Roberto Rillo Bíscaro
2016 foi inclemente com fãs de música pop: perdemos 2
ícones. David Bowie e Prince são o tipo de artista cuja influência será sentida
por décadas. A postagem-dobradinha de hoje tem como elo o fato de que ambos os álbuns
só foram possíveis graças à Sua Alteza Púrpura.
Judith Hill excursionara com astros do porte de Michael
Jackson, Elton John e Steve Wonder antes de cair nas graças de Prince e gravar
com ele seu álbum de estreia, Back In Time (2015). Se o título já não deixasse
claro o saudosismo, bastaria constatar que a faixa de abertura, As Trains Go
By, abre chiada como pré-diluvianos discos de vinil. E olha que esse funk midtempo é a canção que mais elementos
modernos tem! A faixa-título, que fecha o álbum, é meio 90’s e isso também é
uma das épocas menos saudosistas da coleção. O restante é um amálgama de funks
anos 70, que podem ser midtempo, como
My People ou Turn Up ou de descadeirar, como Jammin In The Basement ou de
incendiar a genitália como Wild Tonight.
Há o jazz sexy de Love Trip, que os fãs de Gal Costa
perceberão pertencer à mesma dinastia d’A História de Lili Braun, do Grande
Circo Místico. Há blues com guitarra rebolante (Cry, Cry, Cry), retro-soul
(Cure) e baladas: mais pesadas e trip-hoppadas, como Angel In The Dark ou leves
com delicadeza de cordas e teclas, como Beautiful Life.
Tudo muito bem feito, com
voz forte, participação de Prince em diversas canções, Back In Time não se
aventura, mas entrega o que mais importa: boa música.
Se o blog já destacou uma polaca do batuque, por que não uma dinamarquesa do funk? Ida Nielsen estudou baixo na Escola Real de Música, em Copenhague, e tocou em 2 bandas de apoio de Prince: 3rdeyegirl e The New Power Generation. Alcunhada Bassida ou Ida Funkhouser, lançou seu terceiro álbum, Turnitup, em agosto, apropriadamente em memória do gênio baixinho.
E que tributo! Turnitup abunda em pop-funk incandescente,
especialmente nas faixas mais rápidas, mortalmente sensuais. Heart Of Stone -
funk com percussão de samba e rap, cheia de gemidos e gritos marotos – é
descarga absurda de libido, que deveria ter atingido o topo de todas as paradas
e lá estar até hoje. Outras pauladas são Showmewhatugot, com seu vocal
dancehall e I Really Think Ur Cute, com linha fatal de baixo, profuso num álbum
que em seus momentos mais sexy lembra o trabalho da brasileira Fernanda Abreu
nos 90’s e início dos 00’s. Como ficar quieto em Fatty Papa Eddy ou One Time?
O filé de Turnitup são as faixas saltitantes e esse
efeito está até nas midtempo como The
Librarian e Throwback. Nielsen hibridiza seu funk ao incorporar reggae (Free Ur
Mind) e latinidad rumbada em Sorry.
As lentas têm um quê indiano (How Many Times e What), embora caminhem em
direções estéticas dessemelhantes.
Reconfortante saber que
Prince esteja tão bem representado nessa esfera terrena.
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