Roberto Rillo Bíscaro
Houve quem torcesse o nariz
pra armação ilimitada que é o roteiro de April Fool’s Day (1986), alegando que
o público fora enganado. Lembro-me de ter visto numa tardia sessão da Globo e
não me senti ludibriado. Devo ter até achado genialmente criativo nos meus
tenros 20, 21 anos. Não revelarei a plot
twist, quem quiser que veja A Noite das Brincadeiras Mortais, exemplar temporão
do pós-modernismo que se tornaria regra depois da revolução de Pânico.
A desconstrução ou reconhecimento irônico das convenções dos diversos subgêneros do horror engessou-se e já é convenção de tão usada. São tantos simpáticos e sabichões Noahs que o efeito, além de torná-los tão clichês quanto o aparente maluco que prenuncia a carnificina subsequente, é de realçar a estupidez do grupo. Afinal, serem exterminados a despeito de contarem com experto nas regras é jeguice demais.
Este ano, o australiano Scare Campaign já apresentou
certo ludismo no roteiro. Outro exemplo de April Fool’s Day pós-Scream é o
norte-americano Fear Inc. (2016), que apresenta roteiro-matrioshka, saca
aquelas bonecas russas que você desatarraxa uma e tem outra igual dentro e
assim vai?
O roteiro de Luke Barnett parte de ideia iluminada: uma
companhia, a Fear Inc. que proporciona experiência de terror customizado ao
cliente. Quem acha absurdo, acesse aqui a matéria do Portal R7 sobre uma
empresa norte-americana que oferecia simulações de sequestros. Há suspeitas,
todavia, de que o terror da Fear Inc. não acabe assim que o pacote contratado
se conclua. Parece que clientes tendem a desaparecer com frequência após os
programas. Isso está implícito na sequência-homenagem a Scream da abertura,
onde uma jovem foge apavorada num estacionamento. E vejam onde foi parar a
menininha de Pequena Miss Sunshine; morrendo antes de começar filme C, oh dear.
Corta prum grupo de amigos que dentre eles um aficionado
por filmes de horror, veste máscaras de Jason; usa camiseta com as listras verde-vermelho
de Freddy Krueger. Ao saber sobre a empresa, ele quer a todo custo um pacote,
mas a namorada e o casal parceiro tentam dissuadi-lo, até que o sangue começa a
rolar. Ou não. Ou sim. Ou não. Ou. Pós-modernamente envolvendo reviravolta da
reviravolta e referindo-se de Psicose a Jogos Mortais (até mais do que eu
gostaria), Fear Inc. perde muito da graça em potencial pelo desenvolvimento
grosseiro da boa ideia.
As personagens são tão estúpidas e os atores tão
estridentemente ruins que nos sentimos enganados, quando descobrimos que não
morreram! Ou sim. Ou não. Ou.
Diverte um pouco, mas, de
boa? Se não viu ainda, prefira investir o tempo em April Fool’s Day: pelo menos
é anos 80.
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