segunda-feira, 28 de novembro de 2016

CAIXA DE MÚSICA 246

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Roberto Rillo Bíscaro

2016 tem sido generoso para fãs de rock progressivo, com excelentes lançamentos de veteranos como Jon Anderson, grupos de longevidade intermediária como o Big Big Train e de promessas como o Paradigm Shift. Novembro pare outro grande álbum: The Similitude Of a Dream (TSOAD), segundo da The Neal Morse Band, formada por Neal Morse (guitarras, teclados e vocais), Mike Portnoy (bateria e vocais), Randy George (baixo e vocais), Eric Gillette (guitarras e vocais) e Bill Hubauer (teclados e vocais).
Por terem pertencido a bandas famosas em seus nichos – Morse, às prog Spock’s Beard e Transatlantic e Portnoy à prog-metálica Dream Theater – TSOAD era aguardado com inquietação, aquilatada quando o baterista bombasticamente afirmou que o álbum era perfeito em todos os sentidos e ultrapassava as 2 obras-primas das quais participara: Scenes From a Memory, do Dream Theater e The Whirlwind, do Transatlantic. Descontado o costumeiro exagero de Portnoy – se The Whirlwind é obra-prima, Close To The Edge é o quê? Bíblia Sagrada? – TSOAD é excelente, praticamente sem gordura e livre de vinhetas-enchem-o-saco. E isso não é pouco, para um CD duplo, de 23 canções, que dura mais de hora e quarenta.
Neal Morse não perde oportunidade de pregar sua fé religiosa e encontrou no autor britânico John Bunyan veículo perfeito. TSOAD é conceitual, baseado no influente The Pilgrim's Progress From This World To That Which Is To Come; Delivered Under The Similitude of a Dream (1678). Conhecido simplesmente como The Pilgrim’s Progress essa alegoria cristã narra a trajetória de um homem comum, Christian, que vai da Cidade da Destruição (nosso mundo) para a Cidade Celestial (O Paraíso).
O vibrante álbum não dá conta de todo o alento da obra, mas parte da trajetória está lá, cantada por todos os membros da banda. Essa alternância vocal, aliada à perícia musical de todos dão enorme vantagem à The Neal Morse Band. Quando isso é combinado com composições inspiradas e bem arranjadas e dispostas, o resultado é alta qualidade.
A curta Long Day começa a jornada, estabelecendo o leitmotiv temático e musical. O narrador diz que apesar de ter sido um dia exaustivo, tem que viajar, porque sua vida não está boa. Antes de ser reprisada no encerramento do álbum-viagem, a melodia reaparece em diversos momentos, especialmente a partir da lenta Sloth, no segundo disco, preparando a narrativa para sua conclusão.
Dado o passo primeiro, entra a esfuziante Overture, instrumental pra fã nenhum de prog sinfônico botar defeito. Neal Morse ser guitarrista e tecladista talvez explique o equilíbrio entre os dois instrumentos, que disputam o favoritismo de muitos prog-adictos. Sou da facção que prefere corredeiras e cascatas de teclados e TSOAD proporciona momentos assim, bem como ótimos solos de guitarra. Na Overture isso já está codificado.
TSOAD nunca cai na mesmice: quando a semilonga Breath Of Angels ameaça começar a encher, entra coro feminino gospel à Pink Floyd, solo de guitarra e orquestra. O álbum vai de momentos quase pastorais a quase prog metal. We Have Got To Go vai de AOR à Extreme a solaço de teclado à Tony Banks, fase início dos 80’s. The Neal Morse Band não copia essa ou aquela banda-madrinha do prog rock, mas certamente traz elementos de quase todas as bem-sucedidas comercialmente. Veja se Slave To Your Mind não lembra Genesis e The Who tocando em Thick As A Brick. Aliás, I’m Running, é bem Who. The Neal Morse Band conhece a tradição à qual pertence. The Ways Of a Fool é um primor de harmonias vocais à Beach Boys e melodia Beatles, aquele Pop-Hall popularizado pelos históricos britânicos. Difícil resistir e não cantarolar, estalar dedos, bater pé ou repetir o oooh oooh oooooh. Freedom Song tem entonação guitarrística country; The Man In The Iron Cage é blues rock pra metaleiro macho cantar batendo o cabelo (ui!) e Shortcut To Salvation orgulharia Elton John nos anos 70, com sax e tudo.
The Mask inicia com piano clássico pra abrir a seção de encerramento da peregrinação, que passa por momentos céleres até culminar nos quase 10 minutos de Broken Sky – Long Day Reprise, que ao contrário da Overture, é lenta e solene; afinal Morse nos mostra a luz divina e isso requer clima semicontrito de louvor. 

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