excelente fraseado jazzístico da moça, ouça o que ela ostenta em Blackbird,
cover dos Beatles, gorjeando “blackbird, fly” de vários jeitos. Sara Smile –
dos outrora desvalorizados Daryl Hall e John Oates – é desbluezada e acelerada
um tiquinho; ficou bem legal. Love Is You é cover da ex-patroa, mas Ashleigh
ainda não tem porte pra Chrisette Michelle. Dá pra ouvir independentemente, mas
se você conhecer o original... Pure Imagination, a capella com camadas de
vocais põe a versão original, do filme A Fantástica Fábrica de Chocolate, no
chinelo. Ser melhor que Gene Wilder não é lá grande vantagem, mas, tá valendo.
Promissora estreia
de vários jovens talentos; oxalá frutifique com fartura.
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