Roberto Rillo Bíscaro
Demorei meses pra me animar a ver Rua Cloverfield, 10.
Mesmo ciente de que não era sequência do excelente Cloverfield (2008), mas
“sucessor espiritual” (WTF?), segundo a produtora Bad Robot, temia a inevitável
comparação com o primeiro. Excesso de zelo, porque esse thriller-sci fi-survival-(e mais um subgênero que se contar estrago
a surpresa pra quem não viu)-film é
bem eficiente em seu 2 primeiros terços e no último até perde um pouco da
graça, mas conecta a película ao universo de Cloverfield e abre espaço e
imaginação pra continuação atrás de continuação.
Michelle briga com o namorado e, como de costume, perante
adversidade, a jovem foge. Na estrada, sofre grave acidente e ao acordar
descobre estar encerrada num porão. Seu captor é Howard, ex-mariner, com muitos
parafusos a menos. Ele lhe explica que o mundo fora invadido por russos ou
marcianos e tudo estava contaminado. Como não sabemos se é verdade, a
identidade de Howard permanece dúbia, porque embora maluco, prepotente e
intempestivo, ele pode ter realmente salvo a vida de Michelle. Um jovem
coabitante corrobora a história, mas o modo como ele trata os companheiros como
prisioneiros e imagens exteriores de céu azul problematizam sua versão.
A dinâmica entre as 3 personagens no bunker é o melhor de Rua Cloverfield, 10, que em alguns momentos
remete a paródia de sitcom de família
feliz, porque o cenário lembra bastante esse bem-humorado subgênero ianque e há
sequência em que os 3 parecem estar se divertindo às pampas ao som de I Think
We’re Alone Now – minina, tô passado, o original não é da oitentista Tyffany!
Mas, a tensão é perene, porque Howard é instável demais e
claramente guarda um segredo, além de um barril de poderoso ácido. A situação
faz com que Michelle cresça como personagem, à moda da arquetípica Ripley, de
Alien, O Oitavo Passageiro (1979). O moço só serve mesmo pra temperar a tensão
entre Howard e Michelle, habilmente interpretados por John Goodman e Mary
Elizabeth Winstead. Nossa, que estranho ver o Fred Flintstone de pirado!
Há uma ou outra barbeiragem, tipo o ácido derreter metal,
mas quando tiozão cai de cara só aparecer machucado periférico, mas de modo
geral, tudo é bem feito até a resolução (ma
non tropo), que, não estraga o filme, mas leva-o prum caminho que
particularmente não me interessa tanto, numa linha mais pra sci fi de luta, que de científico tem
pouco; é desculpa pra porrada mesmo.
Não possui o vigor criativo
do primeiro filme e nem sei se vai me interessar, caso siga na linha apontada
pelo final, mas Rua Cloverfield, 10 ainda dá bom caldo nessa nascente possível
mitologia.
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